(publiojose@gmail.com)
O Brasil é, realmente, um país singular, como diria aquele intelectual após entornar a quinta dose de uísque. A diferença é que ele falaria com a língua enrolada pelo efeito entorpecedor do álcool. Já eu falo por sentir na própria pele, na qualidade de brasileiro, a gravidade de tal afirmação. No campo médico um paciente é dado como morto, embora apresente alguns sinais de vida, quando a ministração de medicamentos, de remédios, de drogas, mesmo que as mais modernas e de comprovada eficácia, não sinaliza mais seu retorno à vida. O médico não pode afirmar que o paciente está morto – embora também não possa catalogá-lo como um corpo vivo. É nesse estágio que está o Brasil no que diz respeito ao combate à corrução. São tantos os casos, são tantos os envolvidos e, pior, são tantos os processos, as investigações, que o organismo legal brasileiro começa a dar sinais de infecção generalizada.
Os sinais de exaustão da máquina jurídica nacional são evidentes. Como são também evidentes os sinais que começam a esborrotar da cabeça da opinião pública brasileira, pelo altíssimo volume de informações, denúncias, investigações, quebra de sigilo telefônico, quebra de sigilo bancário, e mais aquilo, e mais aquilo outro. Quando se analisa a série história que envolve a justiça brasileira, quando se olha para trás e se vê o mundão de casos ainda sem encaminhamento, sem julgamento pela máquina judiciária, quando se observa o sem número de casos de impunidade – e, inclusive, do significativo volume de casos de corrução que envolve membros da própria justiça, a que conclusão devemos chegar? Se os casos anteriores não tiveram, na justiça, o encaminhamento que deveriam ter, a que desfecho chegarão os casos de agora, quando, além do mais, envolvem gente grossa de todos os segmentos?
Santa ingenuidade é se esperar que dessa cartola saia algum coelho que nos regenere a esperança. Pois a justiça está tão empanturrada de coisas para fazer, investigar, julgar, que dificilmente se desincumbirá dessa tarefa, mesmo que queira, nos próximos dez, vinte anos. Nesse período outras realidades se instalarão, outros interesses serão estabelecidos, outros modismos ocuparão os espaços da mídia e – o que é pior – a histórica falta de memória do brasileiro se encarregará de jogar tudo em um profundo e insondável mar do esquecimento. O que expresso, portanto, não é fruto de uma momentânea demonstração de pessimismo, mas a constatação de que o volume de casos de corrução no Brasil chegou a um volume tão alto, e de investigação tão simultânea, que o país, à semelhança de um paciente terminal, não encontra mais forças, no seu espaço judiciário, para buscar as soluções que o momento está a exigir.
Soluções à vista? Só o tempo, com sua enorme capacidade de acomodação, pode responder a essa pergunta. O que se depreende do ponto de vista histórico, e também o que pode vir a nos consolar, é que o Brasil já enfrentou períodos indigestos de natureza política, traduzidos em simples tremores e também em terremotos de grandes proporções, e sempre se saiu deles de forma ordeira e pacífica – graças a Deus. Atualmente, do eleitorado pouco se pode esperar pelos motivos já expostos. A esperança talvez resida no surgimento de uma nova liderança. Liderança, afinal, que dê exemplo de decência, de coerência, de visão voltada para o bem comum e para os interesses maiores da nação brasileira. Por hora, só nos resta esperar e sonhar com um provável novo tempo, enquanto, lamentavelmente, assistimos a corrução generalizada ganhando a parada. Palmas para ela. E ela merece?
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