terça-feira, 7 de abril de 2015
Busto de prático que salvou Recife de uma tragédia será recolocado no Terminal Marítimo do Porto
Obra foi feita em homenagem a Nelcy Campos
que há quase 30 anos rebocou um navio em
chamas para longe da costa e evitou explosão
gigantesca
O busto do prático da barra Nelcy da Silva Campos será recolocado no Terminal Marítimo de Passageiros do Porto do Recife. A obra, do escultor pernambucano Demétrio Albuquerque, foi retirada do local por conta das obras de reforma do porto e voltará à exibição pública até o próximo dia 12 de maio. A data marca os 30 anos do feito heróico do prático Nelcy Campos. Em 1985, ele rebocou para longe da costa o navio petroleiro Jatobá, que pegou fogo e cujas chamas ameaçavam explodir o Parque de Tancagem do Brum, onde estavam armazenados 153 mil metros cúbicos de produtos inflamáveis.
A boa notícia foi dada depois de uma reunião entre representantes da Sociedade dos Amigos da Marinha (Soamar) e da Capitania dos Portos. Sensibilizados com a causa, o diretor dos portos do Recife, Olavo de Andrade Lima, e o capitão dos portos, Luiz Cláudio Lázaro, convidaram familiares do prático Nelcy Campos, falecido em 1990, para escolher o novo local para a instalação do busto. Ficou definido que a obra será colocada no lado externo da entrada do novo Terminal Marítimo.
“Agora, só precisamos agilizar os procedimentos de restauração e fazer a estrutura de sustentação para colocar o busto no novo local. Quem ganha com isso é a população de Pernambuco e as novas gerações, que vão conhecer a história desse herói”, diz o filho do prático, Nelcy Campos Filho. Segundo ele, também existe a ideia de colocar, na área interna do Terminal de Passageiros, um painel com um resumo dessa história.
No dia 12 de maio de 1985, o prático da barra Nelcy da Silva Campos evitou que parte da cidade fosse varrida do mapa ao rebocar para longe da costa o navio petroleiro Jatobá, que pegou fogo no Porto do Recife. A situação de risco começou por volta da 1h30 da madrugada de um domingo, quando um dos três tanques do navio explodiu, deixando a embarcação em chamas. Atracado no Porto do Recife, o petroleiro carregava 1.500 toneladas de gás butano, conhecido como gás de cozinha.
O pior é que o incêndio e as explosões em série poderiam atingir o Parque de Tancagem do Brum, que estava a 500 metros do petroleiro e armazenava mais de cento e cinqüenta mil metros cúbicos de produtos inflamáveis. De acordo com os técnicos, uma explosão no local destruiria tudo num raio de cinco quilômetros, atingindo os bairros de Santo Antônio, Recife Antigo, Boa Vista, Brasília Teimosa e Pina.
Todo o efetivo do Corpo de Bombeiros do Recife foi mobilizado para combater o incêndio, mas os homens não conseguiram debelar as chamas, que chegavam a 20 metros de altura. A situação era tão grave que o então governador de Pernambuco, Roberto Magalhães, foi acordado às presas e teve que deixar o Palácio do Campo das Princesas, onde morava, localizado no Bairro da Boa Vista.
Foi nessa situação que o prático da barra Nelcy da Silva Campos, então com 54 anos, foi chamado às pressas em sua casa pelas autoridades responsáveis pela Capitania dos Portos. Ele chegou ao porto por volta das duas horas da manhã e, com a ajuda de alguns auxiliares, começou um perigoso trabalho. Distribuindo as ordens, chegou a serrar dois dos nove cabos do navio petroleiro, que estava ancorado no Armazém A-1.
Um desses cabos, que foi amarrado a outro de 200 metros, serviu para prender o petroleiro no reboque Saveiro. Para que a saída do Jatobá fosse possível também foi preciso movimentar os navios que estavam na frente e atrás dele. Só depois desse difícil trabalho, a embarcação em chamas pode ser rebocada para alto mar, onde não representava mais perigo para os recifenses. O petroleiro foi deixado à deriva a aproximadamente cinco quilômetros da costa.
Ao voltar ao porto, já na manhã da segunda-feira, dia 13 de maio, Nelcy Campos foi recepcionado pelo governador Roberto Magalhães, pelos amigos e pela família, que esperava ansiosa. Ao chegar, ele declarou: “Nunca me vi em situação tão difícil e perigosa, mas pensei logo na população. Mesmo sabendo que poderia morrer, parti para a operação”.
No dia 29 de setembro de 2003, Nelcy Campos foi homenageado em uma cerimônia alusiva ao Dia Mundial do Marítimo. O Comando do 3º Distrito Naval da Marinha do Brasil mandou erigir um busto de mármore em sua homenagem, junto ao Terminal Marítimo de Passageiros, na Praça do Marco Zero. Com a reforma do Porto do Recife, a estátua, obra do escultor pernambucano Demétrio Albuquerque, foi tirada do local.
Nelcy da Silva Campos nasceu no Recife no dia 21 de janeiro de 1931. Trabalhou durante 25 anos como prático, ofício que aprendeu com o pai. Morreu no dia 27 de setembro de 1990, de causas naturais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário