Por Flávio Rezende*
A questão religiosa é prato cheio para várias discussões e, suas nuances podem ter interpretações diferentes dependendo de regiões e culturas, mas, alguns aspectos encontram intercessão, como a importância de não roubar, não matar e não julgar.
No círculo social que pertenço e nos lugares que frequento, não costumo encontrar pessoas que roubam e que matam, já não podendo dizer o mesmo dos que julgam.
Neste ponto, aliás, assim como comer moderadamente e não ter tanta ganância com o tal do vil metal, o mandamento, ou seja, lá como prefira definir, não encontra necessária guarita e, todo mundo julga a torto e a direito, inclusive eu, sendo difícil conter tal procedimento, mesmo que constantemente relembrado por ordens místicas, seitas, religiões históricas e mestres iluminados.
Ontem, por exemplo, estava observando o comportamento dos julgadores do mensalão e, mentalmente os julgava também. Quando aparecia o Ricardo Lewandowski eu julgava ter ele algum segredo com o Lula e demais petistas e, que, caso julgasse contra eles, teria esse segredinho revelado. Quando o tal Toffoli também aparecia, julgava que ele devia gratidão a Lula por indicação tão bizarra e, lealmente votava sem pestanejar a favor do partido e contra os fatos.
Quanto aos demais ministros, julgava que putos da vida com tantas coisas mostradas ao longo do julgamento, queriam a todo custo condenar, mesmo que em alguns raros momentos, não coubessem algumas acusações.
E assim agimos na vida o tempo todo, julgando, julgando, julgando. Agora mesmo estava vindo para o trabalho e parei o carro esperando longamente para entrar na avenida principal. Enquanto aguardava pensava que alguns carros podiam diminuir a velocidade abrindo espaço para que pudesse avançar, coisa que faço constantemente e, como isso não acontecia, julgava ser os motoristas muito egoístas.
Se você parar para pensar, julgamos o tempo todo e a qualquer situação. Claro que uns julgam de maneira mais negativa, outros mais reflexiva, mas, de um jeito ou de outro, este ato está presente de maneira muito incisiva na vida de todos nós.
Assim como não é muito difícil seguir determinadas regras de conduta sugeridas por várias religiões, tentemos igualmente nos vigiar quanto ao eterno julgar, relembrando Mateus para reforço deste tópico, “Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós.” (Mateus, VII: 1-2).
E, complemento com o sensacional texto de André Luiz: “Amigo, examina o trabalho que desempenhas. Analisa a própria conduta. Observa os atos que te definem. Vigia as palavras que proferes. Aprimora os pensamentos que emites. Pondera as responsabilidades que recebeste. Aperfeiçoa os próprios sentimentos. Relaciona as faltas em que, porventura, incorreste. Arrola os pontos fracos da própria personalidade. Inventaria os débitos em que te inseriste. Sê o investigador de ti mesmo, o defensor do próprio coração, o guarda de tua mente. Mas, se não deténs contigo a função do juiz, chamado à cura das chagas sociais, não julgues o irmão do caminho, porque não existem dois problemas, absolutamente iguais, e cada espírito possui um campo de manifestações particulares. Cada criatura tem o seu drama, a sua aflição, a sua dificuldade e a sua dor. Antes de julgar, busca entender o próximo e compadece-te, para que a tua palavra seja uma luz de fraternidade no incentivo do bem. E, acima de tudo, lembra-te de que amanhã, outros olhos pousarão sobre ti, assim como agora a tua visão se demora sobre os outros. Então, serás julgado pelos teus julgamentos e medido, segundo as medidas que aplicas aos que te seguem”. ANDRÉ LUIZ - De “Comandos do Amor”, de Francisco Cândido Xavier.
Escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)
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