Flávio Rezende*
escritorflaviorezende@gmail.com
Geralmente empreendo minhas caminhadas por cantos e recantos que misturam os belos recortes da natureza com seus representantes sempre maravilhosos, proporcionando a este neófito escrevinhador, graciosas observações de aspectos vários deste mundo de árvores, galhos, frutos, folhagens e, animais conhecidos, com seres, que igualmente caminhando ou compondo o cenário, tornam os meus passos mais ávidos por estas fontes de pensamentos e de inspirações difusas.
Em algumas oportunidades, a vida nos possibilita um mergulho relativamente diferente do tradicional, permitindo uma ousadia em caminhadas por lugares ermos, solitários de presenças visuais aparentes, tornando nossa palpitação um pouco mais desregrada e, proporcionando um mergulho - mesmo que meio amador ou forçado, numa névoa de certo mistério do que pode surgir, adelante.
Quando estamos neste clima de grande interrogação do que pode se materializar diante de nós, às vezes, o que a realidade apresenta é um animal de médio porte, vulcanizando nossa adrenalina para um ambiente de larvas de receio, que rapidamente viram cinzas pelo acostumar da mente já macetada em situações desta natureza.
A mesma situação também ocorre quando o ser sozinho, num ambiente lúgubre, sendo ele ecológico ou urbano, depara-se com outro ser de sua mesma espécie. Apesar das religiões pregarem abertamente que somos irmãos. Apesar das ordens místicas afirmarem que somos todos UM. Apesar de estarmos acostumados visualmente, fisicamente, o medo do outro quase sempre acontece.
O homem não sente segurança ao estar na presença de outro homem num ambiente distante, num lugar onde outros não estejam por perto, reina o pavor, o medo, o receio do outro ser seu algoz, com o homem vivenciando o espírito de Thomas Hobbes, filósofo inglês, que afirmou ser impossível o homem viver em estado de natureza, apontando que a naturalidade do comportamento do homem é o enfrentamento, a lei do mais forte, dai revelar a criação do pacto de nascimento do Estado, que cumpriria a missão de proteger os mais fracos, pois o homem seria o lobo do homem.
Independente de você crer em Hobbes e seu Leviatã é fato que ao visualizar seu "irmão" num ambiente despido de outras presenças, o homem treme, o homem vacila, o homem parece encarnar outro personagem, o Haller, do livro "O lobo da estepe", do grande Hermann Hesse, que deixa margem para uma conclusão pessimista quanto à possiblidade de formação da unidade pessoal.
E este homem que sou eu, você, todos nós, segue sua trajetória, com medo de si mesmo na medida em que não quer de maneira nenhuma encarar seus bosques interiores, cheios de outros seres tarados, ambiciosos, egoístas, caricaturas de nós mesmos e, também o outro ser, que poderá sempre, no vácuo da indecisão, ser o ser, que poderá determinar pela vontade dele, o nosso último suspiro.
Na incerteza de uma aproximação amistosa, o homem esquece sua irmandade e prefere pensar no pior, encarnando Jorge Bem Jor que bem cantou... "... eu estou vestido com as roupas e as armas deJorge. Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem. Para que meus inimigos tenham mãos e não me peguem e não me toquem. Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam. E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal".
*Flávio Rezende, escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN
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