A merenda da
Aliança para o Progresso
Ando
preocupada comigo. Estou percebendo que, quanto mais esquecida estou das coisas
do dia-a-dia, mais aguçada está minha memória da infância. Lembro-me de coisas
do “arco da velha”. Das duas, uma: ou é o stress do meu corre-corre ou é coisa
da idade e o meu primo alemão anda-me “sondando”.
Década de
1960. Menina. Já havendo passado pela alfabetização na cartilha do ABC e pela
Tabuada Aritmética com dona Mariinha, com direito a palmatória - pense num tempo
difícil -, eu estava pronta para ingressar no 1º ano primário no Grupo Escolar
Rural Nísia Floresta, minha primeira escola.
Na nossa
escola e acho que, como todas as escolas públicas daquela época, embora não nos
déssemos conta, tínhamos um ensino de primeira qualidade. Pela manhã aula
normal. À tarde, aula de trabalhos manuais (corte e costura, bordado, tricô,
crochê, pintura e desenho) até a algum tempo mamãe ainda possuía algumas peças
feitas por nós naquela época.
Lembro-me
que, às quintas-feiras, todos os alunos ficavam perfilados defronte a escola. Hasteavam
a Bandeira do Brasil e cantávamos o Hino Nacional. Depois, íamos ao pátio
interno para a sabatina cultural, em que era escolhido um aluno de cada turma
para “declamar” poesias de autores brasileiros. Foi aí que “conheci” Gonçalves
Dias na sua Canção do Exílio: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o
sabiá; as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá...”, e Olavo
Bilac no seu “Ama com fé e orgulho, a terra em que nasceste; criança, não verás
nenhum país como este!”. Ainda me
lembro das duas do começo ao fim. Assim como me vejo recitando.
Havia,
também, a merenda que era distribuída para nas escolas públicas do municio pelo
programa norte-americano Aliança para o Progresso, que, aos meus olhos e
paladar, era a coisa mais deliciosa do mundo. Porém, eu não tinha direito, pois
“era filha de gente rica e aquele mingau era só para crianças pobres”. Pense
numa injustiça dessas com uma criança! Mesmo assim cheguei a provar e me
deliciar algumas vezes, trocando, às escondidas, com uma coleguinha, o meu
lanche trazido de casa, pelo seu mingau. Há se fosse hoje!
Para o meu
consolo havia arroz doce de mamãe, que em nada lembrava o mingau da Aliança
para o Progresso, mas era a nossa merenda da tarde.
ARROZ DOCE NORDESTINO
Ingredientes
2
xícaras de chá de arroz agulhinha tipo 1 (NÃO LAVAR O ARROZ)
1
½ litro de leite aproximadamente
½
litro de leite de coco
1
xícara de açúcar (ou a gosto)
4
cravos
1
pedaço de canela em pau
1
pitada de sal
Canela
em pó para polvilhar
Modo de Fazer
Em uma
panela alta, coloque 1 litro de leite, o pau de canela, uma pitada de sal e o
arroz, leve ao fogo alto até levantar fervura. Abaixe o fogo e deixe-o ir
cozinhado, mexendo sempre.
Misture o
restante do leite, o leite de coco e os cravos e leve para ferver em uma
leiteira alta, e vá acrescentando, aos poucos, ao arroz sempre que necessário.
Acrescente
o açúcar ao arroz e vá adicionando os leites, sempre mexendo.
O tempo de
cozimento ajudará na cremosidade. Deve ficar com a mesma consistência de risoto,
bem molhado, cozido, mas firme.
Retire do
fogo, coloque em uma ou mais travessas, polvilhe com canela.
Sirva
quente ou gelado.
Até
domingo!


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