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A comoção que se seguiu à infeliz declaração da jornalista conterrânea Micheline Borges sobre as médicas cubanas parece ter sido capaz de impedir qualquer reflexão mais equilibrada sobre o fato. Agora o episódio toma um rumo mais duro ainda, que é a cobrança que passa a ser feita no Judiciário por parte do Sindicato das Empregadas Domésticas, cuja categoria se sentiu ofendida, com razão, pelas declarações.
Neste momento é preciso olhar o episódio como algo resultante dos vícios arraigados na nossa sociedade e dele oferecer e tirar as lições que forem possíveis, por mais difíceis e lamentáveis que se configurem. Desde o primeiro momento em que vi a declaração na internet senti que se tratava de uma tentativa de fazer graça com coisa séria, o que finda se transformando sempre em brincadeira de mau gosto. Entretanto, imediatamente, certa ou errada, bem ou mal, porém a seu modo, a jornalista fez uma espécie de retratação, mesmo que enviesada. Na ânsia de repercutir, propagar e condenar com toda veemência, pouca atenção foi dada ao que ela tentou mostrar.
Inicialmente, a jornalista Micheline Borges afirmou que “Foi um comentário infeliz”. Esta frase já mostrava o início do reconhecimento de que não agira de forma aceitável. Em seguida, ela disse que “só gostaria de pedir desculpas”. Mais uma mostra de que tentava se redimir de um ato condenável e impensado, mas que já havia sido praticado; estava sem jeito. Na mesma sentença, a jornalista revelava: “fiquei muito angustiada.”. Ninguém gostaria de estar em seu lugar nessa hora de angústia, nem cabe a mim, pelo menos, duvidar do seu sofrimento. Tenho de olhar como verdadeiras as suas palavras.
“Não tenho preconceito com ninguém, não quis atingir ninguém, nem ferir a imagem nem a profissão de ninguém”, disse mais a jornalista, em palavras que não explicavam nem justificavam, mas que ninguém pode ignorar e deixar de enxergar o que disse. Da mesma forma que não foi muito feliz a explicação que tentou dar ao dizer que o fato “Ganhou uma proporção muito grande nas redes sociais, onde as pessoas interpretam do jeito que querem.”. Ali não se tratava de interpretação. A afirmação infeliz foi muito clara e não tinha nada para se achar que ninguém iria distorcer.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Norte (Sindjorn), em sua nota, lamentou a "postura equivocada, falta de zelo e respeito" da colega. Aproveitou para explicar que atua na vigilância constante contra "qualquer tentativa de cercear o direito de imprensa e opinião", mas "não admite nenhum tipo de preconceito".
Esse fato deve servir de exemplo, mas as pessoas, as entidades e a Justiça precisam fazer a sua cobrança com um mínimo de respeito e humanidade. Não seria porque ela foi desrespeitosa que deveria ser tratada de forma idêntica pelas instituições a quem cabe promover a reparação. Já vimos que o fato infortunado gerou para ela grande sofrimento. Pelo menos uma retratação ela já fez, imediatamente, aliás. O que mais dever, que seja cobrado de forma respeitosa.
Se a jornalista tem e externou opinião condenável, que o chamamento sirva para lhe mostrar que a sociedade e a humanidade não admitem tal postura de ninguém; não só dela. É possível acreditar que ela pode mudar e aprender a lição, passando até mesmo a buscar entender com clareza o significado antissocial da sua atitude. Esperamos que a Justiça conduza o caso de forma a sanar o problema e não a o agravar.
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