Minervino Wanderley
Jornalista
Quando nasci, meu pai, ansioso, perguntou ao médico:
- É macho?
O doutor, coitado, não pôde responder na hora. Primeiro ele queria saber o que era aquilo. Depois de muito analisar, disse:
- Acredito que sim, seu Emílio.
E assim foi o meu, digamos, nascimento.
Quando as visitas chegavam, minha mãe pegava aquele troço magro, seco, parecendo uma lambisgóia e perguntava às amigas:
- Ele não é uma gracinha?
As senhoras, muito educadas, olhavam-se e, com o mesmo pensamento (que bicho feio danado!), concordavam. Afinal, elas se queriam muito bem, embora, ao saírem da Maternidade Januário Cicco, conversassem entre si:
- Até agora eu não sei quando o menino tá de costas ou de frente! - Dizia uma.
- De que será que ele se alimenta? - Perguntava outra. E tome gargalhadas.
O tempo passou e a coisa nada de melhorar. Começava pelo nome: Minervino. Isso não é um nome, isso é marca de remédio, me disseram uma vez. E eu calado. Também, o que é que eu ia dizer? Eu mesmo me olhava no espelho e pensava:
- Valha-me Deus, tô lascado. Qual vai ser a mulher que vai querer um xamego com cara feio desses? Só me restava fazer promessas. E não era para um santo só, não. Era para TODOS OS SANTOS.
Mas, como toda promessa que se faz com fé se alcança, um dia, já tinha uns 15, 16 anos, quando aconteceu o fenômeno Ojuara, aquele herói que nos foi apresentado por Nei Leandro. Eu tava na fila do cinema Rex, quando um engraçadinho disse:
- Ei, galera, tem um ET aqui fora. - E isso na frente das meninas, que deram aquele risinho de canto de boca. Foi a última coisa que o engraçadinho falou na sua vida, tamanha foi a porrada que lhe dei pegando boca, queixo e nariz. A última notícia que tive dele, foi que ele estava procurando emprego num circo.
Pois bem, desse dia em diante, os meninos passaram a me respeitar, transei com as filhas das amigas de mamãe que riram de mim, e ainda fui chamado para trabalhar numa peça no Colégio Marista. Tá legal, não era uma grande peça, mas já era um progresso descomunal.
Comecei, também, a explorar alguns dotes que vieram com a força das promessas. E que dotes! Basta dizer que quando fui fazer a operação de fimose, a pele que sobrou serviu pra duas empanadas de circo, deu pra fazer 12 surdos, 16 pandeiros e 30 tamborins pra a Malandros do Samba, sem contar com dois tamancos, um pra Diva Cunha e outro pra Valéria Queiroz.
Hoje, minha vida é essa que vocês conhecem: um sucesso! Dinheiro não falta, já que são incontáveis os convites para peças publicitárias. Mulheres, só tô pegando morena de olhos azuis, que é pra variar um pouco.
Sei não. Às vezes me dá vontade de ser um cara comum, tipo um Ronaldinho ou um Chico Buarque. Queria um pouco de sossego, passear pelas ruas, ir nas boates, essas coisas que qualquer cidadão comum faz. Mas, fazer o quê? Foi assim que Ele quis e tenho que seguir essa sina até encontrar uma companheira do meu tope. Com fé eu vou conseguir!
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