terça-feira, 21 de junho de 2011

Adeus, Machadão


Sílvio Caldas
(jsc-2@uol.com.br)

          Está chegando a hora. O “Poema de concreto” será reduzido a escombro. Vai morrer na flor da idade – apenas 39 anos, enquanto o Coliseu de Roma resiste há mais de dois mil anos.
        O Machadão, ao tempo da sua construção, foi inaugurado sob o nome de Marechal Castelo Branco. O ano era 1972.

        O apelido “Poema de concreto” foi batizado pelo saudoso ex-governador Cortez Pereira, tendo sido ratificado pelo grande comentarista futebolístico João Saldanha, quando de sua primeira visita ao estádio.
        Realmente o projeto do meu amigo, arquiteto Moacir Gomes, pela delicadeza de suas formas, lembra um poema. Tenho certeza que comigo concordaria o poeta (e arquiteto) Joaquim Cardozo.

        É justo que a memória se recorde que o então jovem arquiteto Daniel Holanda (filho do grande construtor Joaquim Victor de Holanda) também colaborou, embora ainda jovem e iniciando sua carreira. E mais, que o cálculo que garantiu aquela beleza arquitetônica foi de outro grande, dos calculistas José Pereira e Hélio Varela de Albuquerque, este, exímio violonista.

        Em 1989 o Brasil começava a buscar novos caminhos políticos. Aproveitou-se a opinião para prestar uma justa homenagem ao grande esportista João Cláudio de Vasconcelos Machado, que emprestou seu nome ao estádio que de logo foi apelidado, e até hoje, de Machadão.

        Inicialmente o Estádio foi projeto para 42.000 espectadores, embora seu recorde de público tenha alcançado posteriormente mais de 50.000. Posteriormente, com o advento do descaso dos responsáveis por sua conservação, a capacidade de público ficou reduzida praticamente à metade. Agora, nem isso. Restará apenas a memória de tão bela obra, em função de uma futura Copa do Mundo que aqui abrigará um ou dois jogos daquele campeonato.

        Extinto o Machadão, surgirá diante da paga de milhões e milhões de reais do contribuinte uma tal de Arena das Dunas.

        Sinceramente, não sei se valerá à pena. Mas que valeu a pena a obra de Moacyr e José Pereira, ah, disso não tenhamos dúvida.

        Adeus, Machadão. Desculpe o que fizeram com você.

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