quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Novas edições da Coleção Borges da Fonseca revela origem das famílias nordestinas



Do período colonial aos dias de hoje, milhares de histórias permeiam a genealogia de famílias que contribuíram para a formação do povo nordestino. Nesta quarta-feira (17), na Universidade de Fortaleza (Unifor), o médico e pesquisador Candido Pinheiro Koren de Lima, fundador do Sistema Hapvida Saúde, lança mais três volumes da Coleção Borges da Fonseca. Desta vez, a obra “Simões Colaço” une-se aos livros já lançados pelo autor; “Os Liras o nome e o sangue – uma charada familiar no Pernambuco Colonial” e “Albuquerque: A herança de Jerônimo, o Torto”. Juntas, as obras trazem à tona um minucioso e completo estudo genealógico, realizado nos últimos 20 anos pelo autor, e traçam os entroncamentos das famílias brasileiras, sobretudo do Nordeste, que perpetuam raízes mundo afora através de seus descendentes.

          Afinal, a formação do nosso povo é marcada por influências de diversas culturas, costumes e religiões que foram responsáveis por definir quem somos. Aspectos e ligações que podem até mesmo nos surpreender, como o fato de termos uma origem que nos enlaça com o povo judeu. Com as obras, o pesquisador Candido Pinheiro constatou que 97% da população nordestina, do período colonial e da atualidade, portam em si o sangue judeu, do negro muçulmano da África do Norte e muçulmano semita. Ao lado disto, 80% possuem o sangue indígena e, infelizmente, apenas 2% do sangue negro subsaariano escravo. São brasileiros que constituem famílias e disseminam suas origens diversas pelo Brasil e pelo mundo.
          O lançamento contará com a presença de estudiosos sobre o tema, como David Kullock (mediador do debate e cineasta argentino radicado no Brasil desde 1980), do professor Francisco José Pinheiro (Secretário de Cultura do Ceará) e Sônia Pinheiro (Presidente da Fundação Gilberto Freire).

 Obras da Coleção Borges da Fonseca
                  A pesquisa para produção dos livros foi possível graças à captação de recursos via Lei Rouanet (Ministério da Cultura), com o patrocínio do Sistema Hapvida. As obras trazem mapas geográficos, poesias, documentos da época e fotos do acervo da Fundação Gilberto Freyre, da Fundação Joaquim Nabuco e de importantes instituições, como a Biblioteca Nacional de Portugal, além de esquemas genealógicos, listas de siglas e símbolos traçados e comprovados minuciosamente, de maneira didática, inclusive para os não-iniciados no assunto.

           No primeiro livro “Albuquerque: A herança de Jerônimo, o Torto”, o autor resgata como os Albuquerques chegaram a Pernambuco com o donatário Duarte Coelho. Segundo o estudo, a família em Pernambuco se originou de Brites e Jerônimo de Albuquerque. Brites veio para o Estado foi como mulher do protodonatário. Não deixou descendência entre nós. Os seus filhos fizeram-no em Portugal, mas com geração extinta na época dos 1700.
         As pesquisas apontam que Jerônimo é o pai de todos os Albuquerques. Ele seria o nosso “Adão pernambucano”, que conseguiu a façanha de permear seu sangue por provavelmente todo o Nordeste, já que teve 36 filhos. De acordo com Pinheiro, Jerônimo trouxe sangue judeu, muçulmano semita e muçulmano negro da África do Norte. Tal riqueza de detalhes foi responsável por colocar o livro “Os Albuquerque” como um dos cinco finalistas na categoria Livro e segmento livro de texto do Prêmio Pini, um dos mais importantes prêmios nacionais de qualidade gráfica. Com a indicação para a final, a obra já está entre uma das mais bem elaboradas e produzidas no Brasil em 2013.
         O segundo volume da Coleção, “Os Liras: o nome e o sangue – uma charada familiar no Pernambuco Colonial”, trata da origem da família da Ilha da Madeira, de Portugal. A pesquisa aponta que os antepassados dessa família chegaram a Pernambuco sem cor definida, e acredita-se que ocupavam altos cargos no Santo Ofício da Madeira. Os Liras que chegam a Pernambuco logo tomam as cores raciais da capitania. Os chamados “Novos de Lira” possuíam sangue judeu.
         O livro narra o casamento de Gonçalo Novo de Lira (I) com uma provável neta de Branca Dias e Diogo Fernandes, este o casal mais denunciado pelo Santo Ofício de Pernambuco (1593-1595). O estudo ainda aponta que Gonçalo Novo de Lira (IV) se casou com uma mulher da família Pacheco, descendente do judeu Ruy Capão, que trazia da Ibéria além desse sangue, os traços do muçulmano semita e do muçulmano negro da África do Norte.

Já em “Simões Colaço”, o autor aborda Borges da Fonseca, que identifica em Antônio Simões Colaço a origem da família no Nordeste. Em Portugal, cometeu grave crime e por este delito foi degredado para África. O autor conseguiu, junto a Torre do Tombo, o processo do Santo Ofício no qual está contido o crime de judaização. Nele, vê-se que nunca saiu de Portugal. Seus filhos, no entanto, após a prisão do pai, temendo o mesmo destino, fugiram, inicialmente para a África e depois para Pernambuco onde originaram a família. Aqui, portando sangue semita já miscigenado em três gerações de cristãos-velhos ibérios, interagem com troncos étnicos e de origens religiosas diferentes.

  Cunho sociológico e conclusões

         O estudo de Candido Pinheiro tem também um cunho sociológico, ao tentar, pioneiramente, dar números a esta composição étnica e religiosa do nosso homem colonial, além de tentar explicar como os diversos troncos estudados se relacionaram. “É uma confirmação da obra sociológica de Gilberto Freyre sobre o Nordeste, a fim de desvendar a nossa identidade nacional e cultural”, explica o autor.

         A conclusão que se chegou ao fim de 10 volumes, que compõem a Coleção Borges da Fonseca, é que o homem nordestino colonial e por extensão o atual, assim é composto:

- 2% dos nordestinos portam o sangue negro subsaariano escravo.
- 80% dos possuem o sangue do nosso índio.
- 97% trazem ao lado do sangue judeu, o do muçulmano semita, o do muçulmano negro pré saariano.


Democratização de acesso às informações
       
         Metade da tiragem de cada um dos dez volumes (ao todo, serão 500 exemplares em cada título) que comporão a “Coleção Borges da Fonseca” serão distribuídos gratuitamente para instituições de ensino, institutos históricos, universidades e de pesquisa e promoção dos estudos genealógicos, tanto no Brasil como em Portugal e na Espanha.

         O projeto foi criado, também, para promover o amplo acesso às informações nos diversos centros de pesquisas e arquivos históricos, nacionais e estrangeiros e proporcionar material de referência que possa contribuir com as discussões em torno da relação desses ramos familiares e os territórios; suas influências na política, na sociedade, na economia, na cultura regional, entre outros aspectos.

Sobre a Coleção Borges da Fonseca
         Dividida em dez volumes, com recursos via Lei Rouanet e patrocínio do Sistema Hapvida, a Coleção resgata os diversos troncos familiares da região, mostrando a verdadeira origem do homem do Nordeste. As influências do sangue do índio nativo, do negro africano, do mulçumano negro ou semita e do judeu foram traçadas em um processo de identificação desses troncos.
Para a composição dos dez volumes da Coleção, Candido Pinheiro, médico e estudioso da genealogia nordestina há mais de 20 anos, procurou não apenas descrever a trajetória das famílias, mas também delinear a biografia dos seus personagens fundamentais, a partir dos trabalhos documentados no século XVIII por Borges das Fonseca, chegando aos dias atuais.

         Borges da Fonseca – Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca nasceu no Recife, em 1718. Foi governador e capitão-geral da capitania do Ceará, no período entre 1765-1782. Produzida em 1748, em quatro volumes manuscritos, a Nobiliarquia Pernambucana é a mais importante obra para os estudiosos da genealogia do Nordeste na época colonial. A obra abrange numerosas famílias portuguesas ligadas à história de Pernambuco. Borges da Fonseca morreu em abril de 1786 e foi sepultado no Mosteiro de São Bento de Olinda.


SERVIÇO
Lançamento dos volumes da Coleção Borges da Fonseca, “Simões Colaço”, “Albuquerque: A herança de Jerônimo, o Torto” e “Liras: O nome e o sangue – uma charada familiar no Pernambuco Colonial”, do autor e pesquisador Candido Pinheiro Koren de Lima.
Local: Universidade de Fortaleza - Avenida Washington Soares, 1321 - Edson Queiroz, Fortaleza – CE.  (Unifor)
Data: Dia 17 de setembro de 2014, às 10h.

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