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No rumo da Via Costeira, à nossa frente um ônibus nos traz boas lembranças de um tempo em que alimentávamos certos sonhos, alguns realizados outros impedidos pelo curso indomável da vida. Era um ônibus de turismo com a placa de Caetanópolis, Minas Gerais. A maior lembrança naquele momento era de um churrasco que comemos naquela cidade em um restaurante com bela decoração de bambu. Um churrasco inesquecível, num ambiente que era um verdadeiro encanto. O lugar parecia o portal para um belo futuro.
Até chegar àquele lugar de Minas Gerais onde passavam os ônibus de linha no rumo de Brasília, havíamos – Graça e eu enfrentado dois dias de estrada a partir de Natal, por Caicó e demais cidades por onde passavam os ônibus da Viação Planalto. Era a viagem de retirantes que seguiam em busca de seus sonhos na capital federal. Ao nosso lado um cidadão gordo com um neto de uns sete anos chamado Cristiano, que comia tudo que se pode imaginar saído de uns sacos e pacientemente diziam que estava perto de chegarem ao lar, em Itumbiara.
Redator da Rádio Planalto e free-lancer da Agência Apoio, depois de uma promessa de emprego frustrada, eu insistia em ficar em Brasília. Graça havia ingressado no SESC nacional como assistente social e se sentia realizada com atividades junto a idosos. Morávamos numa casa de cômodos – suíte - da W3-Sul, 706, em frente à Casa do Pão e a duzentos metros do Restaurante Espanhol. Para nós era melhor que a distância do Guará, onde poderíamos ter alugado um apartamento até por menos que o preço que pagávamos a seu Jonas, um paulista de sotaque carregado.
Aquela viagem em 1979 nos levou a acompanhar momentos importantes de Brasília, como as manifestações de solidariedade aos presos políticos de Itamaracá, realizadas na Praça Goiás toda semana; a primeira manifestação de professores do Governo do Distrito Federal, onde minha falta de olfato por ser fumante me fez ficar parado enquanto a multidão se dispersava, sem perceber o cheiro do gás lacrimogêneo aos meus pés; a chegada da Anistia política; e as reações do regime militar.
Os parcos recursos de que dispúnhamos nos trouxeram o benefício de conhecer Brasília e cercanias de forma espetacular. Todo fim de semana tínhamos uma cidade satélite para visita e conviver com amigos. Dona Ceci, em Sobradinho; Arlete, secretária de Henrique Eduardo Alves e seu marido, Pinto, no Núcleo Bandeirante; alguém do Gama; e colegas de trabalho do próprio plano piloto. Aí destacam-se Auxiliadora Targino e Amantino Teixeira; Alexandre Cavalcante e Dulcinéia; e Vanilza e Edinho.
Brasília era tudo isso e muito mais para nós. Uma vida de encontro no Venâncio 2000 ou no Conjunto Nacional; alguma noite no Centro Gilberto Salomão; o pastel com caldo de cana da Rodoviária; a varanda do aeroporto para assistir a partida dos conterrâneos que despachávamos. Do restaurante Roma e da Escola da 302 onde faziam saraus os jovens poetas; conhecemos e almoçamos com Sílvio Caldas, que amava Natal; e onde ouvíamos um poeta dizer: “Minha namorada / viajou para Porto Alegre / e eu fiquei aqui a ver Ministérios”.
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