Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
Um homem muito sábio falou certa vez que o suicida ao buscar a morte não está propriamente querendo colocar um ponto final na sua existência. Com seu gesto, está, na verdade, procurando desesperadamente uma saída, um novo ambiente onde possa continuar os seus dias. Um novo lugar onde possa se situar longe das angústias, dos problemas que o estão atingindo com magnitude tal a ponto de instigá-lo a querer exterminar a própria vida. Por esse raciocínio, ao suicida não está faltando o desejo de viver. Acima do sentimento de morte se sobrepõe a vontade ardente, sobre-humana, irracional até, de buscar uma saída, uma porta que lhe ponha em contato com uma nova realidade de vida. Deixando de lado nessa questão aspectos filosóficos, religiosos e sociais, o que essas pessoas adquiriram, na verdade, foi uma noção equivocada de que o tempo e o espaço para elas acabaram, deixaram de ocorrer.
É como se, em linguagem militar, o campo de manobra do comandante não existisse mais. Ou por outra, é como se ele não tivesse mais nenhum espaço para operar com o seu exército em razão do maior poderio do inimigo. Em circunstâncias assim o que fazer? Para alguns é chegado o caos, o término de tudo; para outros, apesar das dificuldades, ainda há tempo de buscar alternativas, de retirar da mente o direcionamento que apontará para inúmeros outros caminhos. No caso militar, a rendição pode ser uma saída, uma operação que poderá embalar sonhos de vitórias futuras – apesar do clima de derrota se fazer tão presente. A História está repleta de casos e exemplos de grandes personagens que se tornaram grandes personagens pela busca incessante de novas saídas, de novos rumos, mesmo quando a realidade presente sinalizava para o fim, para a derrota, para a morte até.
Já o problema do suicida é que a sua luta se trava noutro plano. Num patamar, lamentavelmente, sem volta. Super dimensionando a extensão dos seus problemas, de seus traumas, de suas desconexões, o suicida lenta e inexoravelmente se encaminha para um beco sem saída, deixando de lançar o olhar para novos relacionamentos, novos horizontes – de onde poderá descortinar uma outra dimensão para suas dores. Deixando, assim, de vislumbrar as inúmeras soluções que existem para seus problemas. É o que os psicoterapeutas indicam como “fechar a janela da inteligência” – um eufemismo que significa fechar os arquivos do cérebro, da memória, torná-los inacessíveis para as incontáveis alternativas que ali nós podemos buscar. Quer dizer, as soluções existem. Os arquivos do cérebro estão prontos para apontá-las. Resta a essas pessoas tomar uma atitude: buscar.
A diferença nas pessoas está, então, em crer ou não crer, em enxergar ou não além da sua própria realidade. O que dita as reações da grande maioria – e do suicida em particular – é o problema que está à sua frente. Dominador, torturador, inclemente. Churchill, por exemplo, foi um personagem maravilhoso no sentido de olhar muito além do seu próprio horizonte. Para onde Churchill direcionava o olhar que vislumbrava a vitória em uma guerra que tudo indicava perdida? A realidade era de dor, de sofrimento, de caos. Onde subsistia nele uma chama, uma visão, uma resistência que ninguém via – e que acabou por contagiar um país inteiro, um povo em sua quase totalidade? Churchill estava convicto de que a vitória viria de longe. Na verdade, seu olhar estava fixo num horizonte muito além do doloroso cenário de guerra.
Sua fé e convicção atravessavam mares, oceanos, e repousavam noutro continente, fixando-se no poderio do emergente exército americano. Essa sensação de alento irrigava seus dias e suas noites, àquela altura tão sombrios, trazendo-lhe ao coração um sentimento de que a hora do povo inglês, embora aparentasse tardar, logo logo chegaria. Uma postura assim faz uma grande diferença entre as pessoas. E reforça a idéia de que para alguns está fechada a estrada da fé, da esperança, eventos que para estas se apresentam incertos, longínquos, inalcançáveis; já a outras pessoas é dado conviver com a fé, com a convicção forte, ininterrupta, de que dias melhores virão. De que a vitória, traduzida em paz e alegria, mesmo demorada, ocorrerá. Às vezes vinda de perto; às vezes vinda de longe. Que importa? O essencial é aprender a olhar além da própria dor para, assim, alcançar a vitória. É assim ou não?
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