Daniel Menezes
Doutorando em Ciências Sociais
A campanha de Fátima Bezerra para prefeitura de Natal, em 2008, poderia ser descrita, sem sombra de dúvida, como a maior trapalhada eleitoral, estratégica, publicitária, de marketing e algo mais que vocês queiram incluir. Já afirmei em outro momento que não acredito que as pesquisas tenham o poder de prever o futuro. Porém, antes da eleição, as sondagens já delineavam um quadro sombrio para a atual Dep. Federal – muita rejeição, muros intransponíveis em determinadas regiões e estratos sociais e um nítido limite de crescimento. E, se o negócio já estava difícil, Fátima e sua equipe trataram de piorar ainda mais o cenário. Fátima conseguiu, ao burlar as convenções partidárias, desarticular a militância do seu partido e dos partidos coligados. Seu nome não surgiu do “clamor” das ruas e de um “trabalho” de consolidação de sua candidatura junto às lideranças do grupo político que ela pretendia liderar. Conseguiu, com isso, rachar a relação entre os partidos e as forças internas dos partidos da base. Errou quilometricamente, naquele momento, os analistas que afirmaram que existia um “excesso” de apoios. O problema não era a quantidade, mas o modo como a composição se processou. A tese do “acordão”, apesar de seu conteúdo retórico, só teve aceitação porque apontava a junção artificial e por pura adição das lideranças. Faltava liga política. Não achando pouco sua equipe de marketing promoveu uma das maiores papagaiadas televisivas das últimas eleições. Não sou especialista no assunto, mas qualquer manual de introdução de marketing político afirma que não é possível mudar a “imagem” do candidato do dia para a noite. No entanto, o publicitário de Fátima vestiu-a como uma “barbbie”, colocou a candidata ao lado de uma santa e ainda, para terminar de “torar” tudo, como dizia minha avó, tentou fazer de Fátima uma pessoa ligada ao discurso de devoção da família. Enquanto Lula mudou sua imagem durante 4 eleições, Fátima saiu do tênis e camiseta para o salto alto e terno vermelho do dia para a noite. Com a súbita transformação a líder do PT perdeu a simpatia daqueles que votavam nela pelo seu perfil de “sindicalista lutadora” e não ganhou a preferência dos eleitores mais inclinados para os aspectos que, agora, depois de toda uma imagem já formada, ela queria apresentar. A mudança não tinha a menor consistência. A eleição foi um prato cheio para Micarla. E a vitória da borboleta foi verdadeiramente legítima um retumbante massacre. Há ainda um pequeno detalhe – Fátima, com toda a sua trapalhada, conseguiu, não apenas perder a prefeitura, mas também criar uma correlação de forças totalmente favorável à vitória do grupo de Rosalba em 2010. Se a prefeitura foi um brinde. O governo do RN será o grande presente.
UM POUCO DE HISTÓRIA
É histórica a dificuldade da esquerda em aceitar o uso de pesquisas como um dos meios de compreensão do processo eleitoral. Marilena Chauí, filósofa da USP e PTista, travou um amplo debate na década de 1980, defendendo a tese da não-necessidade de fazer uso das sondagens, já que, segundo ela, a tal ferramenta era, apenas, “um meio de manipular a opinião pública”.
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