Uma mulher sem identidade perambula por espaços públicos da urbe em busca de si mesma. Em cada cenário, assume um personagem (puta, louca, suicida, alternativa, viúva). Nesse vaguear, recita poemas e emite pensamentos. A transgressão às normas vigentes é seu estandarte. “Incontinências” é o fluir de ideias, a não aceitação de ditames, numa época em que o politicamente correto torna a sociedade mundial cordeirinha do Estado. É o não bater continência para o estabelecido, para o confortável, para o óbvio ululante.
Concebido na Oficina de Iniciação ao Cinema Digital, promovida pelo SESC/RN, o roteiro de Paulo Dumaresq foi, aos poucos, sendo formatado e a ideia original foi ganhando forma. Nos 11 tratamentos recebidos, cenas foram acrescentadas e o curta foi finalizado em 15 minutos.
Dumaresq encontrou no diretor de fotografia, Alex Régis, na atriz Camilla Natasha, e no diretor de produção, Davis Josino, os parceiros que precisava para dar vazão ao realizador reprimido que havia nele: “Desenvolvo roteiros desde o início da década de 1990, época em que iniciei também a escrita de textos dramatúrgicos. Na impossibilidade de realizar filmes na subdesenvolvida Natal de 20 anos atrás, o jeito foi salvá-los na memória do computador. Com a ascensão do audiovisual na cidade, chegou o momento de produzir obras fílmicas”.
Ao núcleo base, juntaram-se depois Vladimir Alexandre (assistente de fotografia), Nilson Eloy (captação de som, edição de áudio e mixagem), Alysson Régis (assistente de platô e iluminação), Ricardo Cavalcanti (assistente de platô), Anderson Santos (still), Adriano Azambuja (trilha original) e Bernardo Luiz (edição e finalização). A Música Popular Potiguar também corre frouxa na voz de Romildo Soares (“Algumas verdades sobre a mentira”) e Carlos Bem (“Desalmado”).
O roteirista e realizador foi buscar nos seus ídolos do cinema (Fellini, Pasolini, Godard, Bressane, Sganzerla, Jos Stelling) as referências que precisava para realizar um curta no limite entre o cinema alegórico e o marginal. Não à toa dedica seu primeiro rebento audiovisual ao cineasta Rogério Sganzerla. “Para além do enredo, o filme é uma homenagem ao cinema de autor, principalmente aos malditos do cinema underground”, comenta.
Tanto é assim que o curta apresenta sintomas do cinema marginal, como a narrativa fracionada e a rarefação dramática, afora a ruptura estético-formal-conteudística, marcas daquela tendência do cinema brasileiro, que ficou em evidência no período de 1968 a 1973. “Não é um filme convencional. Trabalhei com signos fílmicos o tempo inteiro. O curta tem um olhar semiótico que gosto de apreciar no cinema e fiz questão de usar em Incontinências. Por esse motivo, pode haver um choque na compreensão do espectador, um estranhamento incômodo ao olhar menos treinado na semiótica”, justifica o diretor.
O filme (re)visita cenários/locações da capital norte-rio-grandense, como a passarela de Potilândia, o Memorial Câmara Cascudo, o Parque das Dunas, o Beco da Quarentena, a praça André de Albuquerque, o cemitério do Alecrim, além das praias de Miami, do Meio e de Tabatinga. Mais papa-jerimum impossível. O resultado pode ser conferido na próxima sexta-feira (19), em sessões às 20h, 21h e 22h, no Bardallo’s Comida & Arte, localizado na rua Gonçalves Lêdo, 678, no centro histórico. A entrada é gratuita.
SERVIÇO:
O quê? Lançamento do curta-metragem “Incontinências”.
Onde? Bardallos Comida & Arte.
Quando? 19 de setembro, às 20h, 21h e 22h.
Quanto? Grátis.
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