O social como caminho para o aprimoramento pessoal
Flávio Rezende
escritorflaviorezende@gmail.com
Trilhar o caminho do bem como popularmente tenho ouvido não é propriamente uma decisão pessoal, como o é a escolha da profissão, da esposa e algumas outras decisões na vida. Comigo pelo menos, não foi assim, as coisas foram acontecendo naturalmente e uma foi levando a outra.
Decidi dedicar meu escrito de hoje a este tema, pelo fato de ter comemorado recentemente 51 anos de vida, 20 de trabalhos sociais no bairro de Mãe Luiza e na cidade do Natal, 7 anos de fundação da ONG Casa do Bem e 2 anos da construção da sede própria.
Confesso a meus poucos e carinhosos leitores, aos quais aproveito para agradecer comentários sempre tão gentis, que desde cedo aprecio ajudar o próximo, foi assim compartilhando bananas, pães e biscoitos quando pequeno, avançou na época do ginasial e científico quando levava flanelinhas para tomar chocolate de Gramado comigo e foi sendo cristalizado na Pipa quando defendia intransigentemente uma melhor remuneração para Dona Maurina, que cozinhava para nós surfistas na praia da Pipa, no tempo em que só tinham casas de pescadores.
Depois veio Mãe Luiza, lugar que decidi morar, causando apreensão em todos os amigos e familiares, dado os altos índices de violência e de pobreza do bairro. A partir dali as coisas foram acelerando e, caminhando por entre ruas e vielas, fui conhecendo a triste realidade dos mais necessitados, não negando transporte, ajuda material e um ombro amigo, a tantos quantos foram surgindo.
De ajudas pontuais parti para projetos, dando início a uma pequena escolinha de futebol, fazendo parceria com o coral de Cristina Nagahama e os surfistas de Ventura, começamos ainda um balé na garagem lá de casa com Gleydson e, as coisas foram indo, indo, até que pensei em ter um espaço próprio, uma vez que a minha casa e os demais pontos que estávamos ocupando já não davam vencimento.
Surgiu então à ideia da Casa do Bem e o projeto tomou forma com a doação do terreno por parte do empresário Ricardo Barros. Depois de muitas e muitas lutas obtiveapoio das empresas Petrobras e Cosern, sob a Lei Câmara Cascudo de incentivo a cultura do Governo do Estado e, surgiu à Casa do Bem, bonita, grande, operante e positiva.
De lá para cá muitos projetos surgiram e muitos outros rolam. Tudo que pensei realmente aconteceu, às vezes fico pensando em como foi possível diante da grandiosidade da coisa e da necessidade da remoção de tantos obstáculos, mas, é real, existe e tem feito bem a muita gente.
No processo pelo qual estou passando aprendo muitas coisas. No começo confesso que ficava muito triste e decepcionado. Realizava coisas que julgo grandiosas, eventos fantásticos, nunca conseguia levar um amigo ao menos, daqueles que compartilhavam comigo mesa de bar, agitos da night. Ainda hoje sinto a falta deles e de alguns familiares, me sinto verdadeiramente só. Cheguei algumas vezes a escrever sobre isso, depois fui percebendo que as coisas são assim mesmo, se os que eram mais próximos estão distantes, outros que eram distantes se aproximaram e ganhei novos amigos.Hoje estou mais concentrado em tornar possível a continuidade das ações, ainda sinto tristeza vendo tantos que conheço gastando rios de dinheiro em almoços, vinhos, drogas, viagens, roupas e, não colaboram com dez reais por mês com a Casa do Bem. Faço campanhas sugerindo que as pessoas depositem pequenos valores, olho a conta e não encontro o reconhecimento lá. Esse reconhecimento é muito teórico, filosófico, todos elogiam, dizem coisas lindas, mas preciso de algo mais para poder não pensar tanto em problemas. Temos necessidades diversas e, se estes muitos e muitos amigos e familiares pudessem compreender que um pequeno gesto de depositar mensalmente tem um grande poder de tornar tudo mais fácil, estaria em situação mais tranquila.
Esse é o aprendizado, fazer, entregar o fruto das ações a divindade, não misturar as ações humanitárias com política e nem com religião, torcer para que os amigos materialistas possam compreender que preciso deles, pois não sou milionário e, tocar o barco com o mínimo possível de mágoas e o máximo possível de alegria.
Sou conhecido pelo alto astral, pela energia positiva, esse é meu maior legado, realmente sou feliz, gosto de ajudar, me sinto bem, tenho muita energia para isso e, como disse no começo, nunca planejei nada, as coisas foram acontecendo, podia hoje estar levando uma vida totalmente egoísta, só pensando em meu umbigo, mas, acredito estar no caminho certo e, ainda espero comemorar um dia, a adesão dos mais próximos, potencializando assim as ações e amplificando seu poder de incluir mais e mais pessoas neste maravilhoso círculo do bem.
Grato a todos que ajudam e vamos juntos vivenciar a frase do educador Sathya Sai Baba, "amar a todos, servir a todos".
Flávio Rezende é escritor, jornalista e ativista social em Natal.
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