sábado, 14 de junho de 2014

A chaga de Marinho














Por Minervino Wanderley*

O sucesso e o fracasso andam de mãos dadas. Assim, como se namorados fossem, tamanha é a proximidade. Não são raras as histórias que ouvimos sobre pessoas que conheceram a glória e foram merecedores de respeito, muitas vezes pelo mundo inteiro, e que depois, num átimo, desaparecem. Ninguém fala nelas, ninguém sabe onde andam, sequer sabem se ainda estão vivas, tamanho é o desinteresse.

Com Marinho ocorreu esse fenômeno. Surgiu do nada e se transformou no melhor lateral esquerdo da Copa do Mundo de 1974. Foi endeusado pelos homens, adorado e desejado pelas mulheres. Sua fama corria o mundo e a mídia não lhe poupava elogios. Digo isso com certeza porque minha mãe, Martha Wanderley Salem, era professora de alemão e Jair Paiva, então o “padrinho” de Marinho, levava revistas alemães para que ela traduzisse as matérias sobre o “Diabo Louro” – como na Alemanha era conhecido. Isso tudo porque houve uma negociação com Shalke 04 e o fato virou notícia principal nos jornais e revistas germânicas especializadas em esporte.

Marinho foi cidadão do mundo. Jogou nos Estados Unidos, ganhou dinheiro e lá sentiu a sensação de ser rico e poderoso. Mas Marinho era simples e não tinha a exata ideia do que agora representava para o esporte. Continuou jogando seu futebol e esbanjando o dinheiro que ganhava. Não se preocupou em fazer investimentos, pé de meia, essas coisas, porque, como todo ídolo, se julgava imortal. Imune às mazelas da vida. Infelizmente, veio a conhecer e conviver com isso quando parou de jogar: roda de aproveitadores, biriteiros e por aí vai.

Para piorar sua situação, Marinho foi procurar num amigo o ombro e os conselhos para a vida. Pobre Marinho. O amigo que ele escolhera era o seu pior inimigo, pois se fazia de amigo e quando era usado deixava nosso jogador mais perto do buraco que, sem saber, tinha começado a cavar. Esse amigo, que é facilmente encontrado em qualquer birosca é conhecido por muitos nomes: Branquinha, Água que passarinho não bebe, Caninha, etc. Seu nome mesmo era Álcool. E Marinho abusou de fazer uso dele.

Várias internações, visitas nobres, como Platini, Beckenbauer, nada fez com que ele criasse forças e driblasse esse inimigo. Foi inapelavelmente batido pelo álcool. O mundo do esporte perde um gênio. Os pais perdem um filho. Os verdadeiros amigos já choram de saudade. O RN perde seu maior nome do meio esportivo. Nós, que gostamos de futebol, ficamos órfãos.

Tem nada não, Marinho. Lá em cima você encontrará amigos de verdade e a bola rolará outra vez. Para a alegria de Garrincha, que era como você. Tudo sob o olhar complacente Dele, que era, sem dúvidas, seu fã.

*Jornalista

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