Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
Os líderes estão deixando a cena. Tornando, lamentavelmente, a cada dia, o campo da liderança mais pobre. E nós, que estávamos acostumados com a presença de lideranças fortes no contexto político, nos sentimos, na medida da passagem do tempo, cada vez mais carentes de pessoas com capacidade de liderar, de exercer influência, de apontar novos caminhos, novos rumos. A árida realidade atual está difícil de aceitar, principalmente para os que chegaram a alcançar o exercício de lideranças marcantes como Getúlio, Prestes, Juscelino, Lacerda – e, no plano local, com nomes como José Augusto, Dinarte e Aluísio. Com todo respeito àqueles que estão despontando no cenário político, buscando, logicamente, ocupar espaços antes desbravados por lideranças que se foram, o nosso sentimento é de orfandade. Afinal, onde estão as lideranças? Qual o motivo de tamanho sumiço?
Na verdade, o que se presume, é que a marca da liderança esteja sendo modificada em sua essência. Pois é interessante se notar que hoje em dia, com as facilidades advindas da enorme diversidade de fontes de informação, está realmente difícil catalogar alguém como líder. Antigamente, pouco se conhecia do dia a dia, da rotina, das deficiências das lideranças. Tudo era envolto em um desconhecimento quase absoluto a respeito da individualidade e dos aspectos negativos que constituíam a personalidade dos líderes. Chegava a haver até um certo mistério cercando essas pessoas, uma aura que atingia as raias da santidade e da devoção, principalmente da parte dos segmentos mais carentes. Em relação a Getúlio Vargas, por exemplo, havia, nascido no seio do grande público, um relacionamento praticamente de pai para filho. Não é à toa que Getúlio era tido com o “pai dos pobres”.
Hoje em dia, as coisas se passam de maneira diferente. Quando alguém mal ascende ao patamar da fama, com chances reais de ser encarado como uma nova liderança, os veículos de comunicação se encarregam, escarafunchando a sua vida, de mostrá-lo por inteiro perante a opinião pública, exibindo com mais ênfase os aspectos negativos de sua personalidade, desconstruindo, com isso, o doce encanto que as pessoas passaram a lhe cultivar. Além disso, outros fatos se encarregam de demonstrar que não somente a cobertura da mídia em torno das personalidades faz a diferença nos dias atuais. E um desses fatos, se não o principal, diz respeito à tomada de atitudes e à defesa de bandeiras. Pois, hoje em dia, raramente, se vê alguém numa posição de destaque defendendo alguma causa. As personalidades de hoje são mais famosas pelas frivolidades que consomem do que propriamente pelas idéias que professam.
Na rotina dos famosos, o culto ao corpo, os passatempos estéreis, as mudanças constantes nos relacionamentos amorosos, e outras atividades igualmente não edificantes – mas, lamentavelmente, em permanente holofote na mídia – se encarregam de fazer a fama ser vivida sem compromisso social e em permanente estado de alheamento com a realidade. No campo político pior ainda. A esperteza, a corrupção, a roubalheira, a falta de conteúdo ideológico fazem das pretensas lideranças políticas modelos negativos para se seguir e para se espelhar. E o que mais incomoda nelas é a falta de tomada de posições. Ficam, na maior parte do tempo, em cima do muro, esperando o melhor momento para se posicionar e recolher, com isso, um bom dote de vantagens. É tempo, portanto, de saudades (pelos que se foram) e de espera no futuro. Por sinal, será um bom negócio cultivar a esperança?
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