Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
É bastante natural no ser humano olhar tudo por fora. Daí a celebração às beldades da moda, do teatro, da tv, do cinema, às paisagens esfuziantes dos pontos turísticos mundo afora, às imagens globalizadas. Essa postura chega a ponto de se eleger um político porque é bonito, ou até se aceitar um determinado projeto de proporção nacional porque a embalagem é agradável aos olhos. Personalidades são aceitas e reverenciadas como verdadeiros fenômenos simplesmente pela cor dos olhos, pela tintura do cabelo, pela roupa que as encobrem e pelo dinheiro que ostentam – este, por sinal, um atributo com peso bastante considerável, não é verdade?
Dificilmente o homem se preocupa com o que está no interior da pessoa ou da imagem que tem diante de si. O homem, naturalmente, vai na onda do que vê. E o que ele vê toma conta de seus sentidos, fazendo-o perder o senso crítico na maioria das vezes. Em face do que vê, o homem faz uma análise superficial dos fatos, gerando com isso atitudes imaturas, recheadas de pura impulsividade. Em razão de ações tomadas simplesmente ao sabor do que vê, o homem gera ao seu redor situações de alto grau de constrangimento e desconforto, levando muitas pessoas a se confrontar com remorsos e prejuízos terríveis.
Esse costume irrefletido gera uma das piores chagas que acompanha a humanidade desde que o homem existe sobre a face da terra: o preconceito. O preconceito, por sua vez, nada mais é do que um conceito, uma imagem, um juízo que você emite antes de conhecer a essência daquilo que tem diante de si. São muitas as histórias, até pitorescas, de pessoas confundidas por outras ou não levadas a sério como deveriam, simplesmente pela impressão exterior que refletiam. Como um senhor muito rico que chegou numa loja de carros importados e ninguém lhe deu atenção – em razão da roupa que vestia.
Sentindo-se rejeitado, visto com preconceito, chamou energicamente um dos vendedores e perguntou pelo preço de um carro. O preconceituoso vendedor respondeu que “nem em sonho eu dou o preço deste veículo ao senhor, pois eu sei que o senhor não tem a mínima chance de comprá-lo”. Aí, bastante incomodado, o potencial consumidor insistiu mais uma vez pelo preço do carro, pois pensava seriamente em levá-lo. O vendedor, olhando para ele como se olha para uma barata, disse o valor e deu-lhe as costas. Com muita surpresa ele ouviu aquele homem dizer bem alto: “eu levo o carro à vista”. A razão de existir do preconceito se fundamente na visão do que o homem tem diante de si.
E cultivar o preconceito esteriliza uma das mais belas funções que o ser humano foi dotado a exercitar: a capacidade de se interiorizar, de procurar com afinco, interiormente, uma explicação para o que está diante dele – e que ele, racionalmente, não está sabendo decifrar. O homem não gosta de se esforçar na exploração daquilo que está lhe trazendo dúvida, receio, anseios e indagações. Antes de buscar no seu cérebro, nesse incrível arquivo do qual foi dotado, uma resposta para o que não entende, o homem decreta. Toma atitudes baseado no que a sua visão transmitiu para a sua mente, sem requerer, sem exigir dela uma solução mais aprofundada. De onde vem essa indolência cerebral? Esse desejo de simplificar a tomada de decisões, mesmo sabendo que tem à sua disposição, para lhe fornecer uma gama maior de alternativas, uma arma poderosíssima – o seu cérebro?
A predominância no decidir em razão do que vê, ao invés de buscar consolidar atitudes, racionalmente, pelo que não consegue enxergar, tem destruído relacionamentos, projetos, sonhos e ambições. O preconceito tem levado de roldão para o ralo muitas iniciativas que, frutificando, teriam se tornado obras interessantes. Está na hora de você exercitar sua mente para vencer esses desafios. Quando uma situação ou alguém lhe desagradar em função do que você está vendo, dê uma parada. Pesquise, observe, analise – e puxe do seu interior uma resposta mais substancial. Vença o preconceito pela utilização do desejo de ultrapassar esse desafio. Sua estrutura interior tem soluções que você nem sonha e que se manifestarão através de sentimentos, até então, totalmente desconhecidos para você. E aí, vamos nos interiorizar?
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