Por Flávio Rezende*
Tempos atrás sobrecarregado com tantas coisas e desencantado com a falta de mãos que pudessem ajudar na condução das ações humanitárias da Casa do Bem anunciei que fecharia a ONG e passaria tudo para a gestão do Conselho Comunitário do bairro de Mãe Luiza, em Natal/RN, onde moro e atuo.
O tempo passou, problemas burocráticos do Conselho Comunitário impediram a concretização da ideia e sigo com a Casa do Bem esperando outros cenários futuros.
Neste período relatado no início do presente escrito passei por um querido amigo nos corredores da UFRN, e ouvi do mesmo que esse lance de querer fechar a Casa do Bem era obsessão que estava sofrendo.
Obsessão para quem não sabe é a pessoa que “sofre a influência perniciosa de um espírito encarnado ou desencarnado”. Pois bem, hoje de manhã lendo os jornais vejo que um artista recebeu 25 mil reais de órgãos culturais federais, um banco e outras entidades para fazer uma enorme pedra de gelo com água do mar do bairro de Areia Preta e fazê-la derreter no Centro da cidade.
A justificativa do artista é a promoção da reflexão entre os bairros mas, o danado é que no lugar da reflexão o tal ato cultural/filosófico/moderno/intercultural etc. e tal promoveu mesmo foi indignação. O tal cubo de gelo derreteu ainda no local do congelamento e o dinheiro público esvaiu pelo ralo.
Caros leitores, confesso que devo estar mesmo obsidiado, pois tempos atrás achava essas performances uma coisa de gênio, maravilhosas criações de mentes diferenciadas e, agora, me perdoem a sinceridade, acho é muito desperdício de dinheiro público, que podia muito bem ser aplicado em coisas culturais mais futurosas e que realmente provocassem reflexões mais entendíveis.
Com 25 mil por exemplo, dava para publicar uns 6 ou 7 livros de autores locais e leva-los para debates nas escolas públicas com muitos benefícios para ambos os lados e um saldo magnífico de conteúdo verdadeiramente aproveitável.
Além de me questionar sobre alguns investimentos em cultura, também acho que estou obsidiado pelo fato de ter me tornado carnívoro tempos atrás. Durante 17 anos fui vegetariano e de uma hora para outra comecei a ter uma vontade enorme de comer caranguejo, terminando realizando tal ato e ampliando para galinhas, vacas, peixes etc. Até hoje estou desconfortável com essa mudança e desconfiando que o obsessor curtidor de frutos do mar e churrascaria ainda cerca meus atos gastronômicos.
A obsessão pode ser ampliada no espectro político do meu ser. Era um petista radical, defendia tanto Lula que até chorava quando alguém insinuava sua desonestidade e cheguei a brigar com várias pessoas num spa que iam votar contra Dilma na eleição anterior. No começo do mensalão ia todos os dias para uma padaria me juntar a um amigo petista para juntos formar banca advocatícia governista diante de outros amigos que baixavam o cacete nos bandidos.
No meio do mensalão, ouvindo atentamente o julgamento e vendo as provas palpáveis dos malfeitos, comecei a desconfiar que meus ídolos eram mesmo canalhas, tendo o espírito obsessor direitista ou reacionário como eles dizem, se apoderado do meu ser e, hoje, acredito piamente que Lula, Dilma, Dirceu, Vaccari e esse povo todo não só sabe de tudo, como ordenaram, se beneficiaram e planejaram essa safadeza toda, querendo se eternizar no poder e, isso, não aceito que seja feito, pois foram entronizados justamente para fazer diferente, direcionar o Brasil para o lado oposto dos malfeitos.
Então caros leitores, devo estar realmente sendo obsidiado por espíritos contrários a tudo que antes eu pensava, estando agora absorto na dúvida: os espíritos obsessores são do bem ou do mal?
Quanto ao vegetarianismo, confesso que gostaria de voltar a ser. Quanto a avaliação das artes modernas e algumas de suas babaquices sem futuro, deixa rolar para ver onde vai dar e, quanto a questão política, sei não, duvido muito que diante de incontáveis provas tanto do mensalão, quanto do petrolão e de tantos outros que ainda virão, meu obsessor esteja enganado. Acho que ele está é certíssimo em me colocar contra essa canalha toda, afinal formei ao lado do PT por muitos e muitos anos por ser contra a bandidagem que existia e não para tirar o rato azul e colocar o vermelho, só pelo simples fato do rato vermelho posar de santo popular.
O que precisamos hoje em dia é de progresso, emprego e renda e colocar todo o povo para trabalhar e não de uma política pseudo humanitária de submissão da população, criando massa de manobra no curral da pobreza e por debaixo do pano juntando grana para na vida pessoal luxar e na ação política enganar.
Obsessores do bem circulem por ai e extraiam desses férteis campos nacionais, o adubo para a semeadura correta para que no futuro possamos voltar a colheita das boas práticas e de uma ética verdadeira e saudável para nosso Brasil virar com orgulho, a pátria anunciada como líder em nosso planeta azul.
· * É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)
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