Por Plinio Sanderson Saldanha
Escritor, artista plástico e produtor cultural
(Na foto de Hugo Macedo, o da direita)
Quinta insana (já consolidada no calendário beco-gregoriano), mesa repleta de personas agradáveis, prosas faceiras, lorotas a mil, sofismas político-ecológicos e verdes falácias. Na távora quadrática de Nazareth, reinava a mais-que-perfeita harmonia do kaos, papos paralelos ou todos ao mesmo tempo agora, tentando emplacar um discurso para plenária da galera,seja filosofia ufana ou cooptação lepidóptera, Alex, inclusive, treinava grito de saudação ao deputado seresteiro no ato de filiação ao PV, com Huguito fazendo a segunda voz. Questiúnculas insignificantes da geopolítica mundial eram esbravejadas, todas tendo como único culpado, o presidente Lula, na ótica do Dunga, claro. A sucessão da Aphoto também ganhava corpo, conspirações explícitas são desenhadas, no traço lépido do Sodré.
E não mais que de repente, uma figurinha fácil nos caminhos da pedra desse beco de lama, aborda Leozito, que conversava tête-à-tête com Eu-Gênio-Meio-kilo e arroubas de tiradas hilárias e toneladas de milacrias.
- Me dê quinze centavos!!! Disse a doidinha, incrédula.
Nosso escrevinhador caricatural, não se manifestou de pronto, mas sorrateiro, feito menino sapeca colocou uma mão (a outra segurava a piteira inseparável) no bolso e cuidadosamente tateou texturas, números, asperezas, tamanhos, finuras, separando moedas sobreviventes que lhe arranhava os bolsos desafortunados, com a destreza de quem já passou muito troco no armarinho Sodré de Marizinha, exímia quituteira de picolé de coco.
Há quanto tempo não ajudo o próximo, pensou reticente. Entregou para a pedinte, exatas três moedas de cinco centavos, despediu-se mentalmente dos quinze cents, que poderiam interar uma próxima carteira de cigarros, mas, com a consciência tranquila, crente de ter feito, exegeta como ele só, sua boa ação diária.
Ainda, falou em tom de sincera preocupação:
- Tome minha bichinha, vê se usa para se cuidar e num gaste tudo de uma vez, não, viu?
Desolada, a criatura que havia notado o tilintar doutras moedas restantes (e ficantes), talvez de maior valor do que aquelas garimpadas perspicazmente a peso de mais valia, mal criada sentenciou, irônica e atrevida:
- Ôme, danado, jogue logo na mega sena... Ôh, bicho amarrado!
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