domingo, 22 de dezembro de 2013

Trinta graus


Leonardo Sodré
Jornalista, escritor e artista plástico

Numa das muitas idas para pescar com os meus amigos e vizinhos da praia da Barreta, Mário Henrique e Lucina Guerra, no Jeep 1953 de Mário, comentei que o possante somente aguentava uma inclinação de até trinta graus, antes de virar.

Lucina ficou apavorada com a informação enquanto o Jeep se inclinava para vencer o areial da maré alta, em direção à praia de Malembá.

Em um sábado, quando voltávamos da pescaria, vale ressaltar, com o Jeep lotado de peixes, e Mário com o acelerador totalmente apertado – o bicho ia com bem 50 quilômetros -, chegamos a subida do terminal, onde se pega o asfalto para Barreta.

Maré alta, muitas inclinações...

Eu gritei enquanto segurava com o maior cuidado minha lata de cerveja:

- Trinta graus!

Lucina se apavorou e tentou compensar a inclinação do possante baixando a cabeça em direção a Mário.

Ora, todo piloto de jipe se considera um “expert” e com ele não foi diferente. Ficou “putim” com a minha observação e enquanto reclamava de mim por ter feito medo a Lucina, inclusive dizendo que se eu quisesse pescar que fosse no meu quadriciclo – que eu nem comprei ainda -, porque no Jeep ele não me levava mais.

No meio do imbróglio vi um Fiat Uno atolado na subida da ladeira e gritei de novo em dó maior, em meio às reclamações:

- O carro!

Aí foi que ele “pegou ar”. Ficou mais “putim” ainda e aos berros reclamou:

- Você pensa que estou cego? Filho de uma...

O restante do caminho fizemos em absoluto silêncio.

Chegamos para comer uma feijoada que Mércia havia preparado e quando ele resolveu ir ao banheiro eu gritei e me escondi:

- Trinta graus!


22 de dezembro de 2013.

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