(publiojose@gmail.com)
Na parábola do filho pródigo, contada na Bíblia, (Lucas, capítulo 15, versículo 11 em diante) de conteúdo bastante conhecido, fica esboçado o desejo muito forte, da parte de um dos principais personagens da história, em conquistar muito cedo a liberdade. Trata-se de um dos filhos de um próspero fazendeiro que não estava aceitando a realidade simples, bucólica, singela até, que vivia no campo. Ele queria rebuliço. Queria viver novas emoções, experimentar o que se passava no horizonte distante da cidade. As notícias chegavam até ele com cores fortes, dando conta do charme, do frisson, dos prazeres que a urbe oferecia. Assim, essas informações começaram a atiçar sua curiosidade. E o desejo de colocar a mão noutro estilo de vida se instalou, definitivamente, em seu íntimo. Só uma coisa ele não sabia: o preço que teria de pagar pela liberdade precocemente conquistada.
Os problemas começaram na divisão do patrimônio. O pai do rapaz não estava preparado para fazer a partilha da riqueza. Mas, para atender à vontade do filho, aceitou vender parte dos bens da família para antecipar a cota que cabia ao herdeiro tão ansioso. O desfecho da história todos conhecem: o moço pegou o dinheiro da herança e partiu para a cidade, onde torrou a fortuna inteira. Arruinado, teve que trabalhar. E, como não tinha nenhuma qualificação profissional, contentou-se com o primeiro emprego oferecido. Nesse momento o preconceito começou a falar mais alto e a sua condição de falido fez surgir a face cruel da frieza e da insensibilidade humanas. O rapaz, antes tão cheio de amigos e de garbosos companheiros da alta sociedade, fora contratado para tratar de porcos. Assim, de repente, viu-se rodeado apenas pela solidão do curral dos porcos e pelo fedor sempre presente dos animais.
Além do mais, cuidar de porcos era uma atividade desprezível. Segundo a tradição, eram animais impuros. Mais degradante ainda, e inteiramente impensável, era dividir com eles a comida, o que terminou acontecendo em razão da sua penúria financeira. Os porcos eram alimentados com alfarrobas, fruto, em forma de vagem, da alfarrobeira, árvore comum na Palestina. E as pessoas sem recursos, em caso de extrema necessidade, também recorriam a ela para fugir da fome. O moço chegara, assim, ao fundo do poço. E a ansiedade da juventude, enfim, cobrara seu preço. Agora, o que fazer? Como sair de posição tão humilhante? O filho decidiu, então, voltar ao pai. O consumo da alfarroba, na história do filho pródigo, representa o estágio mais dramático na luta de um homem pela sobrevivência, semelhantemente aos que ainda hoje, praticando uma rotina degradante, recorrem à lata do lixo.
Estes o fazem tão somente para continuar a ruminar sua miséria e indigência. Já o rapaz encontrou na alfarroba o desfecho doloroso pela busca ansiosa, insana até, pela liberdade, sem dispor ainda de uma estrutura psicológica condizente para tanto. Na Bíblia, há um livro de uma sabedoria imensa, o Eclesiastes, que diz em seu capítulo 3, versículo 1: “Tudo tem seu tempo determinado”. Antecipar o tempo pode acarretar prejuízos incalculáveis, além de dar início, precocemente, ao consumo de porções indigestas da vida. Portanto, retornar ao pai foi, antes de tudo, um gesto de maturidade. Uma prova de sensatez. Já o fazendeiro, no episódio, representa a figura do próprio Deus. Que se coloca sempre de coração aberto para receber – e perdoar – o filho que retorna ao lar paterno. Mesmo que este tenha decidido, por conta própria, antecipar seu tempo, causando ao pai, com isso, incontáveis prejuízos.
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