(publiojose@gmail.com)
Natal hoje é uma cidade cujo porte já envolve números que impressionam. Alguns até assustam. Quando, por exemplo, falamos do número de analfabetos em Natal, da ordem de cem mil, muitas pessoas nem querem acreditar. Mas é a pura realidade. Pelas mesmas estatísticas, outra questão cruel se apresenta: Natal conta atualmente com um contingente superior a dez mil surdos. São pessoas aparentemente normais, que transitam naturalmente pela cidade, passam diante de você, e nem são percebidos. Pelos dados do IBGE a população brasileira é constituída de 1,3% de pessoas portadoras dessa deficiência. Trazendo tais números para Natal (1,3% de 800 mil habitantes) teremos, então, a dolorosa conclusão de que, da população natalense, em torno de dez mil pessoas, ou mais do que isso, são surdas. A existência desse número não é tanto a questão. O problema é se constatar que nada está sendo feito em seu benefício.
Acreditamos até que esse percentual de 1,3% tenha abrangência universal, o que colocaria o Brasil, e Natal em particular, numa faixa perfeitamente normal de incidência do mal. O que queremos levantar aqui é a inexistência de uma política de inserção dessas pessoas na vida comunitária, no mercado de trabalho, tirando-as da situação de cidadãos de segunda classe para uma vida realmente digna. No plano familiar, se observarmos bem, não são encontradas as condições necessárias para o desenvolvimento social e profissional dessas pessoas. E se a comunidade e o poder público não oferecem essas condições, onde os surdos irão procurar e encontrar a saída para uma vida que lhes traga menos percalços e um patamar, pelo menos razoável, de realização pessoal? Ao governo cabe essa preocupação e a adoção de um planejamento sério, objetivo, eficaz em benefício desse segmento populacional.
Por outro lado, com a tecnologia de hoje, não é tão difícil capacitar os surdos no sentido de uma atividade profissional adaptada às suas condições específicas. A questão é que o nosso surdo, além de analfabeto em seu próprio idioma, é incapacitado – pela sua própria condição social e pela inexistência de políticas públicas – para assumir compromissos e desafios que são perfeitamente normais às demais pessoas. Imaginemos, por exemplo, o acesso ao computador. Se, ainda hoje, trata-se de uma atividade complicada para grandes parcelas da população dita normal, quanto mais para quem mal consegue decifrar os sinais de trânsito! Enquanto isso, os surdos, muitos dos quais com índices de inteligência bastante altos, ou no mínimo com índices medianos, perambulam pela vida sem enxergar nenhum horizonte. E nem antevendo, da parte do poder público, nenhuma providência que lhes tire da condição de sub-raça.
Pensamos de maneira diferente. Pensamos que é possível – e salutar para toda a sociedade – a transformação dos surdos de párias em agentes produtivos, pessoas que possam, juntamente com as demais, contribuir para o desenvolvimento e a manutenção de um estado de circulação de riqueza e de paz social. Para tanto, idealizamos a criação do “Centro de Atendimento e Convivência de Pessoas com Necessidades Especiais”, um complexo com avançada tecnologia, voltado para a alfabetização, capacitação profissional e socialização de surdos, mudos e até de pessoas com outros tipos de carências, tendo em vista não existir em Natal nenhuma estrutura destinada ao atendimento médico, psiquiátrico, didático, odontológico e social a essas pessoas. É mais uma contribuição, de nossa parte, ao enriquecimento do debate político. E a certeza de que o estado de bem estar social tão do desejo de todos, passa, obrigatoriamente, pela inclusão, ao sistema de geração de riquezas, dos segmentos carentes, desprotegidos e marginalizados. Você concorda?
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