Fabiano Pereira
Arquiteto
A Editora Saraiva lançou uma série de pequenos volumes intitulada Superdicas. São livrinhos de bolso com sugestões selecionadas para aprimoramento pessoal e profissional. Superdicas para vender e negociar bem, para torná-lo um verdadeiro líder, para administrar o tempo e aproveitar melhor a vida, são alguns dos lançamentos dessa bem sucedida coleção.
Pois bem, pretendo enviar este texto à editora, sugerindo um título que, sob minha ótica, tem tudo para se transformar num recordista de vendas: SUPERDICAS PARA SE TORNAR UM MUNGANGUEIRO PROFISSIONAL. Ao contrário dos títulos anteriores, onde se buscaram unanimidades nacionais – como é o caso da escolha do psiquiatra Flávio Gikovate que escreveu Superdicas para viver bem – esse previsível sucesso de vendas pode ser o resultado de uma coletânea de entrevistas realizadas em bares e restaurantes, após os primeiros goles do néctar de Baco.
Infectados por uma espécie de pandemia “enolinguística” globalizada, candidatos a enófilos, capricham no sofisma. Partem do princípio de que o tema agrada a todo mundo, porque é “chick” – coisa de “bacana”... É impressionantemente contagiosa essa tendência e está gerando um movimento de manada nunca visto antes em qualquer outro hobbie ou coisa do gênero. Pessoas que, numa degustação às cegas, não sabem distinguir um Barca Velha® de um Dom Bosco® falam com uma autoridade de fazer inveja ao temido cabo Garibaldi, ex-comandante da Polícia Militar de Caicó... Esses milhares de “especialistas” do mundo dos vinhos conseguem mais adjetivos para um único rótulo, do que os distribuídos por Chico Buarque para as mulheres, em toda sua obra. Acreditam possuir mais imaginação que Lewis Carroll no clássico Alice no País das Maravilhas. A consequência disso tudo, é que verdadeiras pérolas de alucinação autoral circulam na mídia, todos os dias, como o exemplo a seguir:
“...resultou num Tannat/Cabernet Sauvignon que tinha taninos tão aloprados que pareciam estar rodeados de tendões “marombados”. Sábio, o enólogo GGdM, introduziu a europeia Merlot para “despombalecer” tensões de tração e compressão lingual provocadas por esses viris taninos encarnados e arroxeados. As frutas vermelhas (morango, framboesa, groselha e cassis) foram parcialmente encobertas pelo esplendor das quase 550 noites de acalanto do melhor carvalho francês. Desse mimo, surgiram notas de couro de virilha ensebado, tabaco europeu não perfumado e cabaça queimada a marradas de cacete...”
Regiões produtoras, enólogos com talento visceral, tipos de uva, equipamentos de apoio, formas de degustação, harmonização com alimentos, são alguns dos grandes temas ligados ao fascinante universo dos vinhos. Os aspectos visuais, olfativos e gustativos são subitens do tema degustação e, por si só, geram inúmeros outros desdobramentos. Para quem leva isso a sério – degusta e estuda vinho com frequência – é uma experiência sensorial incrível, porém comedida. Já os mungangueiros, têm, sem exceção, um olfativo pra lá de especial. Esses narizes “treinadíssimos” conseguem captar aromas de frutas transgênicas, florais de Bach, ervas daninhas, especiarias da época dos descobrimentos, animais em extinção, entre outros. São milhares de aromas relatados e sempre acompanhados de adjetivos que dão o tom de glamour que o tema propicia.
“...esse extraordinário ‘vinho de corte’ ou ‘assemblage’ (Chardonnay 60%, Malvasia de Cândia 30%, Chenin Blanc 10%) privilegiado pela predominância da estonteante rainha Chardonnay, auxiliado pela maliciosa, libertina e mefistofélica Malvasia de Cândia – conhecida como a ‘venérea das uvas’ – resultou num vinho que tem a essência da mulher desejada. Já no primeiro gole, percebe-se com uma nitidez incontestável, a alma da fêmea que exala um mix de elegância e rebeldia por onde passa. Notas de realeza emprestada pela Chardonnay, que não encobrem ‘sustos’ de sensualidade e sexualidade, fortíssimos no retrogosto, oriundos da pervertida Malvasia de Cândia. Nas notas do meio, com personalidade ímpar, imerge um perfume que mistura sequilho seridoense com sabão de coco abafado; este último, comum nas partes baixas das fêmeas caiçaras. Ao atingir o clímax do resíduo líquido contido no fundo da taça, onde suspiram notas terciárias que possuem moléculas de maior densidade e podem durar até cinco horas antes de volatilizarem, aflora a força da velha Chenin. Nesse momento de nostalgia se apresenta, sem melindres, o aroma inesquecível do ‘caneco’ de Toinha Niquelada que, nos anos 80, ‘fazia ponto’ no Cabaré Skilab, em frente ao Armazém Pará da Rua Antônio Basílio...”
Maravilhoso e saudável alimento, o vinho, além de prazeroso, é importante coadjuvante na manutenção da boa saúde, portanto,
FALE MENOS E BEBA COM MODERAÇÃO!
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