Por Flávio Rezende*
A vida de cada um de nós apresenta uma série de nuances que nos leva a reflexões diferentes e interessantes. Como dirigente de uma organização não governamental, mergulho em situações díspares, elevando meu astral quando os eventos são positivos e, submergindo em ondas baixas, quando os fatos são alienígenas a uma ética aceitável.
Passando pela praia de Areia Preta, momentos atrás, lembrei-me de um acontecimento envolvendo dirigentes de alto coturno de uma multinacional e funcionários jovens e dinâmicos, todos congregados em torno da feitura de um equipamento que seria entregue para usufruto da comunidade: um pequeno mirante.
A energia que pairou naquele dia foi tão envolvente, que a cada segundo da fantástica ação, as pessoas ficavam eletrizadas com o que estava ocorrendo. Esse mágico momento foi enfeitiçando cada um dos presentes, ao ponto de nos discursos, todos da empresa, tanto em nível de direção, como de obediência hierárquica, prometerem solenemente uma série de outros benefícios, tornando o sábado cada vez mais histórico e inesquecível.
E assim o equipamento foi concluído, as fotos tiradas, as falas ouvidas e, os abraços e olhares carinhosos selaram com a chave do bem, àquelas horas de convivência fraterna e humanitária.
Esse momento então passou e, os momentos seguintes, de espera dos novos bens anunciados e prometidos no calor e no amor do momento relatado, foram se mostrando diferentes, na medida em que as promessas não foram sendo cumpridas, com toda a magia construída naquele dia, cedendo espaço para cobranças e silêncios dolorosos do lado prometedor.
A mente pensava então, como ser possível que dirigentes de uma empresa mundialmente famosa, funcionários jovens e tão energizados, pudessem prometer publicamente algumas coisas e, depois, simplesmente silenciarem, não responderem e-mails, não retornarem ligações e não complementarem os elos que foram construídos em momentos prazerosos e sérios?
A realidade mostrou que um momento é um momento e outro momento é outro momento. Essa mesma lamentável falta de compromisso com a energia do instante anunciador é, pasmem, muito comum neste mundo em que estou gravitando.
Podemos encontrar facilmente situações afins no mundo da política, com personagens enfeitiçados pelas multidões eufóricas, prometendo mundos e fundos num momento e, os escanteando em outros. A seara do amor também oferta promessas de carinhos eternos nuns momentos e, desamor em outros.
E nesta órbita de refletir sobre as coisas que circulam em nossa via láctea mental, divido meus neurônios entre os bons pensamentos, reflexos das coisas boas que acontecem e que nos tornam mais fortes e felizes e, essas situações que nos animam a princípio, pois caso fossem reais, iriam beneficiar de maneira maravilhosa várias pessoas, mas, que, infelizmente, são mentiras, falsidades, conversas fiadas, embustes, farsas, fraudes, inverdades, lorotas, pabulagens e trapaças, que tiram nossas energias do bem e, nos remetem temporariamente ao submundo da descrença e da tristeza.
Apesar destes ardilosos, embusteiros, impostores, fingidos, dissimulados, pilantras e enganadores, sobrevivemos e renovamos cotidianamente nossa crença em um mundo mais justo, humano e verdadeiro.
Para sobreviver, devemos continuar crendo, nos que em todos os momentos, mantém a linhagem da seriedade e da verdade.
* É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)
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