sábado, 21 de março de 2015

Carta ao Rei Salomão*


Francisco Edilson Leite Pinto Junior
Professor, médico e escritor

Majestade, quanta sabedoria!

Não sei por que, mas ontem à noite, resolvi ler, mais uma vez, as suas sábias lições no Eclesiastes. E a cada nova leitura, fico impressionado como ela é precisa, completa e, principalmente, atual...

Ah! Vossa majestade tem razão: vaidade de vaidades, tudo é vaidade!... E por pura vaidade, não conseguimos enxergar que o tempo é algo fantástico. Tão fantástico que há tempo de tudo debaixo do sol: há tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de derrubar, tempo de edificar; tempo de guardar, e tempo de lançar fora...

Há tempo de ser criticado, caluniado, injustiçado; mas há também tempo de perceber, após 720 horas, que as nossas convicções - que foram defendidas de forma séria, correta, sem câmeras e luzes, sem alardes (afinal, “o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade”) -,  tinham razão:  era inútil correr atrás do vento!

Aprendi isso, Majestade, com um poeta de pequenas frases, mas de um profundo ensinamento chamado Mário Quintana-, que certa vez percebeu que era inútil correr atrás das borboletas; cuidar do jardim é que faz com que elas venham até nós...

Pois é Majestade! Há pessoas que fazem um esforço enorme, preferem ir à França para assistirem o pôr-do-sol, quando bastariam recuar um pouco a cadeira, aqui em Natal, para contemplarem o crepúsculo todas as vezes que assim o desejassem... Mas, eu sei: o difícil é ser simples!

Simplicidade, que muitas vezes tem que estar associada à coragem... Coragem de enfrentar os cartéis, os feudos, a desumanidade, a desonestidade, a falta de ética, a impunidade... Coragem de assumir o comando e determinar que fica decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida e de mãos dadas marcharemos pela vida verdadeira...

Coragem, de tomar decisões impopulares, que desagradem a gregos e troianos, e que se for necessário: “Cortem o bebê ao meio e dê um pedaço a cada uma”. Pois só assim, seremos capazes de separarmos o joio do trigo; os farsantes dos verdadeiros; os mercenários dos verdadeiros sacerdotes...

Coragem de entender que o sábio é aquele que procura aprender, mas os tolos são aqueles que estão satisfeitos com a sua própria ignorância. Afinal, majestade, “se você deixar o machado perder o corte e não o afia, terá que trabalhar muito mais. É mais inteligente planejar antes de agir”...

                Coragem, para perceber que se alguém discorda de mim, não é meu inimigo. Essa pessoa, na verdade, me completa, pois me fez enxergar além do copo meio-cheio ou meio-vazio. Fez-me enxergar uma oportunidade de enchê-lo, de esvaziá-lo ou ainda melhor: de oferecer a quem tem sede...

Coragem, Majestade, para enxergar a nossa própria cegueira e ver que o amigo fiel é uma proteção poderosa: quem o encontra, encontra um tesouro de valor incalculável... Afinal, porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas aí do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante...

Coragem, Vossa majestade, de fazer e responder a seguinte pergunta: “ainda há possibilidade de reconciliação?” É claro que há. Embora, as cicatrizes da alma - que são piores do que as cicatrizes queloidianas do corpo-, demorem a desaparecerem, existe um grande antídoto - que não é a Betaterapia, nem muito menos a Corticoterapia, mas sim um simples e maduro pedido de desculpas! Desculpas pela imaturidade; desculpas por não ter-nos escutado... Desculpas! Desculpas!

Afinal, há tempo de espalhar pedras e tempo de juntar pedras; há tempo de guerra, e tempo de paz! É preciso saber que o “Ontem já passou, o amanhã ainda não veio, vamos vivenciar o presente”!

Um forte abraço, Majestade, e até a próxima...

*Texto do livro SÍSIFO APAIXONADO, que será lançado pela Editora Sarau das Letras, no dia 26/03/2015, às 18:00h, na livraria Saraiva do Midway Mall, Natal-RN.


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