Por José Gobbo Ferreira
"De Formião, filósofo elegante, vereis como Anibal escarnecia, quando das artes bélicas, diante dele, com larga voz tratava e lia. A disciplina militar prestante não se aprende, Senhor, na fantasia, sonhando, imaginando ou estudando, senão vendo, tratando e pelejando". (Os Lusíadas, L.V. de Camões, Canto X, CLIII)
A Escola Militar de Resende foi estabelecida em 1º de janeiro de 1944 no município do mesmo nome. Em 1951 passou a chamar-se Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN. Sua finalidade é a formação de Oficiais Combatentes do Exército Brasileiro, bem como, sob convênios específicos, de Oficiais de Exércitos de Nações amigas. Seus alunos, chamados Cadetes, ali frequentam um curso de quatro anos de duração onde tratam e pelejam para aprender a disciplina militar prestante.
A AMAN é, pois, um estabelecimento destinado ao estudo das disciplinas indispensáveis ao exercício das funções de comando no campo de batalha e fora dele. A par de inúmeras disciplinas das áreas de ciências exatas e humanas, a formação do Oficial inclui instruções militares com material de guerra real, nas mais diversas condições de emprego da tropa, expondo seus integrantes a todos os riscos e perigos inerentes a atividades dessa natureza. Todos aqueles que nela ingressam estão bem a par desses riscos e espera-se deles que se orgulhem de corrê-los, preparando-se para a nobre missão da defesa da Pátria.
Constitui uma honra muito grande para qualquer Oficial do Exército ser convidado para servir como instrutor na AMAN. O Exército se esforça para escolher aqueles que, à luz dos critérios considerados adequados, se mostrem mais aptos para o desempenho dessa missão.
O instrutor da AMAN é o lapidador do caráter do Cadete, complementando sua formação familiar e a do ensino fundamental. É um mestre, é um orientador, é um chefe e, acima de tudo, um amigo velado, disfarçado sob o manto da disciplina militar. A segurança pessoal, o bem estar, o progresso e o sucesso final de seus Cadetes é o ponto de honra de qualquer Oficial servindo na AMAN, que normalmente continua acompanhando, com carinho e orgulho paternais, o decorrer da carreira de seus pupilos.
Mas, malgrado todo o zelo e cuidados dos instrutores, fatalidades ocorrem. No dia 9 de outubro de 1990 o Cadete Márcio Lapoente da Silveira veio a falecer em consequência de um exercício de instrução especializada.
Resumindo os fatos, a família do Cadete Lapoente denunciou que a morte havia sido provocada por tortura(?) e essa denuncia acabou por chegar â comissão interamericana de direitos humanos da OEA. Essa comissão, depois de inúmeros desrespeitos ao Brasil e de declarar inidônea a Justiça Militar Brasileira exigiu que o estado brasileiro (com letra minúscula mesmo) se submetesse a uma série de humilhações que culminam com a aposição de uma placa vexaminosa nas dependências da Academia Militar das Agulhas Negras.
É mais uma consequência da progressiva subordinação dos governos ditos “de esquerda” aos interesses estrangeiros, por meio da assinatura de inúmeros instrumentos de submissão explícita. Que se humilhem então eles, os políticos asquerosos. Que curvem até o chão suas colunas dorsais flexíveis, expondo os fundilhos imundos de suas roupas íntimas, se as estiverem usando. Mas que deixem nossa Academia fora desses conchavos covardes.
Será necessário que eu relembre a AMAN aos irmãos de armas? Será que é preciso que eu recorde os dias e noites que passamos, ora nas salas de aulas, de estudos ou de provas, nos parques, nas competições esportivas, nas paradas e nas manobras, exaustos e insones, vadeando o Alambari, progredindo pelos campos de Membeca ou subindo Vaca Magra Alta? Será que alguém se esqueceu de nossos sonhos e nossos ideais? Será que é preciso trazer à memória que cantávamos no PTM que “jamais outro brado, mais forte entoado será pelo Brasil. Clarins da vitória, cobertos de glória por todo o céu ecoarão, a fama levando, à Pátria lembrando que seus jovens Cadetes não vacilarão em defender o seu brasão”? Será que o tempo vos transformou, de jovens Cadetes em velhos abúlicos, esquecidos dos votos de outrora? Ou será que tudo aquilo eram palavras ao vento?
Que essa cerimônia de eunucos e cortesãs seja realizada no itamaraty, que já foi de José Maria da Silva Paranhos Jr., o Barão do Rio Branco, mas que hoje é de Celso Amorim, Marco Aurélio Garcia et caterva (o tempora, o mores!). Ou que se passe em um anfiteatro da Delta Engenharia, sob a presidência de Cavendish, quando se aproveite para, simultaneamente, inaugurar retratos de Demóstenes, Perillo, Agnelo, Sérgio Cabral e, last but not least, de sua Excia Dilma Vana Roussef, beneficiária de doações de campanha da empresa e mãe da teta graúda chamada PAC onde tantos corruptos mamam e engordam. Ou ocorra então em uma das salas obscuras da revanchista secretaria de direitos humanos da presidência da República. Melhor ainda, que se poupe o povo brasileiro da vergonha e seja no exterior, na tal comissão interamericana de direitos humanos da oea, que não sei onde fica, nem quero saber. Se tudo isso falhar, que se dê então em qualquer uma das oito fossas de Malebolge do inferno de Dante, lugar adequado àqueles que voluntariamente dela participarem, mas nunca, jamais, em tempo algum, na AMAN.
A todos aqueles formados no sagrado solo das Agulhas Negras que aceitaram passivamente essas decisões, sugiro que esqueçam seus juramentos. Acima de tudo, esqueçam-se de mim, que não os reconheço mais como homens de honra. Espojem-se na lama da traição. Trafiquem com seus corpos e almas, mercadejem seus corações e mentes e entreguem ao inimigo o nada ou quase nada que lhes resta de pundonor militar, mas não enxovalhem nossa Academia.
Na data que as excelências amplamente divulgarem (vide ofício) eu, o Cadete 879, Gobbo Ferreira, do Curso de Material Bélico estarei lá e, se estiver só, serei os volteadores, o atirador e os remuniciadores do Grupo de Combate do meu tempo, pois diz o manual que o Material Bélico combate como Infantaria quando necessário e estou pronto. Sempre estive. Se sozinho, assobiarei o hino da Academia e chuparei cana ao mesmo tempo, mas estarei lá! Saiba o encarregado do cerimonial que apresentarei armas ao Aspirante Mega e depois farei o que tiver que ser feito para defender a honra do Exército do meu tempo e o brasão da minha Academia.
Convido entusiasmadamente e do fundo do coração todos aqueles que entoaram o Brasão do Cadete junto comigo,e aqueles que o fizeram antes e depois de mim, para que respondam “presente!” ao Aspirante Mega. Nos encontraremos na casa que foi, é e sempre será nossa, para transformar o dia da vergonha no dia do alvorecer de novos tempos para o Exército de Caxias.
José Gobbo Ferreira é Coronel reformado do Exército.
Nenhum comentário:
Postar um comentário