Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
Tem muita gente que ainda faz beicinho ou torce o nariz para a Internet como instrumento divulgador de culturas, de idéias, de informações. Confesso que durante um bom tempo eu também pensei assim. Mas depois de comprovar que, ao lado de muito porcaria, você pode colher também verdadeiras preciosidades no campo do conhecimento, passei a encarar a rede de modo totalmente diferente. O que é bom eu guardo e o que me desagrada eu deleto imediatamente. Aliás, a Bíblia já nos ensina que devemos ouvir o que os outros têm a nos dizer “retendo o que é bom”. Do contrário você se torna um chato, um pernóstico, um arrogante, chegando até a ser um escravo de suas próprias idéias e convicções. Ou seja, aquele que só aceita e consome o que vem de si próprio. A essa demência os entendidos dão o nome de “cárcere intelectual” – você preso a você mesmo, ao seu próprio conjunto de conhecimentos.
Será que consegui, com esse arrazoado, vender a Internet direitinho? Porque tudo o que falei até agora foi para lastrear o conteúdo, muito interessante, que recebi através da rede dias atrás. Era uma matéria mostrando os projetos de autoria de alguns deputados na Câmara Federal. Projetos, por sinal, ridículos, estapafúrdios – para não dizer coisa pior. Estava lá, por exemplo, a idéia de um parlamentar tentando criar o Dia do Macarrão. Outro defendia com unhas e dentes a criação do Dia da Esperança. E mais um outro, imbuído talvez do desejo de disputar com os companheiros o Campeonato Nacional da Idiotice e da Inutilidade, lutava bravamente para instituir o Dia do Sono. Estes eram os itens principais da matéria que recebi pela Internet. Outros absurdos integravam também o teor da mensagem. Preferi me ater a esses três para efeito do espaço que temos para este artigo.
De início, uma curiosidade me assaltou com relação ao projeto que tenta estabelecer a data comemorativa ao macarrão. Como seria essa celebração? O produto seria distribuído nas ruas para o povo? Grandes macarronadas seriam promovidas para distribuição gratuita nas periferias das cidades? E nas favelas como seriam as comemorações? Por acaso não haveria eventos festivos nas favelas? E nas escolas como o macarrão teria seu dia comemorado? Certamente um hino ao macarrão seria composto. Por quem? E quem se encarregaria tal façanha? Outra questão importante se impõe: quem coordenaria as comemorações? Uma data cívica de tal magnitude deveria contar, com certeza, com um lastro institucional muito forte para coordená-la. O prefeito de cada cidade, o governador de cada estado ou a própria presidência da república tomaria para si a tarefa de coordenar o evento?
Muitas perguntas, não é verdade? Como, para tais perguntas, não existem respostas, conclui-se, então, pela total inutilidade do tão acalentado projeto do nobre deputado. Passemos, assim, ao outro, o do Dia da Esperança. Como seria isso? Nessa data aumentaríamos nossa esperança ou passaríamos o dia totalmente desesperançados? Ou grandes multidões seriam conclamadas a sair às ruas para renovarem, unidas, as suas esperanças? Mas em quê? Em quem? O que se conclui é que devemos manter a esperança para os eleitores desses deputados despertarem para a não renovação dos seus mandatos. Ou que a esperança nos embale o sonho de vermos tais figuras ocupando o tempo com projetos que contemplem a nossa realidade. Dia do Macarrão, Dia do Sono. De tanto me ocupar com essas besteiras, faltou espaço hoje para coisas sérias. Dia da Esperança, do Macarrão, do Sono, zzzzzzzz...
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