Conheci André da Rebeca na década de 1970. Às vezes ele ficava sentado defronte à loja dos meus pais na rua Coronel Cascudo, tocando para quem passava e meu pai sempre lhe dava alguns trocados e umas conversas. Mas André era invisível para a maioria das pessoas que passavam por ele, que era meio caladão e expunha seu desejo de receber alguma coisa pela música que tentava extrair da rebeca apenas abrindo a caixa do instrumento, para esperar alguns trocados.
Os jornais têm contado a História de Andre desde sua morte no sábado, 16. Alguns veículos afirmaram que ele morreu de tuberculose e outros por causa de um enfisema pulmonar, mas todos ressaltaram a busca do músico da calçada por tratamento em diversos hospitais públicos, até conseguir ser internado, já sem condições nem para andar.
André faz parte de uma legião de pobres que sofrem por causa da saúde pública que ao longo do tempo não consegue atender a população do Rio Grande do Norte com dignidade e o carinho que todo doente merece. O humanismo parece não ter chegado às mentes dos que gerem as unidades públicas, com algumas exceções. O Haiti é aqui.
O tocador de Rebeca era visivelmente triste e parecia viver envergonhado. Era mais do que claro que André não se sentia à vontade tocando pelas calçadas e talvez por isso não tenha conseguido amar o que fazia. Tocava mais ou menos, aliás, menos do que mais, mas era querido por não ser chato, por não incomodar. Terminou ficando invisível, até morrer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário