Públio José - Jornalista
(publiojose@gmail.com)
Muito se comenta no Brasil a respeito do alheamento do eleitor sobre as grandes questões, os grandes temas que envolvem a vida nacional. Pior: pesquisas, enquetes, levantamentos os mais diversos sempre afunilam para uma realidade inquestionável: a maioria do eleitorado nem se lembra em quem votou na última eleição. Além de comprovar o alheamento, a falta de memória do eleitor nos períodos posteriores às eleições, tal fato demonstra também a baixa qualidade do debate político e o desempenho pífio dos parlamentares no sentido de captar e manter acesa a atenção do eleitorado para as questões de importância ao dia a dia de todos. Seções sonolentas, propostas infantis, descabidas, dissociadas do interesse geral, chancelam e constroem o afastamento do brasileiro de tudo (ou quase tudo) do mundo político – e levam-no, além do mais, ao esquecimento impatriótico em quem votou no pleito passado.
Na qualidade de pessoas alçadas à condição de representantes, de porta vozes do povo (normalmente mais capacitadas, mais informadas a respeito de leis, projetos e tudo que envolve a rotina parlamentar), cabe muito mais aos políticos fazer por onde haja interesse da população do que se aproveitar da folclórica expressão “o brasileiro tem memória curta”. Ou será de interesse dos políticos, com raras exceções, manter o povo no desconhecimento do que se passa nos espaços parlamentares? Nisso aí talvez esteja a resposta a essa grande chaga nacional. Ou, quem sabe, nesse ponto, resida um grande impasse... Afinal, até hoje, não está comprovado se a pasmaceira da cena política brasileira está mais ligada ao baixo desempenho dos parlamentares ou à secular indisposição do brasileiro em participar da discussão de temas relevantes, muitos deles imprescindíveis. Nesse sentido, dois exemplos são gritantes.
Há quanto tempo rolam no Congresso as reformas política e tributária? E o brasileiro nem, nem. Serão, por acaso, assuntos desimportantes? Ou, quem sabe, tenha se apossado do brasileiro – por conviver longo tempo com uma realidade política que quase não lhe chama a atenção – a síndrome do boi manso, o boimansismo? Assim dito do fenômeno que registra as características de alguém que tem força e poder para alterar circunstâncias, mas se entrega a uma inércia, a um imobilismo de intrincada compreensão. Só assim se explica o comportamento do eleitor brasileiro diante de um contexto que lhe é sempre tão adverso – e tão necessitado, portanto, de sua adesão ao debate. E o boi manso? De jovem garrote agressivo, verdadeira força bruta, impetuosa, transforma-se em pouco tempo em dócil animal quando lhe jogam ao pescoço a canga da campinadeira ou a estrovenga do carro de boi.
E as manifestações de meados do ano passado, quando milhares de pessoas saíram às ruas para protestar por uma infinidade de mazelas praticadas pelos políticos em geral? Muita coisa se escreveu a respeito das manifestações, muita análise foi produzida, mas em um ponto todos concordam: os protestos pecaram pela falta de objetividade, pela profusão infrutífera de questões abordadas. Também aí um comportamento típico de boi manso. Quando se afoba, o boi manso solta coices e chifradas pra todo lado. Infrutiferamente. Falta-lhe foco, visão, objetivo definido para atacar. Passada a afobação, volta a ser o mesmo boi manso de sempre. Forte, robusto, poderoso, porém inerte, incapaz de defender seus interesses, quedado diante da esperteza do oponente. Das massivas manifestações do ano passado pouca coisa de concreto restou. A não ser o mugir do boi: mom, mom, moooooooommmmmmm...
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