terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Uma madrugada sem energia

Paulo Correia
Jornalista


Esses dias, por um problema na rede de energia de Parnamirim, o bairro de Emaús, onde moro, ficou algumas horas de sua madrugada sem luz elétrica. Nesse tempo, uma situação que não é muito comum a minha rotina se estabeleceu. Todos os dias durmo com um ventilador próximo, e só consigo dormir com o som do mesmo, e isso desde muito pequeno. Nas poucas ocasiões em que faltou luz em minha residência tive que adormecer com os sons que vinham da rua. Isso sempre deixou em mim um misto de incomodo com o calor, e um fascínio com as conversas que vinham de ruas distantes.

Do latido de um vira latas, passando pelo discutir das contas do mês na casa vizinha, essas ocasiões de escuridão total despertavam uma curiosidade imensa nesse natalense besta. Com o tempo, e principalmente com o clássico “Janela Indiscreta”, de Hitchcock, é que descobri o Voyeurismo de ouvir, se é que isso existe. A palavra ideal para definir aquelas noites sem energia elétrica. Sem ver as ações, mas ouvindo pedaços dessas histórias, dessas vidas.

Na última noite sem luz no meu bairro, ouvi novamente os latidos de cachorros magricelas procurando comida nos restos de lixo espalhados nas calçadas, ouvi também um carro que passava a todo o momento em uma rua próxima a minha (criando um clima de suspense no pacato bairro), ouvi a reclamação de uma senhora sobre o calor de dezembro e a falta de velas suficientes em casa.

Nessa noite, ouvi bem longe, provavelmente em algum som de carro, um antigo sucesso da banda Mastruz com Leite. A música me fez voltar nos anos de colégio, nos tempos de festinhas e disputas nos Jern´s. Época de boas lembranças.

A luz voltou lá pelas 3 da manhã, e com isso, o último som que captei da escuridão foi o ranger da rede de dormir. Saltei mais que depressa daquela invenção dos índios e cai na minha velha cama. Fui dormir com o barulhinho bom do inseparável ventilador.

E até a próxima noite sem luz.

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