Paulo Correia
Jornalista
Depois de algum tempo esperando em minha estante para ser lido, finalmente peguei esses dias o livro “Incidente em Antares” do escritor gaúcho Erico Veríssimo. A publicação, lançada pela primeira vez em 1971, e adquirida por esse pobre leitor na sua versão de bolso, produzida pela Companhia das Letras, é um relato delicioso de nosso Brasil velho de guerra, com todas as suas belezas e todas as tramóias de nossas elites.
A obra, de mais de 480 páginas, é um caminhar pela história da fictícia cidade de Antares, localizada nos confins da região Sul do país, já na divisa entre Brasil e Argentina. Um pequeno município, que parecido com outros espalhados pelo nosso imenso território, tem as suas praças, igrejas, comércio, e uma população disposta ao trabalho e o falar da vida alheia. Cidade que é dominada há muitos anos por duas famílias que vivem em pé de guerra, os Campolargos e os Vacarianos, e que no decorrer das décadas irão presenciar importantes fatos da vida social, econômica e política do Brasil. Do fim melancólico do Império de D.Pedro II ao começo da ditadura militar dos generais de 1960.
O calhamaço de Veríssimo está dividido em duas partes, na primeira, ele discorre sobre o início do povoamento da cidade, que ainda era um pequeno lugarejo pertencente à comarca de São Borja. Lá na frente, depois de muito escrever sobre as brigas entre as duas famílias, os casos amorosos da população e o cenário em constante mudança no país, ele abre a famosa segunda parte da obra, intitulada de O Incidente. Nesse ponto, o leitor irá descobrir o caso da greve dos coveiros da cidade, e o estranho acontecimento que terá início no dia 13 de dezembro de 1963, uma sexta-feira.
Nas inúmeras páginas do livro, Erico Veríssimo faz um verdadeiro estudo de nossas fraquezas, de nossa esperteza para certos assuntos e de nossa ingenuidade e certo conservadorismo para outros. Uma estória passada no extremo sul do país, mas que conta a realidade de muitas das cidades, pequenas ou grandes, desse Brasil cheio de contrastes. Uma divertida alfinetada no politicamente correto.
Para esse que escreve, o mais interessante da ficção é o momento em que ela foi lançada no mercado editorial: bem no começo da década de 1970, no auge do governo Médice, famoso pela extrema truculência contra os críticos do regime militar.
Fica a dica de leitura: Incidente em Antares, de Erico Veríssimo.
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