domingo, 31 de agosto de 2014
sábado, 30 de agosto de 2014
O ontem do meu tempo no Grande Ponto
Odilon de Amorim Garcia
Desde o tempo em que eu comecei a tomar conhecimento das coisas da vida que o ponto nevrálgico de Natal foi o Grande Ponto.
O Grande Ponto era uma encruzilhada situada entre a Avenida Rio Branco e a Rua Pedro Soares que, depois da Revolução de 30, mudou o nome para Rua João Pessoa. Em cada esquina desta encruzilhada, existia uma edificação marcante. De um lado, ficava o “Café Avenida”, de Seu Andrade, local de encontros, de pequenos lanches, e onde se tomava um bom caldo de cana, e a casa residencial da viúva Dona Sinhá Freire. Do outro, o mais antigo e tradicional clube social da cidade, “O Natal Clube”, e a casa residencial do Dr. Alberto Roselli. Em frente ao “Café Avenida” e a casa “das Freire”, se reuniam os mais heterogêneos grupos de “habituês” para uma tradicional conversa de fim de tarde. Eram comerciantes, profissionais liberais, desembargadores, professores, etc...
Por esta encruzilhada, passavam todas as linhas de bonde da cidade, único transporte coletivo existente na época. A linha do Alecrim, que subia a ladeira da Avenida Rio Branco em direção à Ribeira, retornando pela Praça João Maria e voltando ao Alecrim. Havia também a linha Circular, que descia a Rio Branco no sentido da Ribeira, voltando pela Praça João Maria, e retornando à Ribeira. Na esquina, defronte ao “Café Avenida”, depois “Café Grande Ponto”, era o ponto inicial das linhas dos bondes para os bairros de Petrópolis e Tirol, que se localizava, exatamente, junto à calçada de um prédio que na parte térrea tinha uma confeitaria de propriedade de um Sr. Guerra, e na parte superior, o consultório do Dr. Onofre Lopes. Estas duas linhas seguiam pela rua João Pessoa até a esquina da praça Pedro Velho, quando, então, se bifurcavam, tomando cada uma a direção do seu respectivo bairro. Os bondes de Petrópolis se caracterizavam por uma luz verde, de cada lado do nome do bairro, e os do Tirol, por uma luz vermelha. Era somente para esses quatro bairros que existia condução.
Hoje, procurando recordar alguns momentos memoráveis daquele local tão vivenciado por muitos companheiros da juventude, fazemos uma viagem no tempo, um evocar melancólico dos dias idos. Nunca se deve mexer em coisa antiga, mas, às vezes, é bom trazer de volta um passado que alegrou a nossa mocidade.
No Grande Ponto, vivenciei muitos fatos e momentos interessantes da minha vida, nesta nossa belíssima cidade de Natal.
Quando da Revolução de 30, houve um movimento da mocidade estudiosa, que pensava em transformar o mundo, liderado pelos alunos do Atheneu, que arregimentou alunos dos vários Colégios da cidade para uma passeata pelas ruas, como um protesto pelo assassinato do presidente João Pessoa (os governadores de Estado eram chamados de presidente), um dos líderes revolucionários. Nesta época, eu tinha uns 10 anos e estudava no Colégio Santo Antônio, dos Irmãos Maristas, que funcionava ainda na Rua Santo Antônio, junto à igreja, que também era incluída como estrutura do colégio. Todos nós, do colégio, fomos arrastados com o restante dos estudantes dos vários estabelecimentos, Atheneu, Marista, Colégio Pedro II (do memorável professor Severino Bezerra) e de alguns grupos escolares, pelas principais ruas da cidade, num sonho utópico de contestação de liberdade e de conquista do poder, terminando em pleno Grande Ponto, cantando, ajoelhados, o hino que tinham composto em homenagem a João Pessoa:
João Pessoa, João Pessoa,
Bravo filho do sertão
O teu vulto varonil
Faz vibrar o coração do Brasil
Tua glória espera um dia
A tua ressurreição.
Os anos se passaram, e, um dia, volto eu de Recife, formado em Odontologia, e depois de uns anos com consultório na Ribeira, verifiquei que o progresso da cidade estava se desenvolvendo na Cidade Alta. Imediatamente, abandonei o Edifício Aureliano e me mudei para a Cidade. Montei, então, meu consultório na Rua João Pessoa, no “Edifício Rian”, que foi construído pelo comerciante Amaro Mesquita, junto ao antigo “Café Avenida”, agora já com o nome de Grande Ponto. O nome “Rian”, dado ao edifício, significava o contrário a Nair, esposa de Amaro Mesquita.
Eram meus companheiros, com consultório no Edifício, as grandes e saudosas figuras humanas do meu colega e amigo Sílvio Tavares, uma ausência marcante, e o médico Dr. João Tinoco Filho.
Na parte térrea do Edifício, funcionava a “Confeitaria Cisne”, de Múcio e Rossine Miranda, cujo garçom era o antológico José Américo, que chegou a ser candidato à Câmara Municipal.
A “Confeitaria Cisne” era o local preferido pelos amantes de um bom e necessário drinque, para acalmar os espíritos. Ali, se reunia a nata da boemia natalense e de todos aqueles que, homens de espírito, sentiam a alegria de uma conversa, mesmo sem a necessidade de uma cerveja ou uma dose de uísque. Existia tempo para todas as conversas do mundo dos nossos horizontes, naquela época, inatingíveis. Era um tempo sem angústia, sem medo e, principalmente, sem pressa.
O comércio da cidade fechava geralmente às 17 horas e, logo depois, começavam a se formar as diversas rodas para o bate-papo até o horário do jantar, e restabelecido por volta das 19:30 até às 21:00 horas. Nesta hora, se dizia na época, “se soltavam as feras”. Era a hora que todos tinham que deixar as suas namoradas, retornando ao Grande Ponto.
Passei a conviver, diariamente, com a intensa movimentação do Grande Ponto. Só trabalhava até às 17 horas, pois neste horário começavam a chegar os freqüentadores assíduos, amigos e conhecidos, para as conversas e as novidades do dia. Havia tempo para tudo. Principalmente o encantamento por uma cidade e os delírios de uma mocidade cheia de sonhos, que se tornava grande aos nossos olhos. Estavam sempre presentes as figuras mais expressivas de uma geração: Armando Fagundes, Rossine Azevedo, Rômulo da Fonseca Miranda (Rômulo Minha Gata), Genar Wanderley, Alvamar Furtado de Mendonça, Humberto Nesi, Protásio Mello, Luiz Tavares, Carlos Bengne, João Cláudio Machado, Zé Herôncio, Djalma Maranhão, João Alfredo Pegado Cortez (o conde de Miramontes), Luiz Maia, Alínio Azevedo, Marito Lira, Dácio Azevedo, Ernani Lyra, Veríssimo de Mello, Ebenezer Fernandes, Paulo Pires, Paulo Lira, Alberto Moura, Osman Capistrano, Lauro Bacelar, e alguns de uma nova geração, como José Alexandre, meu irmão, Jahir Navarro e outros.
Outro grupo, composto por figuras mais ilustres e com mais idade, discutiam problemas mais complexos. Gonzaga Galvão, Edgar Barbosa, Antônio Soares Filho, Otto de Brito Guerra, Alfredo Lira, e outros que a memória começa a falhar...
Um grupo de notívagos, comandado por João Cláudio Machado e Djalma Maranhão, varava a madrugada em intermináveis conversas, grupo que era conhecido como os freqüentadores da ”Universidade do Grande Ponto”.
Infelizmente, a grande maioria destes personagens já empreendeu a grande viagem, mas continuam presentes nas estórias que costumam resgatar a nossa memória.
Existiam grupos para conversas de todos os assuntos: futebol, política, religião, até de safadeza.
Também um pequeno grupo, formado pelos “artistas”, rapazes de uma geração bem mais nova, que se preocupavam em se vestir na última moda e sempre com o cabelo muito bem penteado. Eles chegavam ao cúmulo de ensaboar os cabelos e ir para a Praia do Meio, para que o sol endurecesse o seu ondulado.
Deste grupo, recordo-me de Mozart Romano, Milson Dantas, José Garcia da Câmara, Wellington Muniz, Wilton Pinheiro, Milton Fernandes, Mozart Silva. Existia um outro elemento, que era filho de Seu Andrade, dono do “Café Avenida”, mais que não me lembro do seu nome. Ele era chegado a uma briga e uns amores perigosos.
O Grande Ponto era divertido. Apareciam figuras de todos os tipos. Havia esmoler impertinente, como Maria Mula Manca, personagem que, andando de muletas, percorria, incessantemente, todo aquele quarteirão, atazanando e insultando todo mundo. Na época da política, então, se revelavam figuras excepcionais, como Capote Molhado, candidato eterno e avulso em todas as eleições, que fazia discursos homéricos, em cima de uma cadeira, sempre na calçada da Sorveteria e Restaurante Cruzeiro, e era efusivamente aplaudido pelo público gozador.
Os carnavais, que se realizavam até então na Ribeira, na Av. Tavares de Lyra, na época de 40, passou para a Cidade Alta, realizando o seu corso num grande circuito, indo pela Av. Rio Branco, Ulisses Caldas, Av. Deodoro e rua João Pessoa.
Este fato tornava o Grande Ponto um dos locais mais animados da cidade, pela convergência dos vários bares existentes: “Confeitaria Cisne”, “Casa Vesúvio” (de Maiorana), “Sorveteria e Restaurante Cruzeiro”, “O Natal Clube”, o Restaurante de Seu Gaspar, a Sede do Santa Cruz Football Club, que ficava em cima da Farmácia de Cícero, esquina com a Rua Princesa Isabel, e algumas pequenas barracas que eram armadas improvisadamente.
Eu, da sacada do meu consultório, juntamente com a minha família e alguns amigos, assistíamos, de camarote, toda essa movimentação. Sílvio Tavares, com seu constante espírito brincalhão, lançava mão das bisnagas que se usava antigamente nos consultórios odontológicos, enchia-as de água e, lá de cima, molhava os foliões que passavam nos carros fazendo o corso. Os foliões, sentados nas capotas arriadas dos carros abertos, aturdidos, não sabiam de onde vinha aquele jato d’água.
Os corsos dos carnavais de antigamente eram animados, principalmente, porque os carros favoreciam que os foliões se sentassem em suas capotas, dando ensejo que se atirasse serpentina e confete de um carro para outro, unindo os carros, numa verdadeira brincadeira carnavalesca. As luxuosas e variadas fantasias usadas pelos foliões embelezavam de uma maneira destacada o carnaval. Eram os Pierrôs, as Colombinas, os Palhaços, Chinesas, Japonesas, Índias, Marinheiros, Bailarinas, Ciganas, e uma infinidade de outras fantasias, algumas até com aspectos exóticos.
Curioso no carnaval eram as pessoas que apareciam, inesperadamente, se lançando em plena folia, a exemplo do comerciante Júlio Cézar de Andrade, um homem sóbrio, austero, ponderado, mas, às vezes, de respostas implacáveis quando se sentia insultado. Pois não é que Júlio, pai do meu amigo Dalton, num carnaval, montou o bloco da ”Manteiga Garça” (produto que ele representava), e saiu no corso, fantasiado, tentando apresentar ares carnavalescos, em cima de um caminhão, cuja ornamentação era uma enorme lata da tal manteiga, e ainda com a animação de uma orquestra de cordas, dirigida por Augusto Dourado no pandeiro?
Existiam, também, figuras que, isoladamente, pela sua irreverência, extrapolavam alegria. Era o sempre extrovertido e brincalhão Zé Herôncio, que vestido de mulher, tendo na mão um pinico cheio de salsicha, ostensivamente, com caretas como de nojo, fazia que comia o verdadeiro conteúdo que geralmente existe num pinico. E Yoyô Barros, um senhor já com certa idade, que, tocando um reco-reco, era acompanhado, espontaneamente, por um grande grupo de pessoas, cantando, insistentemente, uma canção onomatopéica: “Olha o cão, olha o cão, olha o cão do Jaraguá”.
A animação do carnaval daquele tempo deu ensejo a que as gerações seguintes seguissem a tradição dos blocos daquela época, como o “Aí Vem a Marinha” e criassem alguns outros blocos com a mesma tendência carnavalesca. Os “Kafajestes”, “Jardim da Infância”, “Puxa-saco”, “Bakulejo”, “Saca-Rolha”, “Elite”, “Ressaca” foram os blocos representativos de uma rapaziada da classe mais abastada, que faziam o corso em carros alegóricos, e costumavam, tradicionalmente, “assaltar” as casas residenciais antecipando o período momesco. Este costume dos anos 50 e 60 de assaltar uma casa, significava uma visita do bloco a uma residência, de comum acordo com o seu dono, e eram regados de muita bebida e tira-gostos, confetes e serpentinas.
E, logo depois, o tradicional local do corso mudou-se para a avenida Deodoro.
O Grande Ponto sempre foi palco de grandes acontecimentos. Durante a II Grande Guerra, começou a funcionar o “Serviço de Alto Falante”, de Luiz Romão, cujas caixas de som eram fixadas em um poste, exatamente na esquina da João Pessoa com a avenida Rio Branco, defronte ao “Café Grande Ponto”. Todos os dias, às 19 horas, o Serviço transmitia músicas, e, às 21 horas, re-transmitia o noticiário da BBC de Londres. Os freqüentadores do Grande Ponto se deslocavam para aquela esquina para ouvir as últimas notícias sobre a guerra.
Outro acontecimento da época foi o “blackout”. Durante a guerra, por um grande período, as luzes das ruas eram apagadas, ficando a cidade quase totalmente às escuras. Somente as residências tinham o direito de manter alguma luz acesa, mas com todas as vidraças cobertas com papel escuro para não passar luz.
Assim mesmo, as reuniões do Grande Ponto continuavam concorridas. Ficávamos todos conversando na penumbra, olhando, embevecidos e apreensivos, os holofotes que cruzavam o céu na busca dos aviões da esquadrilha alemã, que diziam vir bombardear Natal, por ser o ponto mais próximo de Dakar, no continente africano, onde os alemães já estavam quase dominando.
O vestuário usado tradicionalmente por toda a população da cidade era paletó e gravata, e alguns usavam chapéu, como eu, que procurava esconder a minha precoce careca. Podia ser sábado, domingo ou dia da semana, era esta a maneira de vestir. Mesmo durante o “blackout”.
Humberto Nesi não foi sempre aquela figura sisuda, circunspeta, introspectiva, como quando foi durante quase toda sua vida como Inspetor Seccional da Receita Federal. Humberto era um gozador, gostava de fazer umas estripulias, um verdadeiro “moleque”, na expressão brincalhona da palavra. Morava numa casa, ainda com seus pais, no segundo quarteirão da João Pessoa, bem perto de onde nos reuníamos. Numa noite de “blackout”, quando estávamos todos reunidos, conversando, esperando o noticiário da BBC, inesperadamente, chega Humberto, vestido somente de pijama e com chinelos. Foi um verdadeiro escândalo.
Havia casas de comércio que marcaram época, como “O Café Maia”, de Chico Azevedo, que era dirigido pelo seu filho Rossine Azevedo, nosso grande amigo. O “Café Maia”, que se especializava em moer café, era um ponto permanente de encontros do nosso grupo de amigos. Tinha a Fotografia de Namorado, fotógrafo da elite da cidade. A “Confeitaria Vesúvio” também era destaque, não só por duas mesas que existiam por trás de um grande armário cheio de bebidas, e era assiduamente freqüentada por alguns fregueses, como Joaquim Luz, Otto Júlio Marinho, Paulo Pires e outros, e sempre servidos pelo próprio proprietário, Francisco Maiorana, mas também pela presença do seu filho, Rômulo Maiorama, um rapaz metido a “dândi”, muito apreciado pelas mocinhas casadoiras. Anos depois, Rômulo foi para Belém do Pará, tornando-se um homem rico, até dono de jornal. Infelizmente, desapareceu muito cedo.
Ainda hoje permanece, no chamado pé de escada do consultório do Dr. Onofre, um senhor desta época, com mais de 80 anos, que tem o ofício de gravador. O senhor, religiosamente, pode ser encontrado neste local, todos os dias, das 8 às 18 horas, gravando medalhas, placas de metal, relógios, etc.
Assim era o Grande Ponto.
Velhos tempos. Quanta coisa a ser lembrada e relembrada num mergulho que, quase sem querer, damos no passado das nossas memórias. Quanta saudade desses dias, que, infelizmente, é inteiramente impossível, no tempo e no espaço, voltar atrás.
Grande Ponto
Luís da Câmara Cascudo
Natal, 11 de junho de 1981
Luís da Câmara Cascudo
In Grande Ponto - Antologia do Laboratório de Criatividade/UFRN - 1981
O Grande Ponto tem uma história bem diversa da que suponhamos existir. É, incontestavelmente, a situação geográfica mais popular da cidade. Localiza, fixa, delimita. Todo natalense conhece o Grande Ponto. Nada recorda o nome. Entretanto, é inegável para toda população - "Você se encontra comigo no Grande Ponto", "Vamos chegar no Grande Ponto". Contudo, o que era denominado de Grande Ponto desapareceu há mais de meio século. Era uma casa comercial, de duas portas para a Rio Branco e três para a Pedro Soares, que, depois de 30, tomou o nome de João Pessoa. Essa mercearia era de propriedade do português Custódio de Almeida, mercearia afreguesada, com algumas mesas para se tomar cerveja; no salão ao lado, dois bilhares utilizados pelos devotos dos divertimentos. Não era o lugar freqüentado por meu grupo, que, nessa época, década de 20/30, preferia o Bar Majestique, antes chamado de Potiguarânia, o grande bar da minha geração, situado na rua Ulisses Caldas, e freqüentado por jornalistas, professores, literatos. Também freqüentamos o Bar Delícia, na Praça Augusto Severo. Estes eram os dois pontos mais freqüentados em Natal, na época. A minha geração toda passou por lá: Othoniel Meneses, Jorge Fernandes, etc.; era o bar - o Majestique - da bebida, da classe média, da intelectualidade. O Grande Ponto, ao contrário, era um lugar de passagem, uma fixação puramente topográfica. Era, na geografia da cidade, ponto fixo. Grande Ponto foi denominação daquela esquina e aquela esquina se tornou imóvel e catalisadora nas memórias. Havia, porém, uma outra esquina - para quem estuda trânsito, a posição das esquinas tem uma grande função delimitadora de bairro e fixadora de local - a qual Djalma Maranhão denominou-a de "esquina do mundo", a esquina da Tavares de Lira com a rua Dr. Barata. Ele a chamou de "esquina do mundo", pois era a Ribeira o bairro socialmente mais conhecido, e a esquina o ponto, além de um dos mais conhecidos também, o de mais fácil indicação. Dizia-se: "Você se encontra comigo na esquina do mundo." Era a esquina da Tavares de Lyra.
Quanto ao Grande Ponto, eu, muito acidentalmente, passava por lá; e quando isto ocorria, bebia-se cerveja assistindo ao jogo de bilhar - aí por volta de 23, 24, 25. O português Custódio de Almeida, dono da mercearia e casado com uma filha do Capitão, mais tarde Coronel Toscano de Brito, era exatamente relacionado, simpático, grande conservador, conversava muito, sempre vestido de branco, baixo, grosso; depois de 30, mudou-se para o Recife, onde abriu uma mercearia diante do mercado São José.
Mas o nome Grande Ponto permanecia na fachada de seu edifício, que dava para a Rio Branco. E era também um grande ponto. Por ali cruzavam-se os bondes elétricos. Pela rua Pedro Soares, então João Pessoa, vinham os bondes de Tirol e Petrópolis. Pela Rio Branco, chegavam os da Ribeira e Alecrim. Cruzavam-se todos no Grande Ponto. Era o ponto de encontro. Depois de 30, ficou famoso pelos políticos, partidários, eleitorado, que se reuniam no Grande Ponto. Era o chamariz. Os comunistas tentaram pôr o nome de Praça Vermelha, em 35. Djalma Maranhão chegou a chamar-lhe Praça da Imprensa. Mas o povo defendeu sua preferência, que era Grande Ponto. E o Grande Ponto marcava a situação topográfica da cidade. Todo mundo sabia as tabelas de táxis e o pagamento de bonde da Ribeira ao Grande Ponto, do Alecrim ao Grande Ponto, de Petrópolis ao Grande Ponto, do Tirol ao Grande Ponto. Não tinha outra localização. Não se falava na casa de Ângelo Roselli, onde está, hoje, o Hotel Ducal, que era um palacete, habitado por um parente dele, deputado e um dos primeiros advogados da cidade.
Também existia, nessa época, o Natal Clube, maior centro social da cidade, situado na outra esquina. À tarde e à noite, jogo de pôquer, copas. Porém o nome que de fato subsistia era o da mercearia de Custódio de Almeida, o Grande Ponto, que ficou.
Grande Ponto. Há 50 anos não se escutava a sua história. Mas o próprio Aldo Pereira aludia à situação topográfica dizendo, "Grande Ponto", e não existe, em Natal, topônimo mais conhecido que ele, mesmo nas gerações posteriores, e que não alcançaram aquele edifício de Custódio de Almeida - cujo caixeiro, Amaro Mesquita, trouxe outro episódio emocional: caixeirinho moreno, pobre, humilde, varrendo a calçada, parava o movimento da vassoura e dizia: "Nesse lugar vai ser o meu sobrado" ou "eu farei aqui o meu sobrado". E fez. Construiu um edifício de vários andares, botando abaixo a mercearia da esquina na época, o maior sobrado de Natal, e que ainda hoje está aí. O caixeirinho Amaro Mesquita chegou a ser um grande comerciante de Natal. Mesmo o sobrado, ninguém dizia: "Você se encontra comigo em Amaro Mesquita". Os cafés, os bares já existiam na rua João Pessoa. Também ninguém se referia a eles. Só se falava: "Você se encontra comigo no Grande Ponto". E o Grande Ponto não existia mais. Contudo, era uma presença e continuação. Este é o meu depoimento.
Natal, 11 de junho de 1981
Luís da Câmara Cascudo
In Grande Ponto - Antologia do Laboratório de Criatividade/UFRN - 1981
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Bandas potiguares animarão o maior evento de Fotografia do Rio Grande do Norte
Texto: Sérgio Vilar
Foto: Canindé Soares
Coordenadores da segunda edição do “Foto Riografia do Norte” conseguiram, junto à Fundação Capitania das Artes, na manhã desta quarta-feira (27), o pagamento de cachê para duas bandas potiguares incrementarem a vasta programação montada para o evento, que acontece no IFRN Cidade Alta entre os dias 16 e 18 de outubro, durante os três turnos do dia.
Domingo tem contação de histórias no Parque das Dunas
Grupo Estação de Teatro apresenta espetáculo infantil Estação dos Contos, dia 31 às 10h no anfiteatro do Parque
O Grupo Estação de Teatro está circulando pela região Nordeste desde abril deste ano, e no próximo domingo (31/8) retorna à casa e apresenta ao público natalense o espetáculo infantil "Estação dos Contos", às 10h, no anfiteatro do Parque das Dunas. A apresentação é gratuita e a entrada no Parque custa apenas R$1,00 por pessoa.
Projeto Eco Praça deste domingo promove discussão sobre Segurança e Soberania Alimentar
Projeto propõe a ocupação e revitalização de praças públicas por meio de um evento aberto ao público e que conta com a participação da comunidade
O Projeto Eco Praça, que propõe a ocupação e revitalização das praças públicas de Natal por meio da mobilização colaborativa, chega a sua quinta edição no próximo domingo (31), das 09h às 19h, na Praça dos Eucaliptos, em Candelária. O evento é aberto ao público e nessa edição o eixo temático será Soberania Alimentar.
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
A sexta edição da Revista Grande Ponto será lançada dia 1º de setembro na Escola Doméstica
A sexta edição da Revista Grande Ponto, que vem contando fragmentos da História de Natal, e que neste número apresenta reportagens especiais sobre os 100 anos de fundação da Escola Doméstica de Natal, será lançada no dia 1º de setembro, dentro das comemorações da instituição de ensino, às 11h, na entrada principal da ED, durante a inauguração do Marco Comemorativo do Centenário.
A Escola Doméstica de Natal foi criada pelo poeta Henrique Castriciano, que no início do século passado, estando na Europa para fazer um tratamento médico, inspirou-se no modelo da École Ménagère de Fribourg, na Suíça. A partir daí buscou o apoio do governador Alberto Maranhão e fundou a ED em 1914. O sonho de instalar uma escola moderna em Natal foi concretizado.
A História da Escola Doméstica confunde-se com a da educadora Noilde Ramalho, que esteve no comando da instituição durante 65 anos. Ela foi aluna e aos 25 anos assumiu a direção da ED. Dotada de inegável liderança e criatividade, Noilde Ramalho tornou-se uma referência na educação brasileira. Ela comungava plenamente do pensamento do fundador da escola, Henrique Castriciano, pregando à necessidade do conhecimento aliado a dignidade.
Natal Club
Também no início do século passado nasceu em Natal um clube que se tornaria importante para a cidade porque era praticamente a vanguarda do entretenimento e da cultura, o Natal Club que ofereceu bailes dançantes e rodas literárias por mais de uma década. Uma interessante experiência que aliava cultura e lazer numa cidade sem muitas opções. (LS).
Alexander Hülshof realiza recital e dá aula para jovens carentes em ONG
A Escola de Música da UFRN promove neste sábado (30) recital de violoncelo com renomado violoncelista alemão Alexander Hülshoff. O artista realiza recital acompanhado do pianista Durval Cesetti às 18 horas no auditório Onofre Lopes. No repertório obras de Schumann, Bach e Gaspar Cassado. A entrada é gratuita com distribuição de senhas no local a partir das 17h. Além do recital, Alexander ministra ainda masterclass de violoncelo na quarta e quinta-feira, respectivamente às 18h e 15h na Escola de Música. No sábado, 10h da manhã, o violoncelista realiza visita a ONG Atitude e Cooperação onde ministra aula gratuita para os alunos de violoncelo da instituição.
“Comitê Gestor da Orla de Extremoz” cria Câmara Técnica
A primeira reunião será no dia 10 de setembro
O Comitê Gestor do Projeto Orla de Extremoz, presidido pela secretária de Meio Ambiente e Urbanismo do município, Isalúcia Barros Cavalcanti Maia, criou na manhã desta quarta-feira, 27, durante a 11ª Reunião Ordinária realizada nas dependências do Conselho Comunitário de Jenipabu, um Comitê Técnico paritário, para avaliar a validade dos mandatos dos representantes das instituições governamentais e das entidades representativas da sociedade civil. Ao todo 28 entidades fazem parte do comitê, mas apenas 20 indicaram representantes.
Fundação de Cultura de Extremoz realiza 2ª edição do “Agosto da Cultura”
A Prefeitura de Extremoz por meio da Fundação de Cultura Aldeia de Guajiru realizou na manha desta quarta-feira, 27, a 2ª edição do Projeto Agosto da Cultura. Este ano com o tema "Cultura popular: alicerce da cidadania", a edição tem como proposta apresentar à comunidade escolar e comunidades as diversas manifestações culturais do município e promover o intercâmbio artístico, celebrando o mês da cultura popular.
Sesap denuciará ao MPE prejuízos da manifestação do SindSaúde na Unicat
Protesto do Sindicato impediu o atendimento a cerca de 300 usuários e o abastecimento de medicamentos dos hospitais da rede pública
O manifesto realizado pelo Sindicato dos Servidores da Saúde do Estado (SindSaúde), nesta quarta-feira (27), na Unidade Central de Agentes Terapêuticos (UNICAT), impediu o atendimento da população e atrasou o abastecimento dos hospitais da região metropolitana. A atitude do Sindicato foi considerada arbitrária, abusiva e irresponsável pela gestão da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) em função dos prejuízos causados à assistência à Saúde dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
Criação de vara especializada em Direito da Saúde será discutida em Natal
A necessidade de criação de varas especializadas em processos relacionados ao direito à saúde no Rio Grande do Norte será tema de uma reunião, na tarde desta sexta-feira (29), no Tribunal de Justiça do Estado (TJRN). O advogado Raul Canal, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem) e referência nacional em direito médico e biodireito, será recebido pelo presidente do TJRN, desembargador Aderson Silvino.
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
OSRN apresenta concerto oficial de agosto com o projeto Quintas Clássicas
O projeto Quintas Clássicas, que todo mês promove apresentações de música com entrada gratuita, já está com programação pronta para a última quinta-feira de agosto (28). Evento, que tem patrocínio do Morada da Paz e da Cosern por meio da da Lei Câmara Cascudo de Incentivo a Cultura, do Governo do Estado, será realizado no Teatro Alberto Maranhão (TAM), em Natal, a partir das 20h. Programação inclui a tradicional apresentação da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte (OSRN) e participação do renomado pianista mexicano Jesús María Figueroa.
Camila Masiso é finalista do Samsung E-Festival
Cantora potiguar concorre na categoria Melhor Canção com ‘Rei do Povo’, do CD Patuá. Votação online para escolher vencedores pode ser feita até dia 05/09
Entre mais de 600 participantes de todo o Brasil, a cantora potiguar Camila Masiso foi selecionada para ser uma das cinco finalistas do Samsung E-Festival. A música “Rei do Povo”, do seu mais novo trabalho, “Patuá”, foi a escolhida para concorrer na categoria “Melhor Canção”. Agora, ela depende do voto popular para vencer o festival promovido pela empresa transnacional. Até o dia 05/09, é possível votar no site www.efestival.com.br.
Profissionais de saúde discutem curso de medicina em Assú
Profissionais da área médica participaram na noite do dia 25 da explanação sobre o projeto pedagógico para o curso de medicina em Assú e Mossoró, pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido. A apresentação, feita pelo reitor, José de Arimatea de Matos e, pela professora médica, Andrea Taborna, consultora técnica da comissão de implantação do curso de medicina na Ufersa, aconteceu no Cine de Teatro de Assú.
Últimos dias para se inscrever na oficina gratuita do Sesc Dramaturgia
“O Sagrado na Dramaturgia” recebe inscrições online até o dia 28 em Natal. Oficina também será ministrada em Mossoró e Caicó
Encerram nesta quinta-feira (28/09) as inscrições para a oficina “O Sagrado na Dramaturgia”, realizada em Natal. Gratuita, a oficina do projeto Sesc Dramaturgia oferece 24 vagas, e acontece de 28 a 30/08, das 14h às 18h, no Departamento de Artes da UFRN (DEART). As inscrições podem ser feitas no site do Sesc RN, o www.sescrn.com.br.
Discussões sobre a equidade no Sistema Único de Saúde seguem no Rio Grande do Norte
Debater as iniquidades no Sistema Único de Saúde (SUS), com esse objetivo a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) promove até sexta-feira (29) no Praiamar Hotel, em Natal, o “I SIEQuidade: Semana de capacitação para o fortalecimento da Equidade em saúde no Rio Grande do Norte”. O evento que é promovido pela Subcoordenadoria da Informação, Educação e Comunicação da Sesap, começou ontem (25) e trouxe a comunicação no SUS para ser discutida com usuários, gestores, conselheiros, profissionais de saúde, dos Direitos Humanos, Ministério Público, professores e alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Inscrições para o futsal dos Jogos dos Comerciários em Natal encerram sexta-feira
As inscrições para as demais modalidades devem ser feitas até uma semana antes da competição
Terminam nesta sexta-feira (29/08), as inscrições em Natal para as equipes de futsal dos Jogos dos Comerciários 2014, evento promovido pelo Sistema Fecomércio, realizado através do Serviço Social do Comércio do Rio Grande do Norte (Sesc RN). Os interessados devem se inscrever de 08 às 12h e das 14h às 18h30, na Central de Atendimento do Sesc Centro, localizado na Rua: Cel. Bezerra, 33. Cidade Alta.
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Ufersa entre onze vencedores do 4º Prêmio de Sustentabilidade
Onze projetos inovadores voltados ao desenvolvimento ambiental do País foram reconhecidos pelo 4º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade, no último dia 21, na sede da entidade. O Prêmio é uma realização do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), e tem por objetivo destacar e incentivar ideias que contribuam com a construção de uma sociedade mais justa e sustentável.
Jarita apresenta show “Nem, nem” no Teatro Alberto Maranhão
Nem diva, nem baranga. Nem exuberante, nem largada. Jarita é como se apresenta: autêntica e intensa. Goste quem quiser. Com 28 anos bem vividos, a personagem que encanta todas as faixas etárias pelo humor viperino e pela irreverência, volta ao cartaz no dia 30, às 20h30, no Teatro Alberto Maranhão, no show “Nem, nem”.
Esclerose Lateral Amiotrófica conta com valorosa equipe local em atuação
Por Flávio Rezende
As forças locais que trabalham no universo da Esclerose Lateral Amiotrófica vibram com o envolvimento da sociedade com a doença, o que possibilita mais recursos para novas pesquisas e emprego nos tratamentos atualmente disponíveis. Em Natal uma equipe atua no Hospital Universitário Onofre Lopes, o HUOL e, no nível nacional, os interessados em ajudar dispõem da ABRELA, a Associação Pró-Cura da ELA e o Instituto Paulo Gontijo, que trabalham com os seguintes sites: www.abrela.org.br; www.isp.org.br e www.procuraela.org.br.
DVD conta trajetória de vida e luta de Glênio Sá
Com o objetivo de revelar as graves violações de direitos humanos cometidas na repressão do regime militar no Brasil e despertar a necessidade da reconstrução da memória histórica, o Comitê Estadual pela Verdade, Memória e Justiça do Rio Grande do Norte, em parceria com o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP) e o comitê estadual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB/RN), realizam o lançamento de um DVD multimídia com a trajetória de vida e de luta do militante político Glênio Sá. O ato acontece na próxima sexta-feira, 29 de agosto, às 18h, no IFRN de Cidade Alta, e faz parte do esforço em contribuir para a compreensão do passado e das lutas e sonhos de toda uma geração que teve o seu projeto de vida interrompido pelo autoritarismo, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica.
PARTAGE NORTE SHOPPING NATAL DOARÁ ANTIGO MOBILIÁRIO DA PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO
Neste mês, o Partage Norte Shopping Natal apresenta sua nova Praça de Alimentação. O retrofit faz parte do processo de revitalização da empresa e traz mais conforto para os usuários. A ambientação da praça ficou mais agradável e aumentou sua capacidade em 18%. Diante desse fato, a administração do Partage Norte Shopping decidiu doar o antigo mobiliário às instituições sem fins lucrativos da capital e cidades próximas. Ao todo, serão doadas oitocentos e quarenta e seis (846) cadeiras e duzentos e quarenta (240) mesas.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Programação da Mostra Sesc de Arte e Cultura termina na Zona Norte
As atividades encerram a programação cultural do Sistema Fecomércio, que através do Sesc, acontece durante todo o mês de agosto
Empresário potiguar toma posse na vice-presidência da Federação Nacional das Empresas de Segurança
O presidente do Sindicato Patronal das Empresas Prestadoras de Serviços de Mão de Obra do Rio Grande do Norte (Sindprest/RN), Edmilson Pereira de Assis, tomou posse ontem na vice-presidência de Assuntos de Qualificação Profissional da Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist). A nova diretoria estará à frente da federação no período de 2014 a 2018.
Arquitetura da Arena das Dunas está em exposição nos EUA
As Arenas construídas para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 se mostraram templos do futebol mundial e hoje são atrativos turísticos procurados no estado norte-americano da Flórida. Lá, a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) montou uma exposição não só da arquitetura dessas arenas, mas também da diversidade turística e cultural das 12 cidades-sede e a influência do futebol no estilo de vida do brasileiro.
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