Passados quase 40 anos do fim de um dos mais importantes e emblemáticos movimentos de resistência e combate à Ditadura Militar no Brasil, a história do sofrimento dos moradores da região do Bico do Papagaio, no Sul do Pará, permanece sem ponto final.
Esta é a realidade que o professor da Universidade Federal de Goiás, Romualdo Pessoa, conta em sua mais recente obra, "ARAGUAIA: DEPOIS DA GUERRILHA, OUTRA GUERRA - A luta pela terra no Sul do Pará, impregnada pela Ideologia da Segurança Nacional (1975-2000)", que será lançada na próxima quarta-feira, 12 de novembro.
A solenidade de lançamento acontece no auditório da Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a partir das 18h, com a presença do autor, e integra a programação do XXII Encontro Nacional de Geografia Agrária, promovido pelo departamento de Geografia e o programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da UFRN.
A obra é uma continuação da pesquisa iniciada em 1992, que se tornou dissertação de mestrado em 1995 e foi publicado em 1997, "A Guerrilha do Araguaia - A esquerda em armas". É uma publicação da Editora Anita Garibaldi em co-edição com a Fundação Maurício Grabois.
Durante a pesquisa, o professor Romualdo Pessoa buscou compreender como os camponeses viveram nessa região marcada pelo movimento guerrilheiro e de que forma a repressão, que permaneceu na região, se abateu sobre os moradores.
Com base em documentos do Serviço Nacional de Segurança (SNI), do Centro de Informações do Exército (CIE) e do Centro de Inteligência da Aeronáutica (Cisa) —, Romualdo Pessoa constatou que boa parte dos conflitos que existiram ali teve a terra como elemento principal da disputa, mas que por trás disso havia uma rede densa de informações, o que permitiu estabelecer uma relação com a maneira como a área estava sendo monitorada.
O livro analisa a região onde aconteceu a guerrilha no período posterior ao movimento guerrilheiro, entre os anos de 1975 (final da guerrilha) e o ano 2000. Durante esse período, a luta pela terra, o advento de Serra Pelada e a organização dos camponeses, tornaram o Sul do Pará a região mais violenta do país. Por todo este tempo, o monitoramento dos órgãos de segurança estiveram presente na região e foram cúmplices e coniventes, e até atuantes diretamente, nos assassinatos de centenas de camponeses e de lideranças políticas, comunistas e religiosas.
Romualdo observa como toda a ideologia e práticas militares do regime ditatorial são mantidas na região, garantindo a impunidade para assassinatos de lideranças camponesas, sindicais, clericais que buscam defender os direitos da população mais pobre.
Saiba mais sobre o autor:
ROMUALDO PESSOA CAMPOS FILHO nasceu em Alagoinhas (BA), no dia 7 de fevereiro de 1957. Formou-se em História pela Universidade Federal de Goiás, após uma ativa passagem pelo movimento estudantil, tendo sido diretor da UNE entre os anos de 1984 e 1986. Lecionou na Faculdade de Araguaína no Tocantins, e, em 1995, concluiu o mestrado em História das Sociedades Agrárias, na UFG. Foi presidente da Associação dos Docentes da UFG e secretário regional da SBPC-GO. Atualmente, é professor de Geopolítica no Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) da UFG e membro da Comissão de Altos Estudos do Memórias Reveladas – Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985), vinculada ao Arquivo Nacional.
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