(publiojose@gmail.com)
Os tempos antigos nos encantam com a história de um homem que deu uma demonstração impressionante de lucidez num momento tempestuoso da vida de um povo. Os tempos eram de escuridão. Principalmente na mente dos homens, das elites, dos cabeças pensantes. Escuridão de idéias, escuridão nos costumes, nas práticas políticas, econômicas, sociais e familiares. A bagunça imperava nesse período. Apesar disso, as elites não relaxavam no que elas sabem fazer muito bem: levar vantagem. Os ricos ficavam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, enquanto honestidade e outros nobres atributos eram mercadoria rara. O chique nessa época era ser sabido, perspicaz. (Por acaso, alguma semelhança em tal cenário com os dias de hoje?) Homem de princípios, e sabedor de que não se pode oprimir os menos favorecidos eternamente, ele pensava. Onde estava a solução? Como contribuir para mudar as coisas?
O terremoto social se aproximava das elites, porém elas não estavam nem aí. Como alertar aquelas lideranças desmioladas de que não se brinca com a dor coletiva de um povo? A quem recorrer? Com quem interagir na busca de um projeto que contemplasse a todos com o fruto das riquezas do trabalho coletivo? Recolhido ao seu espaço doméstico, indagava, preocupado, até onde aquela situação subsistiria. Em qual momento sobreviria o caos, o choque ensandecido das massas sofredoras com as elites alheias aos problemas que estavam criando. De quem estamos falando? Diógenes era seu nome. Rabugento, circunspecto, grego de Atenas, discípulo de Antístenes - o fundador da Escola dos Cínicos – viveu em 437 a 375 a.C. Era amante da natureza e um desprendido em termos materiais. Desprezava as riquezas e as convenções sociais. Sua visão de vida era libertar-se dos desejos e reduzir as necessidades ao mínimo.
Tudo leva a crer, pelo seu pensar, pela engenharia interior que formava seu caráter, pela sua constituição intelectual, que era um homem profundamente preocupado com os anseios dos menos favorecidos. Um escultor, enfim, da virtude, da decência, da moralidade. Certo dia, diante de um turbilhão de sentimentos, e num ápice de intensa reflexão, saiu pelas ruas de Atenas, em plena luz do dia, com uma lanterna na mão. Acesa! Ação fulminante. As raposas, as dondocas, os dândis, os sanguessugas ficaram estupefatos. Um homem sábio, íntegro, com uma lanterna acesa na mão – em plena luz do dia! Estaria louco? A resposta, de uma lógica chocante, veio depois de muita indagação, depois de ter espicaçado a curiosidade, principalmente, dos poderosos: “Estou à procura de um homem honesto”. Recado transmitido, missão cumprida, recolheu-se satisfeito. Estou me utilizando da história de Diógenes para me reportar ao que se passa em nosso país.
Os costumes, os hábitos, as práticas de nossas lideranças precisam de um choque de moralidade. Precisamos urgentemente de uma nova lanterna, de um novo Diógenes que invada as mentes dos homens levando a luz da racionalidade, das decisões em benefício do povo. A lanterna de Diógenes precisa iluminar os espaços legislativos, governamentais, jurídicos, para clamar em favor dos pobres. A estrutura interior das nossas lideranças precisa passar por uma reciclagem, por uma nova onda de lucidez. Porque, atualmente, o que vemos? Falta de pudor público, exame superficial das questões sociais, desvios de verbas públicas, cinismo coletivo, crimes de toda ordem. Meu Deus, onde vamos parar? Estamos todos perplexos com o cenário atual, no qual a grande maioria dos agentes públicos está crucificando as instituições – simplesmente para levar vantagem. Onde estará Diógenes? Onde guardou sua lanterna? Dióóóógeeeneeesss!
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