quinta-feira, 28 de junho de 2012

A arte que ninguém entende nada e só assume no cochicho

Flávio Rezende
escritorflaviorezende@gmail.com

A vida é maravilhosa e muitas coisas existem causando sensações muito agradáveis, tornando nosso cotidiano gostoso de ser degustado em mínimos detalhes. Sou um apaixonado pela existência e gosto de vivenciar momentos diferentes, como por exemplo, andar de ônibus quando viajo, percebendo em meu próprio ser o quanto sofre a população que depende de transporte público, com esperas demoradas, apertos, chacoalhados, perigos e atrasos.

Fazer coisas que normalmente não faço em Natal não me causa desprazer, mesmo que essas coisas sejam sufocantes, prefiro encaminhar para meu processador interior, que eu preciso ter a exata noção da vida como ela é, até para que possa me posicionar diante de certos acontecimentos, tendo uma percepção mais próxima possível dos dois lados das coisas.

Dentro deste contexto, trago a baila, uma das joias da vida, a arte. Como artista do mundo das palavras, brincando com frases e burilando letrinhas em efervescentes misturas pensamentais e livres reflexões, venho ouvindo aqui e ali, o quanto tem sido difícil entender algumas artes ditas modernas ou contemporâneas, com trabalhos de complicado entendimento, numa mistura de elementos tão louca, que ao não entendermos direito o que ali está exposto, temos a sensação de sermos ignorantes das leituras atuais do mundo das artes plásticas, performances, instalações e em alguns casos, até no cinema, literatura, teatro e recitais diversos.

Está cada vez mais comum pessoas procurarem um cantinho do lugar de alguma atividade artística e, em tom de segredo, confessar para o amigo ou parente que não está conseguindo entender patavina daquilo que está sendo tão decantado no catálogo, com textos igualmente doidões, deixando grande parte dos presentes em lunática dúvida existencial de suas respectivas capacidades intelectuais.

Confesso que tenho visto coisas que me deixam totalmente desnorteado, ouvindo dos protagonistas dos trabalhos, que a leitura correta deles é feita por quem olha, dando com isso a última facada no sujeito que já se achando burro, busca junto ao criador, uma explicação para a criatura. Ao transferir essa explicação para nós, o artista praticamente carimba nossa incompetência para decifrar tão complicado código artístico ali exposto.

E assim vai aumentando cada vez mais a distância entre os artistas modernos e a cambada de ignorantes, como eu, que a continuar neste passo, viveremos no futuro de observar artes antigas, para que não percamos de vez a definição do que realmente seja arte, uma vez que atualmente uma mistura de ovo frito num chão com pedras da lua, cercado de ratinhos brancos empalhados, com pequeninos óculos em forma de coração, rabinhos com lacinhos cor de rosa e, pintada como uma moldura, uma cobra coral que come seu rabo, podia ser interpretado por meu ser, como o futuro dos animais, que vão viver no mundo da lua, sem entender o hermafroditismo humano atual, mas, querendo também que a mistura de sexos chegue até eles, promovendo assim, a paridade e a isonomia desta relação homossexual que vivenciamos de maneira tão acelerada atualmente.

Não vai aqui acreditem, nenhuma crítica, apenas, confesso, gosto mais daquela arte que possa entender de maneira mais fácil a mensagem do artista, o sentido da obra, entendendo a letra da música, o quadro pintado, a peça encenada, o filme exibido e o livro publicado.

Determinadas obras que vejo por ai - como também ouço muitos dizendo, até eu sei fazer, dando a entender para alguns do lado de cá, que ser artista então é apenas agir, misturar um monte de coisas e, deixar para quem olha a resposta para aquilo que ele fez, mas que se recusa, a explicar, acredito até, me desculpem a sinceridade, que alguns devem explicar de maneiras diferentes a obra, nos legando a herança que hoje além de deixar todo mundo confuso, as obras são mutantes.

Eescritor, jornalista e ativista social em Natal/RN

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