Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
Certa ocasião um parente meu, de férias por aqui, comentava sobre a facilidade de se dirigir em Natal. Vivíamos décadas atrás. Morador do Rio de Janeiro, narrava a tortura que era dirigir no Rio e de como era tranqüilo fazê-lo em Natal. O tempo passa e vemos hoje Natal com um sistema viário complicado. Aliás, retiro o dito. Natal é, ao contrário, uma cidade bem traçada, dotada de ruas e avenidas largas, ideais para o escoamento do tráfego de veículos. Seu trânsito ficou atravancado em função de décadas e décadas de omissão dos governos em relação ao crescimento da frota e, por outro lado, pela não realização de obras que preparassem o conjunto viário da cidade para uma demanda que cresce a cada dia. Daí que o atual sistema de ruas e avenidas de Natal está adequado para uma época que já se foi, que já passou. E o novo tempo que chegou encontrou a cidade despreparada, desaparelhada para tal fim.
A estrutura de então, planejada à feição para a frota de Simcas, Gordinis, Dauphines, Aero Willys, Fuscas e assemelhados, via desfilar, pela Natal dos anos sessenta, uma realidade na qual o ritmo de vida era perfeitamente apropriado ao sistema viário da época, com estacionamento em todos os recantos. No centro, por exemplo, a Rio Branco e a João Pessoa eram usadas, sem problemas de engarrafamento, como vias de mão dupla. O que foi feito, então, para adaptá-las à realidade atual? Nada. A não ser transformá-las em mão única, permanecendo-as com o mesmo rosto urbano, o mesmo traçado original. Outra questão interessante envolvendo o assunto em Natal – principalmente no âmbito do poder público – é que nenhuma discussão é levantada, que aponte solução inteligente, viável, descomplicada para os sucessivos engarrafamentos que atingem as várias regiões da cidade.
Há um estéril silêncio como se o natalense estivesse gostando do trânsito que enfrenta diariamente, ou, por outro lado, acomodado, anestesiado, sem forças para protestar contra a omissão das autoridades, sem ao menos exigir delas idéias, por mais simples que sejam, para minorar o problema. Enquanto isso, a frota de veículos aumenta a cada dia. Segundo dados de 2011 do Denatran, Natal conta atualmente com 282.319 veículos, incluídos nessa categoria automóveis, bondes, caminhões, tratores, caminhonetes, micro-ônibus, ônibus, motocicletas, motonetas, com exclusão de bicicletas, lanchas, barcos e carroças de tração animal, embora também contribuam para engarrafamentos. Como se vê, muitos veículos para pouco planejamento! Enquanto mundo a fora o problema faz parte das preocupações rotineiras das populações e autoridades, por aqui o tema passa ao largo incólume, altaneiro.
Soluções inteligentes, criativas, existem e que até dispensam o envolvimento direto do poder público. Uma delas é a construção de edifícios-garagem. Opção simples tendo em vista a dificuldade de estacionamento que a frota enfrenta, ficando a rodar um tempo acima do normal à procura de vaga, engarrafando mais ainda o que já está bastante engarrafado. Nesse sentido, cabe ao poder público trazer o assunto à discussão e incentivar a iniciativa privada a investir em edifícios garagem. Essa idéia resolve a questão? Não. Porém, sem onerar os cofres públicos, soluciona um problema gritante que a cidade enfrenta: a falta de espaços para estacionamento, fato que tanto prejudica a fluidez do tráfego. Essa, por sinal, é uma das bandeiras que quero abraçar, como forma de, pelo menos, ver o assunto trazido à luz, já que, por aqui, a discussão com frivolidades rouba tempo aos temas mais caros à cidade.
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