Esse negócio de ser candidato não é fácil. Tem que viver rindo, feliz, como se todos os dias da campanha fossem véspera de Natal. Viver dentro de um carro a toda velocidade para poder “prestigiar” (as assessorias de imprensa adoram esse verbo) feirinhas, missas, procissões, aniversários e enterros. Enterros, bem menos, porque defunto não vota, mas tem os parentes...
Há alguns anos um político bem trajado e risonho chegou para fazer sua campanha política de reeleição em Natal. A multidão se acercou dele no Aeroporto Augusto Severo e alguém, com muita inspiração, resolveu dar uma dedada no candidato, combinado com um fotógrafo de um jornal, cujo nome não me lembrarei nem sob tortura.
Esperava-se que o candidato desse um pulo para frente e desmanchasse o sorriso com um hummmm! Mas, que nada. O pulo ele deu, o sorriso ficou, mas uma lágrima de indignação brotou discreta e silente, como convém a um político.
Outro, muito feio foi agarrar e beijar um menino que saiu em desabalada carreira gritando pela mãe. “Mamãe me acuda”. E outro, chegou a casa depois de um dia inteirinho de apertos de mão, cansado e cheirando a suvaqueira, quando encontra a esposa botando um dos filhos para dormir numa rede, cantando a música do seu adversário. No outro dia, diante dos correligionários mais próximos, confessou: “Depois de vê-la cantar a música da oposição, acho que não me reelejo mais”.
E tem aquela passagem de um deputado federal de Mossoró que foi procurado por uma eleitora que rogou:
- Seu deputado, pelo amor de Deus e de Santa Luzia vá soltar meu filho que está preso...
- O que foi que ele fez? Perguntou o político.
- Nadinha... Ela respondeu.
- Vou não. Disse o deputado.
- Por quê? Agoniou-se a mulher.
- Porque se eu for, vou ser preso. Se ele foi preso porque não fez nada, imagine eu que vou pedir para ele sair.
De lascar foi a do político paraibano, todo vestido de paletó de linho branco que entrou de casa adentro na periferia de uma cidade e correu para abraçar um menino que perambulava pela sala. Quando a mãe viu a cena, gritou:
- Seu doutor, solte ligeiro esse menino!
- O que é isso minha senhora? - Indignou-se o candidato diante de centenas de pessoas que se amontoavam nas janelas e portas daquela casa - Eu gosto de criança, minha plataforma inclui educação e merenda escolar da boa!
- Homi, solte esse menino... Implorou a mulher.
- Eu não sou bicho não, viu? A senhora me respeite! Por que a senhora quer que eu solte o seu filho? Diga ao povo. Diga! Sou bicho não!
- É somente porque ele está todo cagado...
O candidato saiu ligeiro enquanto a multidão de bajuladores seguia atrás numa distância prudente da catinga que ele exalava, com muitas moscas ao seu redor. O paletó já não era somente branco. Alternava-se de tons marrons. (LS).
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