Jornalista e escritor
Aos 58 anos chego cético às festas natalinas. Nada que perturbe minha fé em Jesus Cristo, mas chego cético porque enquanto criança vivia o Natal como um momento mágico. Lembro-me que aos seis anos, quando nossa família morava na Rua Manoel Dantas, em Petrópolis, numa manhã de Natal, curtindo os meus brinquedos, frutos da visita de Papai Noel – eu ainda acreditava, conversei com um menino que chegou com olhar pidão no nosso portão.
- O que você ganhou de Papai Noel? Perguntei.
- Nada... Disse o garoto, com olhar triste, fixamente mirando o meu principal presente: um de Jeep de plástico vermelho, enorme, que acendia até as luzes.
Depois que o menino foi embora inquiri papai e mamãe sobre o fato daquele pobre garoto não ter tido a visita do “bom” velhinho. Papai e mamãe me enrolaram e nunca deram uma resposta satisfatória. Esse fato nunca saiu da minha cabeça e aos poucos fui percebendo que o bom velhinho era mesmo uma conta bancária com saldo suficiente para comprar presentes.
Fui crescendo e percebendo que o relacionamento das pessoas deveria ser como nas vésperas de Natal. Escrevi sobre isso até ficar completamente decepcionado com a realidade de que todo mundo é bonzinho, perdoa, é perdoado e deseja tudo de bom apenas na festa que antecede a data de nascimento de Jesus. O restante dos dias não condiz com a inegável presença de
Cristo Salvador em nossas vidas.
Ao longo dos anos tenho participado de festas natalinas. As mesmas comidas, crianças que ainda acreditam em Papai Noel, espumantes e muita gente que eu somente vejo uma vez por ano. Tudo igual. Abraços, promessas, “a gente se vê” e por aí vai. E, no outro dia, durante o almoça com as regalias do “resto de ontem”, fico a imaginar, na outra semana a festa do Ano Novo. E haja promessas!
No dia 02 de janeiro tudo volta a ser como antes e somente no final do ano vou voltar a me confraternizar, novamente, com pessoas que nunca vejo, exceto meus amores cotidianos.
Uma promessa eu cumpri: não como panetone de jeito nenhum!
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