domingo, 7 de outubro de 2012

O IDOSO E O TRABALHO


Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)

                            Há tempos uma dramática situação se arrasta indefinidamente sem ter das autoridades e dos profissionais ligados à atividade uma resposta convincente ou alguma providência. Trata-se da questão que envolve o idoso e o mercado de trabalho. Pois, enquanto a Medicina e a Farmacologia trabalham ininterruptamente para alongar o tempo de vida dos mais velhos, deixando-os, portanto, a cada dia em melhores condições de saúde, o mercado de trabalho os estigmatiza e, na maioria das vezes, os pune com o não emprego, a não oportunidade, a não chance. Enfim, com uma rejeição desumana até – certamente “pelo excesso de dias”. Este segmento, que agregou ao longo do tempo conhecimento precioso e muita experiência, vem sendo deixado ao relento do processo de tomada de decisões na grande maioria das empresas, sofrendo, com isso, um corte profundo na auto-estima e uma desvalorização constante na renda e no estilo de vida.
                       É hora, então, de se perguntar: existe explicação para isso tudo? Tem explicação para este processo que, mesmo lento, porém de maneira inexorável, vem infelicitando e ceifando vidas de milhares e milhares de pessoas ainda em boas condições de trabalho? Lamentavelmente sim. Num período que abrange os últimos 20 a 25 anos, muitas transformações ocorreram relacionadas ao mercado de trabalho, principalmente no Brasil. Passamos praticamente, até os anos 80, por um regime de reserva de mercado no qual as empresas, na maioria dos casos, não se preocupavam muito a quem vender nem com a qualidade do que produziam. Na realidade, elas tinham muito mais pessoas interessadas em comprar do que a capacidade que elas tinham de produzir e de vender. Era um tempo de economia fechada ao mercado externo e de grande esforço exportador para gerar divisas necessárias ao pagamento da dívida.
                       É bem verdade que o pleno emprego não havia, mas as entradas e saídas de funcionários eram mais lentas, gerando, com isso, um “turn-over” até saudável. Portanto, era natural a permanência dos profissionais durante um longo período nas empresas, com a conseqüente valorização dos mais antigos. Com a abertura dos mercados, no início dos anos 90, a realidade mudou radicalmente. A concorrência aumentou, as empresas nacionais passaram a ter acesso ao “modus operandi” das multinacionais, pelo fluxo internacional que se estabeleceu, e pelo qual tinham de reciclar e treinar rapidamente seus quadros, colocando para fora os que não se adequassem às novas tecnologias, uma febre de renovação varreu as empresas – e aí os mais antigos dançaram. Foram prejudicados não só pela obrigatoriedade rápida de atualização, mas – e principalmente – pela necessidade imediata que surgiu de se economizar nas folhas de pagamento.
                       O negócio, então, era trocar o funcionário mais antigo, portanto mais caro, pelo mais jovem, de exigências salariais mais condizentes com a ocasião e com maior capacidade de aprendizagem da informática e de um novo idioma. Em seguida veio a globalização, sistema pelo qual os países que tinham maior capacidade de produzir mais e melhor a preços mais baixos ganhavam mais e mais mercados. Aí o peso dos custos sobre a folha de salários passou a ser ainda mais preocupante. Essas novas condições de mercado criaram um paradigma ainda mais forte relacionado aos idosos, pelo qual pessoas com idade entre 40 a 50 anos foram taxadas de velhas para muitas das atividades, enquanto as com mais de 50 anos passaram à classificação de idosas e até de ultrapassadas e obsoletas. Na outra ponta da questão, os progressos da ciência vieram acentuar a vida útil dos seres humanos, ampliando assim, cada vez mais, o conteúdo paradoxal dessa realidade.
                        Tem saída para esse difícil contexto? O melhor remédio, para alguns entendidos no assunto, tem sido o de cultivar, no ambiente de trabalho, uma postura que venha aliar a juventude à experiência, empregando jovens e mais velhos de acordo com o direcionamento de mercado adotado por cada empresa. Esse, portanto, é um caminho que tem todas as condições de recuperar a auto-estima das pessoas, além de criar um ambiente de trabalho saudável e motivador. No entanto, se faz necessário, para o atingimento desse objetivo, a quebra de todo e qualquer preconceito. Do contrário, a empresa passa a ser uma cultivadora de paradigmas, se tornando, logicamente, inabilitada para implementação de programa de tal natureza. Pelo que se vê, tudo se resume a colocar um pouco de coração no planejamento e na administração das empresas, sem desgrudar os olhos, é claro, do faturamento. Dará certo? Aí a resposta fica com o tempo.  

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