Passei recentemente 15 dias internado em um hospital de Natal devido a uma infecção que afetou meus pulmões e que se transformou numa pneumonia com consequências perigosas na seqüência de evolução da doença. Isso gerou uma rotina de exames, alguns desagradáveis. Mas, o que me chamou a atenção nesses dias foram duas coisas: o carinho e o profissionalismo das equipes médicas e o péssimo cardápio oferecido ao doente. Sem gosto e sem graça; inibidor de apetite.
Nos anos 1980 tornei-me criador de cães Rotweiller. Para melhor entender a raça, que havia ficado conhecida mundialmente pela participação de um exemplar no filme “A Profecia”, de 1970, comprei um livro sobre ela. A primeira informação, depois da capa, já na página três, escrito com letras grandes: “O cão é o que ele come”.
Começo a pensar que o conceito do nutricionismo em hospitais deveria ter um caráter evolutivo, inclusive sem apegos a horários e antigas regras de servir comida em bandejões que mal cabem nas bancadas aonde o doente vai comer. O nutricionismo dos hospitais bem que podia dar a impressão de ser acolhedor, como um restaurante, mas ao contrário, até no servir dão a impressão de alimentar o gado. Imagino que numa ação conjunta com os setores médicos a nutrição dos hospitais poderia ajudar na cura do doente, evoluindo e dando sabor a um cardápio que estimulasse o apetite.
Durante o internamento houve um dia em que fui instado ao jejum, durante seis horas, para realizar um exame. Na sétima hora fui avisado que estavam aguardando o anestesistas e na oitava que o exame havia sido adiado devido à incompatibilidade de um remédio com o contraste que seria aplicado e que poderia afetar o rins. A compensação pela falta do almoço e do lanche foi uma esquálida torrada e um suco de laranja.
Triste de fome, com saudade das comidas “light”, mas saborosas, da minha casa, me lembrei do livro sobre os rotweillers e pensei que o setor nutricional daquele hospital estava indo na contramão do meu organismo, cheio de antibióticos e outros remédios. Como eu poderia ficar bom sem comer direito? Como meu organismo poderia reagir a doença e ajudar os remédios, se usava um combustível sem pressão? Pensei, preocupado, naquela noite.
Insisto que os nutricionistas deveriam avaliar cuidadosamente os prontuários dos pacientes, conversar com os médicos, enfermeiros e imaginar que comida e o estimulo ao apetite é essencial ao doente. Por enquanto, buscam a solução preguiçosa de manter o doente numa dieta sem graça, que desestimula a vontade de comer.
Nesse dia da triste torrada, me lembrei de minha tia Lúcia, que disse ao marido faminto, tarde da noite:
- Essa fome é psicológica, tome água e vá dormir...
Vai ver os setores preguiçosos do nutricionismo hospitalar também se achem no direito de pensar que remédio é alimento e que a fome do doente tem um valor, digamos, relativo.
Caro nobre colega, que tenha toda saúde, que se resguarde, cuidadosamente, e gradativamente volte à labuta da rotina. E de barriga cheia.
ResponderExcluirBom dia Leonardo,
ResponderExcluirRealmente você disse tudo.
Os hospitais reduzem tudo a uma dieta "única", pobre em sal, temperos e gordura. Como se todo mundo que ali estivesse fosse hipertenso com colestoral lá nas alturas.
Comungo com a sua opinião, afinal como se recuperar se nem mesmo somos estimulados ao apetite?
É muito complicado mesmo...e com a falta de iniciativa dos setores de nutrição, temo que isto demore muito para mudar.
Por isso é preciso que falemos do assunto.
Bom domingo!
Abraço
Mari