sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A pescaria e a loteria



O meu querido pai, que já desfruta da eternidade há 24 anos, tinha um prazer imenso em preparar na véspera de suas pescarias domingueiras seu equipamento de pesca. Era meticuloso. Preparava a guia das suas varas – a maioria de bambu -, limpava as carretilhas e molinetes, fabricava suas próprias chumbadas, colocava prendedores nos anzóis, enfim, ficava prontinho para sair de casa às 04h da madrugada. Não se esquecia de sua cachaça e frutas.

Às vezes jogo nas loterias do governo. Antevejo-me rico e pelo simples fato de estar com o bilhete no bolso. Faço planos para gastar a minha “fortuna”. Sinto-me como meu pai, quando se preparava para suas pescarias e sonhava em fisgar muitos peixes.

Ele nunca foi um pescador de sorte e pouquíssima vez pegou peixes grandes. Eu nunca ganhei nem em rifa de colégio.

Agora, que é bom se preparar para sonhar, isso é! Talvez por isso, a exemplo do meu velho, continuo jogando prudentemente em números – sem escolhê-los -, com possibilidades ínfimas de acertar.

Meu pai dizia que depois de arremessar a linha ao mar, sentava-se no seu banquinho para observar as varas e pensava. Sonhava. Fazia planos; poetizava.

Quando vou conferir meu jogo, faço o mesmo, sem a vantagem de estar perto do mar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário