Escritor
Quando imaginávamos que a pós-modernidade terminaria um processo que a filosofia começara na Grécia: o desencantamento do mundo, do mito à razão, da magia à lógica/ciência, eis que a famigerada globarbarização, calcada na radicalização e na instantaneidade das mídias, traz no seu bojo um novo tribalismo universal. E, a televisão é o principal veículo propagador - um mal necessário ou um bem corrompido?
Estamos quotidianamente presos, condicionados a cela quadrática da tela da TV. Um espectro terrível paira sob as antenas de nossas cabeças e caí sobre nossos olhos o paradigma marxista: a TV torna-se o ópio do povo! A televisão onipresente e subliminarmente impositiva é mais poderosa que os políticos e a Igreja (o que seria dos evangélicos sem as suas emissoras?). Aldous Huxley, e não George Orwell, acertou: a televisão não é um veículo tirânico, ela apenas nos mata de prazer. A televisão é o soma, a “droga da felicidade”, da imbecilização nesse Admirável Mundo Novo.
Somos uma nação de videotas. Mas não a única. A videotice é uma doença mundial. A televisão, ao contrário do que disse Ponte Preta, não enlouquece, mas, como cantou Arnaldo Antunes, emburrece. Não falo da TV ideal, mas da que existe ou, se quiserem, da hegemônica. Só no Brasil uma emissora, tem tanto poder. Imagine que na Itália ou na Inglaterra, quem não tem grana para pagar uma TV por assinatura, tem que se sujeitar apenas ao canal estatal, com programação regionalizada, muito pouco da grade é nacional. Aqui é o inverso, a programação é nacional, e os locais, regionais minguados espaços utilizados de forma vil como palanque eletrônico – vide a borboleta e corriola DEMente.
A televisão costuma idiotizar até quem nela aparece. Segundo Millôr, só um idiota se comporta com a maior naturalidade diante de uma câmera de TV. Daí a preferência pelo estilo bufônico entre os comentaristas de assuntos ponderosos e profundos. Eles precisam ser um pouco atores, um pouco clowns para chamar atenção para si próprios e tornar interessante o que dizem, pois a TV não suporta conversa mais séria, profunda, consistente. Natural, portanto, que tudo nela descambe para o circo, para o show business.
A turma da escola de Frankfurt e o Humberto Eco questionam os meios de comunicação de massa: “Integrados” ou “Apocalípticos”? Tecnicamente falando, sou um apocalíptico. Mesmo reconhecendo que se trata de um invento prodigioso, a televisão teve o seu uso degenerado: virou o El Dorado do merchandising, a usina de mitos bestiais e pateticamente narcisistas. Poderia e às vezes consegue ser a prometida “janela para o mundo”. Mas só às vezes. Basta consultar a programação ou passar um dia zapeando pelos canais: o lixo Impera. Se não tivesse uma assinatura, já teria morrido de tódio.
O que fazer para compensar sua lavagem cerebral e espiritual? Educar, atenuar os efeitos do soma, popularizar outras formas de entretenimento e fontes alternativas de prazer e oxigenação cerebral, e estimular o seu consumo, para que a flexibilidade mental não seja, como tantas coisas por aqui, um privilégio de poucos. Precisamos democratizar o elitismo.
Tábua rasa da falta de imaginação coletiva. A ignorância da informação fácil. A Televisão é como Demiurgo, um grande “Deus” contemporâneo, a forma criadora do Senso Comum - ligou tem que rezar e/ou consumir.
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