domingo, 14 de abril de 2013

A VOLTA E SEUS MISTÉRIOS


Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)

                       Alguém já falou numa certa ocasião que “ninguém se perde nos caminhos da volta”. A expressão se refere a uma rota trilhada por alguém ao longo de um determinado período de sua vida que não deu certo. É também uma expressão que pretende tirar dos ombros dos que voltam o ranço do fracasso, do desacerto, da não conquista. É claro que ninguém se perde ao empreender o retorno a um lugar, a um posto, a uma situação deixada para trás em busca de um novo sonho. É claro que ninguém se perde. Entretanto, em que estado serão encontradas as realidades antigas, as amizades, os relacionamentos, se por acaso rompidos, esgarçados? Difícil o retorno, não é verdade? Muitas vezes acontece de a partida ser até festiva, entranhada de abraços, de efusivas comemorações. Será que a volta dar-se-á no mesmo diapasão, com o mesmo estrépito, a mesma intensidade?  Ah, a volta e seus mistérios....
                        Certa ocasião mantive contato, através de um dos meus artigos, com uma pessoa cuja volta estava se afigurando extremamente traumática. Era uma senhora, solteira, que decidira tentar a vida nos Estados Unidos. Para conseguir tal intento explodira quase todas as pontes que a ligavam ao Brasil. Indispôs-se com a família, com os amigos, largou o trabalho numa situação praticamente conflituosa – e partiu em busca de novos horizontes profissionais. Os relacionamentos? Ah, estes ficaram ao léu, esperando, quem sabe um dia, o seu retorno vitoriosa ou com o rabo entre as pernas. Sua chegada aos Estados Unidos aconteceu uma semana após o atentado às torres gêmeas, no fatídico 11 de setembro. De cara, pegou a ressaca de toda a onda de rejeição aos estrangeiros que varreu o país. De tons rosados no início, seus sonhos, após a chegada, passaram a ter um matiz enegrecido, violáceo.
                        Noites mal dormidas, promessas de emprego não cumpridas, horizonte nebuloso.... Começou a temer pelo futuro. Dinheiro escasseando, amigos envolvidos com suas próprias angústias e o contato com os americanos a cada dia mais seco, mais duro, mais árido, enfim. Certamente deve ter sentido saudade de papai, de mamãe, do aconchego dos amigos, da compreensão dos patrões. Seria hora de voltar? Mas como voltar? Como ultrapassar o terreno da humilhação e admitir o fracasso? Nesse momento, deu de cara, pela Internet, com um artigo meu que tratava do sucesso – e o preço, algumas vezes extremamente salgado, de se chegar a ele. Segundo suas palavras, a leitura do texto foi um verdadeiro refrigério, um grande alento naqueles momentos de amargura. A leitura, se não deu para sugerir uma atitude de imediato, pelo menos lhe restaurou a segurança interior e criou condições para refletir com serenidade.
                        Se voltou ao Brasil ou se permaneceu em solo americano não sei, não fui notificado. No mínimo se apercebeu, com a leitura, que a busca do sucesso cria, muitas vezes, situações difíceis de contornar – e deixa a volta, se necessária, e mesmo sendo possível, envolvida num carrascal de emoções de complexa operacionalidade. Isso acontece em outras plagas também. No casamento, nos negócios, numa sociedade e principalmente na política. Agora mesmo, com o fim dos embates eleitorais, tem muita gente se perguntando como empreender o rumo do retorno se as posições tomadas no caminho da ida tornaram quase impraticáveis as articulações na direção da volta. Ah, o retorno, a volta... As ruas, com certeza, estão no mesmo lugar; os móveis, as pessoas, os utensílios... Mas tudo está mesmo do jeito que era? Ou não será melhor seguir em frente e esquecer de onde se partiu? Ah, a volta e seus mistérios....    

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