Jornalista
paulo.correia@r7.com
Os últimos acontecimentos policiais em Natal, como roubos a banco e assalto em padaria, possuem algo em comum: eles afetaram diretamente as idéias da chamada classe média. A violência e a sensação de impunidade cresceram nesse começo de ano e atingiram a faixa da população que mora, em sua maioria, em bairros da Zona Sul da cidade. Pessoas que utilizam pouco o transporte coletivo e que não refletem muito sobre as condições de vida dos que vivem nas periferias.
As matérias nos telejornais do meio dia e nos periódicos são os exemplos do medo da classe média com os seus locais de trabalho e lazer. Uma sensação que começou em janeiro, com roubos em casas de praia e que descambou para o extremo dos tiros disparados dentro de uma padaria localizada no bairro de Petrópolis.
Nesse tempo, as redes sociais (MSN, Facebook, Orkut e Twitter) colaboraram com as notícias dos jornais. Com isso, a bomba relógio se armou e estourou nesses dias, com 1.500 policiais militares convocados para garantir uma sensação de segurança maior aos natalenses e aos moradores das cidades que compõem a chamada Região Metropolitana.
Observando todos esses relatos, fico pensando no poder da classe média. Se não fosse por essa parcela da população, muito dificilmente o Governo estadual e a cúpula da segurança pública iriam para os jornais falar sobre operações e barreiras policiais. 1.500 homens (com militares até do BOPE fazendo acontecer) não é algo muito comum por aqui.
Uma pena que essa disposição seja passageira. Midiática até. Perdoe-me quem pensa o contrário. Assaltos a padarias, farmácias e coletivos acontecem todos os dias e quase nada de efetivo é feito para coibir esses atos. O que ocorre agora é que essa violência atingiu as instituições e os pilares das nossas classe média e alta. Enquanto esses roubos, tiroteios e mortes eram perpetrados nos loteamentos afastados do grande centro e da nossa visão mesquinha, tudo valia. Agora ela bate a nossa porta e isso não podemos aceitar!
Por dever profissional, acompanho os jornais todos os dias e leio sobre assassinatos de jovens, envolvidos ou não, com o uso e tráfico de drogas. Observo que a idade desses meninos todo dia diminui. Antes, o envolvimento com os entorpecentes era com 19, 20 anos. Agora, com 12, 13 anos.
Adolescentes que perdem a vida por conta de dívidas de cinco, dez reais com traficantes, que brigam até a morte por times de futebol, e que não merecem muito de nossa atenção. Afinal, eles já estão moralmente mortos há muito tempo. Ceifados pelo preconceito por viverem em locais periféricos e que não oferecem o mínimo para uma boa infância e juventude.
Não sou contra essas operações de segurança. Longe disso. Somente quem já sofreu nas mãos de bandidos armados é que sabe o verdadeiro valor de um policial nas ruas. O que não aceito é esse tratamento midiático. Se vamos fazer operações contra o crime, que façamos corretamente. Colocar carros de polícia na frente de bancos ou em grandes avenidas não resolverá o problema. Um trabalho de inteligência e de investigação terá efeito muito mais frutífero.
É só uma opinião.
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