sábado, 5 de abril de 2014

UMA CERTA ENERGIA NEGATIVA ESTÁ SUSPENSA NO AR

Por Flávio Rezende*

         Quem me conhece sabe que sou um otimista “juramentado”, sempre procurando ver o lado bom das coisas em tudo, aplicando a lei do contente e seguindo a vida com renovada alegria e entusiasmo.
         Apesar de incorporar tal modus vivendi por tanto tempo, confesso que ultimamente ando sofrendo ataques contínuos do vírus do desânimo, percebendo que várias coisas em que acreditava piamente, já não correspondem mais a tanta confiança depositada e, pouco a pouco, começo a pensar que ainda vamos demorar muito tempo para evoluir um pouco mais e nos livrar de problemas que nos afligem na atualidade.
         Vejamos o Partido dos Trabalhadores do qual fui um entusiasmado componente, tendo comparecido a uma das sessões de instalação do mesmo em Natal, num começo cheio de sonhos e de bons pensamentos, que foi indo, indo, conseguindo lentamente canalizar todo um sentimento de revolta de diversos segmentos sociais, que admiravam as posições do partido com relação aos fatos que se apresentavam.
         O PT chegou ao poder e no exercício do mesmo foi mudando, sendo hoje um partido igual aos que antes combatia, tendo até formado aliança e casado com velhas raposas da política nacional, sabidamente portadoras de políticas pessoais e de interesse familiar e corporativista, não representando hoje o que continuamos precisando e com comportamento dúbio, retrógrado, canalha e, defensor de corruptos e de marginais de paletó e gravata.
         As tão importantes autocríticas que as esquerdas deviam estar sempre realizando, não encontram espaço e o PT segue seu caminho de distanciamento, não tendo um dia sequer em que possa ouvir de algum ex-petista como eu, críticas severas e múltiplas decepções com os rumos da política nacional. Quando vejo alguém defendendo na mídia, me parece ser sempre um “fake”, aqueles perfis falsos, criados justamente para enganar os incautos. O PT hoje é isso, um “fake”, tão falso quanto uma cueca do Paraguai.
         E fora do PT parece não haver tábua de salvação. Confesso simpatia pelo senador Radolfe Rodrigues, gosto de Marina da Silva e um ou outro inspiram um pouco mais de confiança, mas, o que está no ar, de fato, é uma grande energia negativa quanto a política brasileira, com prefeitos, vereadores, deputados, senadores, e ministros quase que totalmente corruptos, ministros de tribunais, assessores, cargos de confiança, parece que o mundo vai acabar e todo mundo quer tirar o seu, um horror de roubalheira sem fim.
         Além da energia negativa do mundo político circulando e nos roubando a esperança, vem o baixo-astral da insegurança, da saúde na UTI, engarrafamentos, educação sem investimentos, o povo em filas e mais filas mendigando exames, boletins de ocorrência, vagas no mercado de trabalho, enquanto a classe política com apenas um ou dois meses de trabalho efetivo após uma eleição, já roda em carros que mais parecem aviões, viajam para o exterior, comem nos melhores restaurantes, empregam toda a família e, ao encontrar com qualquer um de nós, o sorrisão de ponta a ponta, dá uma tapinha nas costas e diz na maior cara de pau: - amigo, precisando pode contar comigo.
         O danado é que quando realmente precisamos, nunca conseguimos o acesso e ficamos nos cafezinhos da ante sala e nas secretárias muito bem pagas com suas agendas sempre lotadas.
         O PT se corrompeu, trata tudo que tratava antes como anormal, como normal, acha que para governar precisa fechar os olhos e entregar o Brasil para os antigos desafetos e, assim, enterra nossa esperança, enquanto eles vão sobrevivendo em seus cargos e luxos.
         A única coisa que interessa a esse povo é continuar lá eternamente, o resto que se exploda e, os avanços e conquistas sociais obtidas no passado, vão se diluindo e se perdendo neste mar de corrupção e de malandragem, chegando ao ponto de ser mais fácil encontrar um torcendo do Bangu no Rio, do que um antigo petista ainda petista.
         Hoje só continua petista quem tem cargo para sustentar, de minha geração deve ter ainda um ou outro perdido por ai, o que vejo no cotidiano, quase todos os dias, são aqueles mais aguerridos e antes muito radicais, dizendo a pleno pulmões: - Vendidos, bandidos, canalhas...
       
·        * É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)

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