segunda-feira, 27 de setembro de 2010

NASCEU PARA LUTAR

Marcus Aranha nunca admitiu recuar em uma luta


LUCIANA ARANHA

Hoje o leitor deste espaço com certeza notará a diferença de estilo literário. Não há porque esconder ou não lembrar aos leitores de Marcus Aranha que ele luta contra o câncer há alguns anos, até porque ele mesmo, com total desprendimento, já tornou pública sua luta.

Luta, palavra que cabe e combina bem com este homem. Lutou a vida inteira, e, até onde tenho conhecimento, venceu todas as batalhas. Começou aos 14 anos na padaria do Tio Waldemar. Com uma bacia contendo água e açúcar, dava lustre em pão doce. Foi também ali onde adquiriu sua primeira vitória: foi promovido a caixa da padaria, para seu orgulho de rapazote. A partir daí, só cresceu, lutando para concluir os estudos, lutando para entrar na Faculdade de Medicina e se tornar médico. Médico reconhecido e renomado na Paraíba, vitorioso na profissão e líder de sucesso em tantas instituições, como INAMPS, Instituto Cândida Vargas, Maternidade Frei Damião, GEAP, dentre outras. Por sua competência e honestidade, deixou admiradores e amigos por onde passou.

Passei minha infância e adolescência vendo este homem lutar, lutar dando a vida a muitos, lutar por reerguer instituições, pela saúde das pessoas, pela saúde da Paraíba, e até estar um pouco ausente da família para lutar pelos que mal conhecia. Cresci vendo Marcus Aranha ajudar e lutar direta ou indiretamente pelo próximo.

E lutar sempre com muita paixão. Recentemente ouvi, contado por uma médica renomada, o depoimento de que Marcus costumava passear durante as madrugadas pelas casas de saúde sob sua responsabilidade. Segundo ela, um exemplo raro.

Um homem apaixonado por tudo o que realiza. No início de sua carreira, quando trabalhava na perícia médica do INAMPS, um colega mais experiente o aconselhou a andar armado, para se proteger dos falsos doentes. Ele, intenso nas suas paixões, seguiu o conselho, convertendo-o em uma biblioteca sobre armas, em um estande de tiros no seu sítio e em uma coleção de armas antigas que enfeitavam as paredes de nossa casa.

Ele nunca admitiu recuar em uma luta, e hoje luta por si mesmo com uma garra que continua orgulhando e surpreendendo aos que lhe cercam. Dizem que o apogeu da inteligência de um homem chega quando ele é capaz de rir de si mesmo e de suas desgraças. Se for assim, ele está entre eles.

Mesmo com tanto sofrimento que o tratamento do câncer provoca, houve quem já dissesse que, se fôssemos visitá-lo e ouvir seus comentários sobre a luta contra doença, ao final estaríamos todos morrendo de rir com o espírito de Marcus. Eu mesma fui testemunha de vê-lo sofrer de uma tremenda falta de apetite, sem comer há três dias, olhar para um pão com um ar de riso e dizer: “Estou morrendo de raiva deste pão, então vou comê-lo. Você não quer entrar, mas vou comê-lo todinho”. Depois do pão, ele contou a piada do estudante de Medicina que, preocupado, disse ao colega que achava que estava com anorexia, porque não comia ninguém há dois meses.

Também ouvi comentários sobre suas taxas sanguíneas, que lhe preocupam tanto. Seu médico havia lhe informado, muito preocupado, que sua Ferritina (nível de ferro no sangue) estava alta. Ele, espirituoso, respondeu que também se preocupava, pois mora no Seixas, em frente ao mar, e, com tanto ferro no sangue, levando aquela maresia, iria enferrujar. São tantas tiradas de humor, que seria impossível contá-las aqui.

Pois é... Queria que neste domingo além dos leitores habituais deste espaço, Marcus Aranha também o fosse. Ele que já escreveu sobre tantos temas e tanta gente. Aposentado do trabalho diário e das grandes instituições, não se aposentou de lutar, e continua nos orgulhando por sua força. Pai, nos orgulhamos muito de você...

Publicado em o Correio da Paraiba de 28 de setembro de 2010.

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