Menino, me lembrei por um momento do tempo em que chegávamos em casa vindo da casa da namorada, ou mesmo dos corriqueiros passeios noturnos, à pé mesmo, pelo bairro; geralmente acompanhado de um ou dois amigos.
Ainda havia pessoas sentadas em cadeiras, tamboretes e até mesmo na calçada nua e crua, como se dizia; há uma aura nostálgica, e em minha mente passa como se fosse um filme em preto e branco.
Naquela época tudo era mais valorizado, uma camisa nova, um perfume ou um tênis, tinham um valor e uma importância tão grandes que eram motivos de cobiça entre irmãos e ate é mesmo dos amigos, os quais não raramente pediam emprestados (às vezes emprestado para sempre), para fazer uma presença a um "affair" qualquer.
Pois bem, como eu ia dizendo, ao chegar a nossa casa, a fome era grande e em uma casa onde eram servidas todos os dias, refeições para vinte e tantas pessoas, não era fácil encontrar comida pronta às altas horas da noite.
Então era hora de fazer um pequeno assalto a geladeira e a dispensa, normalmente ligávamos a TV e um de nós ia fazer uma pesquisa alimentícia, se não encontrássemos ovos, tudo bem, tendo feijão já era o suficiente, como dizia Tio Naquinho.
Era só picar umas cebolas e fritá-las em uma frigideira com manteiga e quando começavam a ficar douradas era hora de adicionar o feijão, não esquecendo de um pouco de farinha e toda sorte de temperos disponíveis na cozinha. E esse groló foi batizado “Mutreta”; obviamente que tudo isso era regado a suco de manga, jenipapo ou qualquer outra fruta do nosso farto pomar do quintal.
E quer saber?
Ficava realmente com gosto de ovos, até o efeito era real, pois numa casa com tantas pessoas, era comum dormir até cinco de nós em beliches e dá pra imaginar o que essa comida produzia, tanto no aspecto sonoro quanto no olfativo.
Ah! E nada disso afetava nossa saúde, aos quinze, dezoito anos, éramos de FERRO.
Bons tempos.
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