sexta-feira, 30 de julho de 2010
Caricatos, mas muito reais
Paulo Correia
Jornalista
ph-correia@uol.com.br
Esses dias fui conferir nos cinemas o novo filme do diretor Guel Arraes, O Bem Amado , com o Marco Nanine interpretando o famoso personagem Odorico Paraguaçu, político corrupto e cheio de manhas com o seu eleitorado e com todos os que o cercam. A película é baseada na obra do autor Dias Gomes, que a escreveu para o teatro em 1962 e que teve grande destaque na televisão no formato de novela, em 1973, com Paulo Gracindo na pele do caricato prefeito de Sucupira, a cidade fictícia encravada no interior do
Nordeste.
No filme, os personagens circulam por uma cidade pequena, que a exemplo de tantas outras espalhadas por esse Brasil velho de guerra, dependem quase que exclusivamente dos caprichos do mandatário da ocasião. Em Sucupira, o chefe político é o famoso Odorico Paraguaçu, o Bem Amado. Sujeito que consegue se eleger prefeito depois que o antecessor é assassinado pelo pistoleiro Zeca Diabo, interpretado por José Wilker. Logo que assume o executivo municipal, Odorico pretende construir na cidade um cemitério público, já que os mortos da localidade são enterrados em um município vizinho. Para tanto, o prefeito passa a não medir verbas públicas para ver a sua grande obra faraônica inaugurada.
Depois de quase um ano da construção do cemitério, nada de mortos para serem enterrados no campo santo, e é ai que o mundo de politicagens e roubalheiras de Odorico Paraguaçu começa a ruir. Ele é acusado por dois jornalistas da cidade de esquecer outras coisas mais importantes, incluindo as
greves que pipocam em vários setores de sua administração e um filho com uma das personagens da estória.
O enredo caricato de O Bem Amado é também uma mostra real da nossa velha e atual política, cheia de tipos como o Odorico Paraguaçu, escorregadios e metidos a sabidos. Engana-se quem pensa que sujeitos
como aquele somente existem em livros e filmes, ou existiram em um Brasil de antigamente. A nossa fauna política está lotada de gente igual ou pior que Paraguaçu, e não existe ambiente melhor para observar esses nobres homens que nas carreatas e nas campanhas deste ano.
Em Brasília, em São Paulo, ou nos confins do Rio Grande do Norte, você, caro leitor, pode procurar que irá encontrar um Odorico só seu, beijando crianças e tomando uma dose de cana no boteco mais próximo.
Ô povinho!
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