terça-feira, 25 de outubro de 2011

VIA PRAÇA

Públio José – jornalista
publiojose@gmail.com 
 
                        Natal é uma cidade sem praças. Você duvida? Em todas as cidades do mundo com sistema de transporte coletivo, o letreiro colocado na parte frontal superior dos ônibus, informando o roteiro dos bairros, dos logradouros, das principais avenidas e praças, dá uma ideia bem nítida da geografia, da cultura, da toponímia, das características, enfim, de cada lugar. Num ônibus do Rio de Janeiro, por exemplo, o letreiro informa “Botafogo – Centro – Via Praça Mauá”. Em Recife o informe diria “Boa Viagem – Casa Amarela – Via Praça 13 de Maio”. Em Salvador “Aclamação – Rio Vermelho – Via Praça Castro Alves”. E por aí vai, numa interessante combinação de nomes (alguns belíssimos, outros nem tanto), de personagens importantes no contexto local, de acidentes geográficos os mais diversos, de santos e até de eventos do calendário político, cívico, social e cultural de cada lugar.
                        Note-se que em todas as cidades, sem exceção, a colocação dos nomes de suas praças no roteiro dos coletivos sempre vem acompanhada de sua respectiva nominação. No Rio – Praça Mauá; em Fortaleza – Praça do Ferreira; em Salvador – Praça Castro Alves; e assim por diante. Essa programação nos coletivos passa uma idéia bem precisa da existência de um bom número das praças de cada cidade. Tanto é assim que é preciso citar o nome da praça no letreiro dos ônibus para não ocorrer dificuldade de identificação para o usuário do coletivo. Já em Natal o letreiro dos ônibus informa simplesmente (num exemplo) “Candelária – Ribeira – Via Praça”. Sacou? Não nomeia a praça, simplesmente porque, por aqui, não existem praças em número suficiente que justifique colocar-se o nome delas no informe dos coletivos. Não havendo praças também deixa de existir uma cultura relacionada a elas.
                        Não ocorre por aqui um devaneio em torno de uma praça, como fez Carlos Imperial em sua famosa música “A Praça”. Dizia o compositor: “a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores o mesmo jardim. Tudo é igual, mas estou triste porque não tenho você perto de mim”. Na música de Imperial há um anseio, um lamento, um desabafo porque a praça está lá, do mesmo jeito, com as mesmas flores. A falta, o diferente na vida do poeta é que a amada não está mais lá – na praça de suas lembranças, na praça de seus encontros com aquela que embalou seus sonhos num tempo que não volta mais. Mas a praça continua lá, com os mesmos bancos, as mesmas flores, o mesmo jardim. Já em Natal não há quem cante assim – pois em Natal não há praças. Esta ausência, esta lacuna na vida do natalense ensejou uma falta de cultura da praça, uma inexistência de hábitos e atividades a ela ligados.
                        Nem nossos poetas cantam nossas praças. Esse vácuo urbano culmina com a citação que se faz no letreiro dos coletivos. Assim, por exemplo: “Cidade da Esperança – Rocas – Via Praça”. E que praça é essa, afinal, solitária e altaneira, a testemunhar, no letreiro dos coletivos, que ainda existe pelo menos uma praça em Natal? Todos sabem. Praça Cívica é seu nome. Assim designada ao tempo do regime militar, porém historicamente conhecida por Praça Pedro Velho. Atualmente, além de tentar permanecer com o nome do velho político que introduziu o regime republicano em nossa seara, a Praça Cívica também detém a responsabilidade de permanecer firme na condição de única praça de Natal. Outras existem? Com certeza que sim. Mas, de tão abandonadas, se viram, através dos tempos, desmerecidas de ostentarem tal nome. Somente a Praça Cívica mantém o título. Ainda. Não se sabe até quando.           

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