Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)
A repercussão sobre a morte de Jesus Cristo atravessa os séculos até os dias de hoje. Durante esse tempo, inúmeros aspectos do episódio do Gólgota foram analisados e obras em profusão abordaram o tema. Agora, com o filme de Mel Gibson, e com as facilidades de comunicação do mundo de hoje, coloca-se o sacrifício de Jesus na ordem do dia. Discute-se muito sobre o assunto. Quem foi realmente o responsável pela sua morte; se a sua roupa era de uma cor ou de outra; se o madeiro que carregou às costas era já em forma de cruz ou se era só o travessão horizontal; se a Maria que estava a seus pés era a Madalena ou não; se isso, se aquilo, se aquilo outro. No filme de Gibson o epicentro da discussão gira em torno do nível de tortura a que Jesus foi submetido, com realce todo especial para as cenas de violência. De tanto ver o sangue de Jesus na tela, as pessoas saem do filme chocadas – e mais distantes ainda do real significado do seu gesto.
A obra de Gibson peca não pelo que mostra, mas pelo que não mostra. O grande artista que Mel Gibson é, sem sombra de dúvidas, está fora de cogitação. O filme é realmente um grande feito. Inclusive do ponto de vista promocional e financeiro. O problema, no que diz respeito ao propósito da evangelização, é que o espetáculo leva as pessoas a apenas se emocionarem diante de Jesus, pelos excessos de violência praticados contra Ele. E Jesus não precisa da nossa peninha para se afirmar como o Filho de Deus e Salvador da humanidade. O lamentável, diante de toda a celeuma criada em torno do filme, é que ninguém está discutindo a essência do discurso que Jesus proferiu na cruz. Por acaso, alguém está perdendo tempo em analisar o que Ele falou? Vivendo dores lancinantes na cruz, Cristo falou coisas extraordinárias que a névoa do emocionalismo, da religiosidade, da espetaculosidade nos impede de enxergar.
Um dos primeiros temas tratados por Jesus na cruz foi o perdão. No madeiro, traspassado por dores físicas, morais e espirituais, Ele clamou em alta voz: “Pai perdoa; eles não sabem o que fazem”. Que momento impróprio, diante da gravidade do seu sofrimento físico, para interceder a Deus pela nossa falta de visão, pela nossa inconseqüência! Com esse gesto, Jesus deixou bem clara a função primordial do perdão no conceito de Deus. Segundo Jesus não importa o tamanho da injustiça, a dimensão da dor, a gravidade da desfeita que contra nós cometeram. Se nós temos realmente o coração e a mente em Cristo a resposta será dada, contra qualquer tipo de agressão, em forma de perdão. E este é um dos maiores problemas que o homem enfrenta desde os tempos mais remotos até os dias atuais. A falta de perdão tem originado conseqüências tremendamente desastrosas na vida de pessoas, de comunidades inteiras e até de nações.
Outro grande momento do testemunho de Jesus na cruz foi o da manutenção da comunhão com Deus. Já vivendo seus últimos instantes, ainda encontrou tempo e forças para afirmar: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Entrega total, fidelidade suprema, aliança levada às últimas conseqüências, apesar das dores, da injustiça, das traições. De início, seu gesto já nos remete a uma grande reflexão: como anda a nossa comunhão com Deus? Que prioridade temos dado à vontade de Deus em nossas vidas? Que espaço temos reservado para a sua Palavra no nosso dia a dia? Além do mais, o que temos praticado dos ensinamentos que Ele nos enviou no âmbito pessoal, na área de influência da família, da vida profissional e no viver em comunidade? Como se vê, a grande questão a se constatar é se da mensagem da cruz estamos tirando algum proveito ou se o sacrifício de Jesus nos foi inútil.
Finalmente, um último olhar sobre a cruz nos coloca diante da salvação. Ao lado de Jesus um homem também fora crucificado. Da forma mais absurda, ele se volta para Jesus e diz “Mestre, quando chegares ao teu reino te lembra de mim”. Interessante! Jesus não lhe fizera nenhum discurso. Entretanto, ele visualiza em Jesus um proprietário de um reino celestial! E esquecendo-se de suas dores, deixando para trás uma vida de inutilidades, se volta para Jesus na busca de um destino melhor, de uma perspectiva de vida diferente. Jesus, com muito amor, olha para aquele bandido e consuma a sua grande obra: a salvação de um proscrito, de um homem totalmente rejeitado pela sociedade. “Filho, ainda hoje estarás comigo no paraíso”. Percebeu? Quando nos voltamos para Jesus, a salvação nos é garantida, qualquer que seja a circunstância. Perdão, comunhão, salvação – eis a verdadeira mensagem da cruz. Vamos à prática?
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